26.11.16

Veneno mata espécies protegidas em Portugal!

A Liga para a Proteção da Natureza denuncia que só na última semana foram detetados mais 11 animais vítimas de envenenamento na Zona Protegida de Castro Verde, no Baixo Alentejo e que incluem espécies tão ameaçadas da nossa fauna como a águia-imperial-ibérica e o milhafre-real.

O flagelo do uso ilegal de venenos continua a atingir muitas regiões rurais de Portugal, ameaçando a conservação da natureza mas também a saúde pública das comunidades locais com o risco de envenenamento. Neste recente caso, o primeiro animal detetado, foi um milhafre-real encontrado (ainda com vida) pela Liga para a Protecção da Natureza, com sintomas de envenenamento agudo.
O animal foi encaminhado para o centro de recuperação (RIAS/ALDEIA em Olhão), tendo sobrevivido e onde ainda se encontra em recuperação. A deteção deste animal despoletou imediatamente o patrulhamento da região pela equipa cinotécnica de venenos da GNR que viria a detetar, uma semana depois, 1 raposa morta na mesma área, 5 milhafres-reais e 1 águia-imperial-ibérica, estas últimas, espécies ameaçadas em Portugal e 3 cadáveres de milhafres-reais, o que perfaz à data de hoje um conjunto de 11 animais envenenados, associado a esta ocorrência e que tudo parece indicar ter origem comum. As equipas do SEPNA da GNR têm vindo a recolher todos os cadáveres encontrados, assim como outras evidências no local que foram encaminhadas para análises forenses e que possibilitarão em breve a confirmação da causa de morte, a identificação da substância utilizada e o autor deste crime. Este novo episódio de envenenamento massivo, o maior identificado até agora na Zona de Proteção Especial de Castro Verde, não é um caso isolado, existindo um demasiado longo historial de eventos de envenenamento identificados nos últimos anos.

Este é já o quarto caso de morte de águia-imperial-ibérica registado no Baixo Alentejo em 2016, cujos indícios são compatíveis com morte por envenenamento, pondo em evidência o risco real que esta ameaça representa para a conservação desta e de outras espécies com os mesmos hábitos de se alimentarem de animais mortos (necrófagos). No caso da águia-imperial-ibérica, em que as ameaças não-naturais podem pôr em risco toda a população nacional, atualmente constituída apenas por 15 casais reprodutores, esta é uma ameaça séria e é por isso um dos focos de atuação do LIFE Imperial. Com este projeto já foi implementada uma medida pioneira em Portugal que criou e tem há um ano em funcionamento 7 Equipas Cinotécnicas da GNR (binómios Homem/Cão) para a deteção de veneno. O uso ilegal de veneno é uma prática muito lesiva para a natureza mas que pode também afetar os seres humanos e os animais domésticos de uma forma bastante gravosa. Existe um elevado risco para a saúde pública, quer por introdução na cadeia alimentar humana através do consumo de animais contaminados (por exemplo, coelhos, lebres ou predizes) ou através do contacto direto por manipulação de iscos ou contacto com fluidos de animais envenenados.
A LPN está empenhada no combate a este problema, consciente de que a sua solução exige a conciliação de esforços das entidades com elevada responsabilidade neste tema, como são a GNR, o ICNF, o Ministério Público e os Tribunais, para além das Organizações Não Governamentais de Ambiente. Neste sentido, apelamos a uma intervenção do Ministério do Ambiente para empreender, com urgência, esforços num programa estruturado e partilhado de combate a esta grave ameaça para a conservação da natureza. Esta convergência de esforços, abrangendo toda a sucessão de procedimentos, desde a deteção à condenação (incluindo as diferentes etapas da investigação), é absolutamente imprescindível para uma atuação mais incisiva de todas as entidades envolvidas no combate a situações de atos ilegais e que adquire particular relevância quando se trata de espécies com elevado estatuto de conservação e de proteção.

SOBRE A ÁGUIA-IMPERIAL-IBÉRICA (Aquila adalberti)

Atualmente nidifica exclusivamente na Península Ibérica. A espécie sofreu um grande declínio que culminou com o desaparecimento da população reprodutora em Portugal entre finais da década de 1970 e inícios da década de 1980. Apenas em 2003 se voltou a confirmar um casal nidificante e desde então têm vindo a colonizar lentamente o território nacional, apresentando o estatuto de conservação de “Criticamente em Perigo”. Em 2016 a população nacional foi de 15 casais divididos pelas regiões da Beira Baixa, Alto Alentejo e Baixo Alentejo tendo nascido 18 crias.

SOBRE O PROJETO LIFE IMPERIAL

O Projeto LIFE Imperial (LIFE13/NAT/PT/001300) é um projeto coordenado pela LPN e conta com 7 beneficiários associados nacionais e espanhóis, sendo financiado a 75% por fundos comunitários do Programa LIFE da União Europeia. O LIFE Imperial tem por objetivo assegurar o aumento da população de Águia-imperial em Portugal, e consequentemente da população global ibérica, através da redução das ameaças que afetam o eficaz estabelecimento de casais em Portugal, orientando a sua atuação de modo a garantir que o retorno natural da espécie a Portugal possa ser consolidado de forma sustentável e duradoura. A atuação do LIFE Imperial abrange a redução da mortalidade não-natural, incluindo o combate a atos ilegais, como o uso ilegal de venenos, através de uma linha de atuação que assenta na formação, sensibilização, fiscalização e ação judicial. Saiba mais em lifeimperial.lpn.pt/