As duas primeiras fotos tirei-as, há um mês, em Monte Gordo, no edifício da Junta de Freguesia. Constituem dois testemunhos interessantes sobre o modus vivendi político no século passado. A Dictadura Nacional correspondeu, mais ou menos, ao período que mediou entre a Revolução de 28 de Maio de 1926 e a promulgação da Constituição fascista de 1933. Em Nisa, o período da Dictadura, teve como principal personagem o Tenente António Falcão. Um período com fome, miséria, elevado desemprego e também com obras, algumas que ficaram até, como referência da vila e que mereceram, inclusive, a visita oficial - a primeira no século passado de um Chefe de Estado a Nisa - do Presidente da República, o Marechal Carmona.
O magnífico painel de azulejos, de que não consegui obter a data de instalação, refere-se à Implantação da República em 5 de Outubro de 1910. Comemoram-se, hoje, 105 anos.
A data, no tempo do designado Estado Novo era pretexto para festejos e comemorações entre os oposicionistas a Salazar e à Ditadura que ele corporizava, manifestações de alegria, evocação e júbilo, sempre prontamente reprimidas com o argumento de que não eram "permitidos ajuntamentos", surgindo logo, da parte das forças repressivas (GNR e PSP) o famoso "toca a circular!".
Os portugueses foram "circulando", morrendo nas colónias ou emigrando para França até que chegou a manhã libertadora do 25 de Abril. O dia inicial inteiro e limpo que tirou o povo português do apodrecido cárcere em que se encontrava.
O 5 de Outubro - Dia da Implantação da República - voltou a ser festejado, em liberdade, como Feriado Nacional, até ao dia em que o rapazola da Tecniforma e os seus seguidores, fiéis às obediências do Santo Capital e da Santa Troika resolveram acabar com tamanha festa da liberdade e da invocação da República.
Serviram-se dela e da liberdade para ascenderem às cadeiras do poder e hoje, instalados, quais nababos, escarnecem do povo e das suas convicções.
Esquecem que todo o poder é provisório. Que hão-falir as suas tecnocráticas teorias e que a República, hoje e sempre, continuará a triunfar. E o dia 5 de Outubro, como bandeira da República Portuguesa, voltará a ser dia de Feriado Nacional.
Com festa, música, alegria nas ruas e sem submarinos amarelos...
* Texto de evocação e homenagem a José Vilhena, um grande combatente pela liberdade e contra a Censura, falecido no passado sábado, dia 3 de Outubro.Mário Mendes