5.6.11

No Rasto da Memória : A Imprensa em Nisa (1)

O 1º número da 2ª série do “Notícias de Nisa” saiu a público no dia 16 de Abril de 1997.
Com 10 páginas e a duas cores, o quinzenário regionalista e independente, seguia a linha de rumo do título criado e mantido desde 1995, por Francisco Narciso.
No primeiro número, dois artigos faziam a capa da notícia, o Editorial da autoria de Mário Mendes, o novo director do jornal e o destaque para um tema que na altura, assumiu especial importância: Barroca do Salgueiro – O Caminho da Discórdia.
No Editorial, explicavam-se as razões do ressurgimento do jornal, “um projecto que se retoma com os leitores, anunciantes e colaboradores que ao longo deste tempo nos fizeram chegar anseios, temores, a vontade de verem surgir uma voz própria, regionalista, não enfeudada a doutrinas e ideologias, pugnando pelo bem comum, com a verdade, o distanciamento e o sentido crítico que a prática da escrita jornalística impõem”.
O “Notícias de Nisa” com um reduzido número de colaboradores e nenhum deles a trabalhar, simultaneamente, na Câmara Municipal, manteve o contacto com os leitores ao longo de 19 edições e foi a semente embrionária do “Jornal de Nisa” , um quinzenário regionalista e não dependente da autarquia, que ao longo de 265 edições e quase 11 anos, levou a informação do concelho e região aos leitores e assinantes que o apoiaram.
O “Notícias de Nisa” acompanhou, deu voz a todas as candidaturas e pôs em debate os grandes temas do desenvolvimento concelhio nas Autárquicas 97; trouxe a público e denunciou muitas situações que lesavam as populações do concelho, contribuindo com o seu alerta e atenção para que muitos problemas fossem resolvidos.
Um deles, o da capa da primeira edição. O caminho público da Barroca do Salgueiro, o primeiro caso de usurpação de um bem de utilização colectiva foi julgado em Tribunal e a razão dada a quem a tinha: o povo do concelho e os proprietários rurais que mais utilizavam o caminho, desde o tempo dos seu antepassados.
Não deixa de ser preocupante verificar que, 14 anos passados e muitos abusos e esbulhos de caminhos públicos cometidos, não haja uma única denúncia dessas situações, algumas delas nas “barbas” dos próprios autarcas de freguesia, que preferem o silêncio e a cumplicidade, em troca de um voto na “hora certa”.
Claro que, com as novas “doutrinas” os jornais não servem para isso. Têm que noticiar o que acontece, as festas, os discursos, fotos a rodos, escrita feita na secretária, que isto de perguntar e tentar perceber o que não se mostra é coisa de polícia e de detectives.
Além de (poder) trazer incómodos, aborrecimentos, “abertura de olhos” quando os visados são o poder que tão bem nos (des)governa.
Em democracia, diz-se, não há intocáveis e a imprensa (comunicação social, parvo!) é um dos garantes do “estado de direito”. Adiante.
No 1º número – 2ª série - do “Notícia de Nisa”mantínhamos uma “coluna nobre” denominada “Canto do Saco” (no “Jornal de Nisa” passou a chamar-se “Pontá Bitéfes”) que, justamente, alertava para muitas situações anómalas que urgia corrigir.
Quantas e quantas, não foram resolvidas, muitas vezes após sistemáticas e persistentes denúncias do jornal? Algumas demoraram anos, não porque fossem obras de elevado gasto, mas que esbarravam na teimosia do poder instalado. (O poder, todo o poder – apesar de dizer o contrário – não gosta que os cidadãos chamem a atenção para o que está mal e pode ser resolvido).
Nesta primeira edição do NN o “Canto do Saco” denunciava os actos de vandalismo cometidos na Fonte da Tigela e que impedia o normal funcionamento da torneira (bica) existente, os problemas de circulação e trânsito na vila de Nisa e o horário desajustado do Cemitério Municipal.
Problemas que levaram o seu tempo, mas que foram resolvidos a contento das populações.
O jornal, cumpria o seu papel e quem nele colaborava sentia-se satisfeito por a sua voz ser ouvida, mesmo apesar de escreverem “de forma pouco séria, não isenta e apenas procurar protagonismo”.
Agora, felizmente, nada disso acontece. A seriedade caiu de pára-quedas na associação que se diz de “desenvolvimento” mas que na prática não é mais do que uma extensão do aparatchik instalado na Praça do Pelourinho.
Haja Deus!
Mário Mendes