7.6.11

OPINIÃO: NOTAS SOBRE AS ELEIÇÕES NO CONCELHO ( 1 )

1. À escala nacional, as eleições de domingo passado saldaram-se por rotunda derrota das esquerdas. Confirmou-se a expectativa decorrente do derrube do governo de Sócrates, com o caminho inexoravelmente aberto a uma maioria da direita, a apresentar-se com o programa mais conservador e liberal de sempre.
Sócrates, num assomo de dignidade elementar, apresentou a demissão da chefia do PS. No mínimo, Louçã deveria seguir-lhe o exemplo, face a uma perda de metade dos votos e do número de deputados...
O grave, na perspectiva de construção contínua de uma perspectiva real e ganhadora, é que, na noite de um desastre eleitoral globalmente terrível para as esquerdas, as «justificações» e até triunfalismos não auguram reflexão próxima séria que encaminhe, a prazo, as coisas para uma alternativa que (de vez sem aspas) seja patriótica e de esquerda. . .
2. Também no distrito de Portalegre o PSD foi o partido mais votado.Com a agravante de o CDS já se aproximar dos votos obtidos pelo PCP.
Com perdas brutais do PS e BE é preocupante que as deslocações de votos se encaminhem para a direita, já que, num quadro altamente favorável para tal, não há qualquer crescimento no voto comunista.
Quando Jerónimo de Sousa valorizou a recuperação de um deputado no círculo de Faro, é importante lembrar que as coligações integradas pelo PCP, neste distrito claramente de esquerda, já estiveram na disputa pela condição de força mais votada. Quando havia (mesmo) sentido unitário na intervenção eleitoral e não uma «CDU» que, além da «importação» da cabeça de lista (para fazer igual ao PS ), desta vez apresentava como candidatos praticamente só funcionários do partido.
Longe vão os tempos de intervenção genuinamente distrital e de abertura política de outras campanhas...
3. No concelho de Nisa a votação é globalmente negativa, mas particularmente escandalosa (no que respeita ao PCP) nalgumas mesas de votos.
Até o concelho vizinho de Gavião conseguiu um score eleitoral concelhio superior. Na vila sede do concelho o CDS teve uma votação superior, com a votação na lista comunista a ter pouco mais de 100 votos, numa percentagem inferior à que foi obtida a nível nacional.
Histórica e tradicionalmente, durante anos, duas freguesias (Montalvão e São Simão) tinham grandes votações nas (verdadeiras) coligações (FEPU e APU) que antecederam a actual.
4. Impressiona, por exemplo, olhar os resultados de dia 5 na Salavessa, com a «CDU» recolher a preferência de pouco mais de uma dúzia de eleitores em quase 70 votantes.
No conjunto da freguesia de Montalvão, só 1/4 do somatório dos votos obtidos pelos 3 partidos da troika. Como é possível?
Em Pé da Serra 20 «heróis» ainda resistiram, votando «CDU». Com o carinho e admiração que merecem os que desde sempre estiveram por ideal como comunistas na aldeia, é caso para glosar a derrocada (não fosse a coisa tão tristemente séria e grave!), dizendo que já nem as famílias de Júlio Pires e Zé Lopes, por inteiro, põem a cruzinha no sítio de sempre...
5. Esta eleição era de características nacionais, evidentemente. Seria injusto e demagógico atribuir excessivamente aos actuais protagonistas locais do PCP a responsabilidade destas votações que entristecem certamente todos aqueles que, no concelho, abraçam o ideal comunista, sem qualquer sentido de interesses pessoais e oportunismo.
Contudo, há sempre alguma influência (e grande) que não deve (não pode) ser iludida. Pelo menos em aldeias de pequena dimensão a intervenção política local de proximidade é tão decisiva como os debates televisivos ou os tempos de antena. Esta leitura fica para próximo escrito, dentro de dias...
DINIS DE SÁ