6.9.12

À FLOR DA PELE: Olivença / Olivenza: Por mais quanto tempo, a desavença?

 
 

 
Visitei, pela primeira vez, em Agosto, a vila portuguesa de Olivença, a que os espanhóis chamam Olivenza. Cumpri, um desejo e sonho antigo. A história de Olivença, começou a fascinar-me através dos artigos de Carlos Luna. Até aí, sempre pensei tratar-se de uma questão menor, alimentada, em ocasiões certas, pela direita monárquica.
Estava errado, admito-o, por que nem os defensores da monarquia têm de ser, fatalmente, de "direita", nem Olivença era, apenas, a "questão" do orgulho nacional ferido que eu supunha.
E, percebe-se, melhor, este problema, visitando, com tempo e disponibilidade, esta terra (e concelho) colonizada de forma "cirúrgica" durante o século passado, mas onde estão bem patentes, de forma exuberante, as marcas de séculos da presença e administração lusitana, desde a Praça de Santa Maria e a respectiva igreja que não pudemos visitar, devido a obras, até à magnífica Igreja da Madalena, riquíssimo exemplar da arquitectura manuelina e ao não menos importante Museu Etnográfico González Santana, com um acervo patrimonial a todos os títulos grandioso e onde fomos recebidos com extrema simpatia.
Fiquei fascinado com a limpeza e preservação do Centro Histórico de Olivença, a luz da cal alentejana que brilha nas fachadas dos edifícios, a conservação da toponímia lusa, mesmo tendo em conta alguns abusos e crimes de lesa memória que não passam despercebidos.
Nota-se, na urbe, um grande investimento do estado espanhol através da Junta da Extremadura e do município local, quer em infra-estruturas desportivas - ao nível do que de melhor existe nas cidades portuguesas – quer noutras áreas do desenvolvimento humano.
Olivença é portuguesa, de lei, mas espanhola, "de facto". O "facto" é a usurpação da soberania legítima e a manutenção do poder político e administrativo por parte de Espanha, à revelia do direito internacional.
Perante este dilema, não é fácil a um oliventino responder qual a sua nacionalidade. Dirá, como me disse uma jovem, que "és igual", para logo acrescentar "mas temos orgulho no nosso passado português".
Olivença é logo ali, a dois passos de Elvas, um "pulo" pela nova ponte sobre o Guadiana. O rio, outrora cenário de guerras e da intolerância entre nações, é hoje um traço de união e convergência entre os dois países, uma passagem que nos aproxima dos nossos irmãos oliventinos.
Em Olivença, senti-me em casa. Hei-de voltar, uma vez e outra, porque são os povos, a força dos seus afectos e raízes, que derrubam as barreiras das convenções.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 5/9/2012