Entre
os bairros de Santos e da Lapa há um cantinho norte alentejano que dá a provar
os comes e bebes da região. Uma espécie de taberna à moda antiga mas com um
toque elegante que leva à mesa enchidos, presuntos, queijos e vinhos, a maior
parte de Nisa e Portalegre. Nesta casa o Alentejo serve-se frio mas cheio de
sabor.
Há
muito que Lisboa se rendeu aos sabores alentejanos mas só algumas casas da
capital podem gabar-se de ter os produtos mais autênticos e genuínos. A Taberna
à Lapa é seguramente uma delas ou não tivessem os donos corrido o Alto Alentejo
de fio a pavio à procura das melhores fábricas de enchidos, das queijarias mais
tradicionais e das adegas que vale a pena conhecer.
Depois
de descobrirem alguns dos segredos mais bem guardados da região, Susana e Tiago
Costa (ela alentejana de gema, ele com uma costela) decidiram apresentá-los
nesta espécie de taberna reinventada, aberta desde janeiro de 2015 mas
inaugurada um mês depois. Fica mais ou menos a meio caminho entre
Santos-o-Velho e a Lapa (rua Garcia da Horta, nº 12) e já ganhou fama entre os
amigos dos petiscos e do convívio.
Recordações
do Alentejo
Quem
vive ou tem raízes no Alentejo rapidamente percebe que a casa foi buscar
inspiração às tabernas típicas da região. Pipas e garrafões de vinho, cabaças,
potes de azeite, peças de olaria e outros objetos típicos foram trazidos de
Montalvão (a aldeia de Cláudia, no concelho de Nisa) para embelezar o espaço ao
jeito alentejano. A esta decoração junta-se ainda o chão à moda antiga, as
toalhas aos quadrados verdes e até um presunto pendurado junto ao teto.
Uma
mão cheia de mesas (incluindo a pipa de vinho transformada para o efeito) ocupa
a maioria do espaço, amplo e luminoso. Em dias de bom tempo uma portada abre-se
para a rua e faz as delícias dos visitantes, sobretudo os turistas, que ficam a
ver passar as pessoas e o icónico elétrico 28. Incontornáveis são também o
balcão em madeira com tampo de mármore (não há taberna alentejana que não tenha
um) e a montra de produtos que convida a degustações no momento ou
em
qualquer outra altura. É que quase tudo (dos enchidos e queijos ao mel e
azeites) pode ser levado para casa ou oferecido aos amigos.
O
ambiente não podia ser mais descontraído e eclético, numa curiosa mistura entre
moradores do bairro e estrangeiros provenientes dos quatro cantos do mundo. Mas
também há alentejanos de outras partes da cidade que passam por lá só para
matar saudades dos sabores autênticos da região. E quem vai uma vez acaba quase
sempre por voltar…
Pequenos
produtores, grandes sabores
A
ementa, totalmente composta por tapas e petiscos, fala alentejano quase de uma
ponta a outra. A começar pelas tábuas, espécie de ex-líbris da casa apresentado
em várias combinações, ora só com queijos (três tipos), ora com enchidos (como
painho ou chouriço de porco preto) ou presuntos (bolota ou reserva), ora com um
pouco de cada. Quem preferir doses mais pequenas ou tiver mais pressa também
pode pedir um pratinho individual ou optar por sandes, tostas e tostinhas,
sempre com pão alentejano.
Seguem-se
dois pratos de grelhados - telha de enchidos e assadeira - ambos com linguiça,
farinheira e cacholeira, espécie de chouriço de sangue pouco visto noutras
casas de Lisboa. Saltando as fronteiras do Alentejo chegamos às saladas
(destaque para a de polvo) e para a lista quase infindável de enlatados. Entre
as muitas opções à disposição encontramos, por exemplo, atum posta natural dos
Açores, sardinhas e cavalas em azeite biológico, polvo de caldeirada e lulas
recheadas à portuguesa.
Na
carta de vinhos também há néctares do Douro e da região de Setúbal, mas o
Alentejo volta a assumir protagonismo, tanto com marcas consagradas como com
outras quase desconhecidas, caso do vinho da casa, produzido na região de São
Mamede pela Casa da Urra. Antes da despedida vale a pena provar um doce
regional, como a boleima de maçã ou as queijadas de Nisa, mais dois produtos
trazidos diretamente da origem. E assim, os bairros de Santos e da Lapa
aproximaram-se mais um pouco do Alentejo.
Nelson
Jerónimo Rodrigues in www.lifecooler.com - 2015-04-15