19.10.14

MEMÓRIA - Banda de Niza: É symphonica...ou não é symphonica?


O artigo é uma verdadeira "pérola" e uma lição sobre a arte musical.Publicado na edição nº 9 do semanário nisense "As Férias" em 1 de Outubro de 1916, transcrevemos a primeira parte, como evocação dos 170 anos da Banda de Nisa cujas comemorações ontem se iniciaram. 
Tendo já por algumas vezes ouvido pôr em duvida a classificação de symphonica que a nossa Banda tem; mas, especialmente por no arraial da Comenda, a que assisti, terem ferido os meus ouvidos uns dichotes de alguns espectadores-ouvintes, que cheios de despeito, com voz irónica, victoriavam com aquele cognome a nossa Banda, puz hoje em mim a missão de vir trazer a publico a opinião de alguém que nos pudesse elucidar sobre o assunto.
Sabemos também, sem querer melindrar nenhum dos Nizense, que cá na terra não há um só com competência a nos poder informar; e, por isso, nos dirigimos a quem reputamos apto a para nos esclarecer.
Escrevemos um cartão ao maestro Regente da nossa Banda, e ele com a gentileza que o caracterisa, responde-nos assim:
“ Meu caro amigo, da minha maior estima.
Pergunta-me V... a razão porque a Banda de Niza se chama Symphonica.
Vou ver se com os meus fracos conhecimentos, consigo esclarecer essa magna questão, que tanto tem dado que falar ao indígena.
À guisa de espírito d´alguns, tomei eu o remoque. D´outros, onde abunda a inqualificável ignorância, deixei correr o dito, parelha com o seu atrevimento; mas, hoje, que V... tão amavelmente se me dirige quebro o cofre onde tinha guardado o silencio do meu dspreso, para gostosamente lhe vir dizer, não só o que sei sobre o assunto, mas ainda o que professores distinctissimos, verdadeiras sumidades na arte musical, dizem sobre a mesma questão.
A Orchestra – ou Banda, é Symphonica quando se compõe de uma certa qualidade de instrumentos que possam habilitar a symphonia.
Deve no naipe de pachetas ter:
Oboé – requinta – clarinetes – saxofones e fagote (ad libitum) não esquecendo a função especial da flauta em dó – também faz parte componente a flauta em mi e o flautim e oitavino.
Em metais de bocal, seguindo pelos agudos, deve estar enfeitada com trompetes, cornetins, feliscornios, trompas, tenores, barythonos, baixos e c. baixos. É parte integrante o c. baixo de corda – bateria completa e tímpanos.
Ora aqui tem o meu caro amigo a composição de uma Banda Symphonica – que poderá ser classificada de grande ou pequena Banda, segundo a quantidade dos seus executantes.
Estou vendo já que o meu amigo ao acabar de ler o período transacto pensa e com razão que á Banda de Niza faltam muitos dos instrumentos inumerados. Tive um sonho doirado que embalou o meu espírito de bom, e julguei poder torná-lo em realidade. Tantos pezares... chagas tão fundas deixaram o meu coração tão ferido que foi uma loucura querer tornar em real a chimera do meu sonho, e por isso peço me desculpe, em não lhe dizer os motivos porque à Banda de Niza faltam esses instrumentos! Se um dia cicatrizar em mim esta ferida que me punge, mesmo de longe, é possível que extreiorize, então essa lenda... lenda que para sempre habitará o seu paiz ideal...
A falta, meu amigo, desses instrumentos não são assaz sensíveis, pois que são substituídos por outros que ainda que não dêem o verdadeiro efeito, suporta-se a substituição sem desagrado, e não berra muito contra a arte.
Mas a principal razão porque a uma Banda ou Orchestra cabe o nome de Symphonica, é quando ela tome para tema especial das suas expansões o motivo symphonico, e por conseginte execute:
Symphonias – ouvertures – odes – suites e poemas symphonicos. (continua)