14.6.11

OPINIÃO: Notas sobre as eleições no concelho ( 2 )

1. As eleições de 5 de Junho, pela sua própria natureza, em Nisa como em todo o país, foram predominantemente influenciadas por motivações de ordem nacional.
No caso concreto, neste último acto de exercício do voto, os eleitores fizeram a sua apreciação (fortemente negativa) da acção governativa de Sócrates e seus pares. Os instrumentos dominantemente influenciadores do voto foram o acompanhamento continuado do que as TVs transmitiam, particularmente na recta final, com a revelação do estado a que o país chegou e as orientações contrárias aos direitos dos trabalhadores e reformados, em afronta a significativa parte da sociedade. Como remate de influência, naturalmente de ter em conta os caminhos seguidos na campanha eleitoral pelos diversos concorrentes.
2. Não se pode, porém, à escala de cada território, desprezar o efeito mobilizador para a captação de voto que constitui a capacidade dos activistas locais dos partidos em chegar junto dos cidadãos eleitores.Com muito maior efeito em meios pequenos com centenas ou escassos milhares de votantes.
Com expressões diferentes, o factor local tem efeito em eleições gerais e vice-versa.
3. Duas semanas antes os espanhóis foram a votos para escolha de representantes municipais e regionais. Vejamos o que se passou aqui ao lado em Cedillo. A votação foi praticamente a mesma para os dois níveis de escolhas em jogo. Era visível o empenho dos aderentes da força localmente dominante (o PSOE, correspondente ao nosso PS), com entusiástica acção de esclarecimento de todos os vizinhos, assegurando um contacto de proximidade quase total.
Recordamo-nos de os ver com igual procedimento e entusiasmo nas últimas eleições legislativas espanholas.
4. É nessa atitude que nos parece residir a abismal diferença de empenho dos aderentes e (mesmo) militantes no processo eleitoral português de há dias.
No nosso concelho é notável o envolvimento de candidatos (e famílias, mais ao nível de aldeias) na operação de «pedir o voto» quando se está à conquista da câmara ou da freguesia. Que contrasta completamente com o que se viu nesta campanha. Onde foram feitas sessões de esclarecimento? Onde aconteceram os contactos com a população nos seus espaços habituais de convívio e de trabalho?
5. Tristemente temos que concluir que, genericamente, num caso se intervém, independentemente do tipo de eleição, por motivação do ideal que se defende e, no caso português, os representantes locais dos partidos (com óbvias excepções, que seria injusto não ressalvar) se movem essencialmente pela busca dos lugarzitos na junta ou na câmara.
6. Isto é particularmente grave, no caso de Nisa, onde a influência militante dominadora deveria pertencer aos comunistas e seus aliados.
Primeiro porque continua a proclamar se um partido de massas. Que deveria ser imagem de marca a fazer a diferença em relação aos demais. Se isso ainda tivesse alguma coisa de verdade... Depois (não menos importante) porque tem responsabilidades políticas (pelo menos formalmente) ao nível da gestão do poder local no concelho. Onde o exemplo da maneira como os comunistas vêem a sociedade e a querem transformar deveria ser para todos visível com a maior das naturalidades. E é-o cada vez menos para cada vez mais nisenses...
7. Exercendo poder, em doses tão importantes a nível local, isso deveria ser uma alavanca para envolver e entusiasmar redobradamente os militantes a agir, em todas as circunstâncias, por valores e construção de um projecto democrático, participativo, plural, inovador.
Não é isso possível porque, em vez da lógica do envolvimento de todos, um pequeno punhado de «chefes» e «chefas» acha-se no direito (?!) de pôr e dispor, com práticas abusivas e burocratizadas cada vez mais distantes do povo, a quem se deveria estar permanentemente ligado.
Os comunistas no poder não podem ser «dirigidos» no seu mais duro e apertado núcleo de comando institucional por um qualquer G3 no feminino (Gabi2 / Gisa), limitando-se a levar (e trazer) o recado aos burocratas que se situam no nível partidário seguinte.
Este é, porém, pela sua gravidade e afronta aos genuínos comunistas e seus aparentados que fazem o percurso desinteressadamente desde pelo menos 1974, motivo para escrito posterior, específico e mais esclarecedor...
DINIS DE SÁ