O artigo é uma verdadeira "pérola" e uma lição sobre a arte musical.Publicado na edição nº 9 do semanário nisense "As Férias" em 1 de Outubro de 1916, transcrevemos a primeira parte, como evocação dos 170 anos da Banda de Nisa cujas comemorações ontem se iniciaram.
Tendo já por algumas vezes ouvido
pôr em duvida a classificação de symphonica que a nossa Banda tem; mas,
especialmente por no arraial da Comenda, a que assisti, terem ferido os meus
ouvidos uns dichotes de alguns espectadores-ouvintes, que cheios de despeito,
com voz irónica, victoriavam com aquele cognome a nossa Banda, puz hoje em mim
a missão de vir trazer a publico a opinião de alguém que nos pudesse elucidar
sobre o assunto.
Sabemos também, sem querer
melindrar nenhum dos Nizense, que cá na terra não há um só com competência a
nos poder informar; e, por isso, nos dirigimos a quem reputamos apto a para nos
esclarecer.
Escrevemos um cartão ao maestro
Regente da nossa Banda, e ele com a gentileza que o caracterisa, responde-nos
assim:
“ Meu caro amigo, da minha maior
estima.
Pergunta-me V... a razão porque a
Banda de Niza se chama Symphonica.
Vou ver se com os meus fracos
conhecimentos, consigo esclarecer essa magna
questão, que tanto tem dado que falar ao indígena.
À guisa de espírito d´alguns,
tomei eu o remoque. D´outros, onde abunda a inqualificável ignorância, deixei
correr o dito, parelha com o seu atrevimento; mas, hoje, que V... tão
amavelmente se me dirige quebro o cofre onde tinha guardado o silencio do meu
dspreso, para gostosamente lhe vir dizer, não só o que sei sobre o assunto, mas
ainda o que professores distinctissimos, verdadeiras sumidades na arte musical,
dizem sobre a mesma questão.
A Orchestra – ou Banda, é
Symphonica quando se compõe de uma certa qualidade de instrumentos que possam
habilitar a symphonia.
Deve no naipe de pachetas ter:
Oboé – requinta – clarinetes –
saxofones e fagote (ad libitum) não
esquecendo a função especial da flauta em dó – também faz parte componente a
flauta em mi e o flautim e oitavino.
Em metais de bocal, seguindo pelos
agudos, deve estar enfeitada com trompetes, cornetins, feliscornios, trompas,
tenores, barythonos, baixos e c. baixos. É parte integrante o c. baixo de corda
– bateria completa e tímpanos.
Ora aqui tem o meu caro amigo a
composição de uma Banda Symphonica – que poderá ser classificada de grande ou
pequena Banda, segundo a quantidade dos seus executantes.
Estou vendo já que o meu amigo ao
acabar de ler o período transacto pensa e com razão que á Banda de Niza faltam
muitos dos instrumentos inumerados. Tive um sonho doirado que embalou o meu espírito
de bom, e julguei poder torná-lo em realidade. Tantos
pezares... chagas tão fundas deixaram o meu coração tão ferido que foi uma
loucura querer tornar em real a chimera do meu sonho, e por isso peço me
desculpe, em não lhe dizer os motivos porque à Banda de Niza faltam esses
instrumentos! Se um dia cicatrizar em mim esta ferida que me punge, mesmo de longe, é possível que
extreiorize, então essa lenda... lenda que para sempre habitará o seu paiz
ideal...
A falta, meu amigo, desses
instrumentos não são assaz sensíveis, pois que são substituídos por outros que
ainda que não dêem o verdadeiro efeito, suporta-se a substituição sem
desagrado, e não berra muito contra a arte.
Mas a principal razão porque a uma
Banda ou Orchestra cabe o nome de Symphonica, é quando ela tome para tema especial
das suas expansões o motivo symphonico, e por conseginte execute:
Symphonias – ouvertures – odes –
suites e poemas symphonicos. (continua)