Dez anos a Viver Cultura - Quatro anos a amamentar Valquírias
Completam-se hoje 80 anos sobre a inauguração do Cine Teatro de Nisa. A efeméride que deveria ser efusivamente festejada com orgulho e alegria, deu lugar à tristeza e ao desencanto. Pior que isso, é sinónimo de VERGONHA!
A Câmara Municipal de Nisa detentora do edifício que tem como um dos objectivos primordiais o de “assegurar o desenvolvimento de actividades visando o enriquecimento cultural dos munícipes, na fidelização de públicos às artes de palco”, na definição do vereador que deveria responder pela Cultura, tem deixado nos últimos tempos que paire sobre o nosso Teatro, o espectro da tragédia que em 1916 vitimou o velho Cine Teatro, da Rua Marechal Gomes da Costa.
Na altura, tal como agora – num contexto político, social e económico, algo diferente – foi a falta de vida e de actividades, o progressivo desinteresse e o paulatino abandono que lhe ditaram a morte lenta com que veio a sucumbir.
Hoje, a crise económica e a falta de verbas são as causas apontadas para que a melhor casa de espectáculos do Alto Alentejo, esteja às moscas, sem programação digna desse nome, sem exibir filmes há quase um ano, padecendo dos mesmos males com que a autarquia se debate, um dos quais - quiçá o principal – é um amorfismo quase generalizado, um “deixa andar” sustentado nos “males provocados pela oposição”, uma desorientação que vem de trás e para a qual não se vê, a curto ou médio prazo, uma saída.
Em 2007, o executivo absolutamente maioritário, colava ao Cine Teatro o slogan “Dez anos a Viver Cultura”. Além de abusiva, a frase mostrava um completo desrespeito por quem, numa época de verdadeira crise económica e social, levara a efeito e mantivera durante décadas o empreendimento. Entendia-se, de resto, a amplitude e a truculência da mensagem: dos dez anos a “viver cultura”, desde 1997, seis anos eram da gerência de quem ainda hoje gere (mal) a autarquia.
Tão mal que, gastou milhares de euros em Valquírias e outros projectos valquirosos, sem que o concelho deles retirasse qualquer benefício.
Tão mal que, hoje, dia 9 de Outubro de 2011, não teve um pequeno rasgo, uma centelha de lucidez para organizar um programa que lembrasse aos nisenses os 80 Anos a Viver Cultura expressos na memória do nosso Cine Teatro.
Não eram precisos ministros, nem entidades, nem faustosos banquetes, como num passado recente. Bastava que actuassem os artistas locais e que se descerrasse uma lápide a perpetuar os nomes de Manuel Granchinho, José Vieira Esteves da Fonseca, José Vilela Mendes e alguns mais.
Tão pouco para tão grande e magnífica obra, que é um monumento ao bairrismo nisense.
Este, brota do coração: não se constrói nem com “pactos de sangue” nem com estafadas fórmulas eleitoralistas.
Viva o nosso Cine Teatro. Avec Spandex!
Mário Mendes