22.10.14

POESIA - O que o meu coração sente

Morreu a minha mulher
Muito magoado estou
Por não saber se ela morreu
Ou se alguém a matou
I
Atenções nunca lhe deram
Era o que lhe fazia falta
E com a febre bem alta
Foi assim que me disseram
Tratar dela não quiseram
Cada um faz o que quer
Para o país saber
Que há falta de competência
E com falta de assistência
Morreu a minha mulher
II
Era uma infecção urinária
Que com um antibiótico passa
Depois era a febre da carraça
E as desculpas foram várias
Com as informações primárias
Que ao meu ouvido soou
Contei, ninguém acreditou
- Não acredites não vás nisso!
E digo é mesmo por isso
Que muito magoado estou.
III
Um médico até me disse
Para me manter em sossego
Que foi mordida por um morcego
Mas que grande vigarice
Mas se fosse só eu que ouvisse
Ainda bem que não fui só eu
Não sei o que aconteceu
Desesperado estou
Sei que alguém a matou
Não foi ela que morreu.
IV
Deixou um viúvo a cismar
Com falta dos seus carinhos
Sem avó, quatro netinhos
E dois filhos a chorar
Já não a vejo no meu lar
Sei que ninguém ma roubou
E quem tanto a guardou
Para nada lhe acontecer
Não sei se acabou por morrer
Ou se alguém a matou.

António Elias EstróiaOutubro 2014