19.6.13

MEMÓRIA DO JORNAL DE NISA - Edição de 17/6/1998

 Capa do nº 11 - 17 Jun.1998 - Jornal de Nisa
A edição nº 11 do Jornal de Nisa saíu a público no dia 17 de Junho de 1998. Com capa a preto e branco e título a vermelho, este número do "Quinzenário regionalista e independente" deu destaque à Feira do Queijo de Nisa e ao falecimento do professor Manuel Temudo Barreto. No interior, José Lopes, um nisense em Françaera descrito como desportista exemplar, por força dos êxitos no futebol, como praticante e treinador. Diversas notícias do concelho davam conta de algumas obras em execução, das principais deliberações da Câmara, do Convívio dos Amigos do Pé da Serra e do XXI Concurso e Pesca Vila de Nisa.
Luís Pedro Cruz assinava a habitual página Urb(a)Nisa sobre arquitectura e José Dinis Murta compunha um Puzzle sobre a história antiga e recente da vila de Nisa.
A Página da Saúde e artigos sobre os Padres de Nisa e Fragoso de Siqueira, um nisense de "vistas largas", eram outros dos motivos de interesse desta edição, onde não faltava o "Cantinho do Emigrante..
 TEMUDO BARRETO: A morte de um homem multifacetado

Manuel Joaquim Temudo Barreto, faleceu no passado dia 8 de Junho, no fim de uma vida de 86 anos dedicados ao ensino, à cultura e à solidariedade social.
Nascido em Nisa, Manuel Joaquim Temudo Barreto foi professor do ensino básico e director escolar. Desde cedo a sua personalidade multifacetada o encaminhou para vários campos da cultura e do saber, na procura sempre ávida de novos conhecimentos, mesmo para além-fronteiras. Assim lhe nasceu o gosto, entre outros, pelo rádio-amadorismo, em que foi pioneiro em Nisa, e pela fotografia, onde se destacou pela elevada qualidade dos seus trabalhos, quer ao nível das técnicas – de inegável primor para a época – quer, sobretudo, pelas temáticas desenvolvidas.
Nisa e o seu concelho, ficam a dever-lhe um importante e valiosíssimo acervo de fotografias testemunhando aspectos únicos das variadas fainas e ciclos agrícolas. O “Ciclo do Pão” é, indiscutivelmente, um dos seus melhores trabalhos, não apenas como retrato de uma época historicamente definida, como pela qualidade dos textos que lhe dão suporte. Igualmente de grande valor patrimonial e histórico para o concelho e região, são as suas fotos a preto e branco (foram sempre as preferidas) ilustrando outras actividades quotidianas do concelho, especialmente as de Nisa. Um espólio de incalculável valor patrimonial, histórico e sentimental que não poderá perder-se e sobre a autarquia deverá envidar todos os esforços para que seja preservado e divulgado.
São conhecidas as fotos que registou e de que nos deu conta numa belíssima exposição na Casa da Cultura, sobre olaria de Nisa, os monumentos e os bordados tradicionais.
Bordados de que ele seria, afinal, um dos principais defensores e dinamizador quer pela acção que desenvolveu nesse campo na criação e manutenção da Escola de Bordados na Misericórdia de Nisa, quer ainda pelos inúmeros trabalhos de investigação sobre o artesanato nisense de que deixou colaboração dispersa em vários jornais e revistas e ainda na publicação, em 1986, da obra “Alinhavados de Nisa”, pequenos opúsculo que constitui hoje em dia, referência indispensável para todos os estudiosos desta matéria.
Para além destas actividades, Temudo Barreto desempenhou vários cargos directivos na Santa Casa da Misericórdia de Nisa, nomeadamente, provedor, vice-provedor e secretário em vários elencos e mandatos, experiências que lhe deram alguns conhecimentos desta problemática e sobre a qual se debruçou em profundidade, deixando inúmeros textos e colaboração dispersa por alguns jornais e revistas da especialidade.
A história e desenvolvimento da Misericórdia eram, de resto, uma das suas actuais preocupações e desejo de investigação, como o atesta um recente trabalho em que historia a fundação da Instituição e refere os principais momentos da sua vida até à actualidade.
Um trabalho que terá deixado incompleto, bem como a sua vontade de colaboração no nosso jornal, manifestada dias antes da sua morte.
Morreu o director Barreto. O funeral realizado ao fim da tarde de 3ª feira constituiu uma sentida manifestação de pesar por parte da população, familiares, amigos, pessoal da Santa Casa, que não quiseram deixar de lhe testemunhar o último adeus.
Mário Mendes - Jornal de Nisa - 17/6/1998