"Furacão de Saias" era o filme anunciado em cartaz pela empresa que explorava o Cine Teatro de Nisa, a Socorama. Nesse ano (1965) o "cinema" de Nisa, mesmo no Verão, continuava a sua missão de divertir, entreter, proporcionar aos nisenses - e não só - momentos de lazer e de cultura.
A sala enchia-se e filmes havia que eram passados duas e três vezes, tal o êxito que obtinham.
No ano em que o Cine Teatro de Nisa completa 80 anos da sua fundação (1931), triste é constatá-lo, a "sala de espectáculos do Norte Alentejano" deixou de fazer jus ao nome e à fama conquistada. Durante a semana reina um silêncio lúgubre pelas salas e corredores do amplo edifício, quase moribundo. Aos fins de semana, deixou de haver cinema, dizem as "más línguas" que, por dívidas às empresas de distribuição. Outras, apontam o famigerado Despacho nº 26 qual troika caseira do aparatchik que nos desgoverna, como a "fonte cultural" que secou e nos deixou a todos mais pobres.
Manuel Granchinho e José Vieira da Fonseca, entre outros, no lugar onde repousam, mereciam uma melhor homenagem que aquela que a autarquia lhes está a "prestar" no 80º aniversário do Cine Teatro. Mereciam, merecem, que o bairrismo e o esforço que encetaram no final da década de vinte do século passado, visando dotar Nisa de uma moderna sala de espectáculos, seja renovado e que o grande espaço cultural da Praça da República seja isso mesmo: um espaço de vida e cultura, de conhecimento, saber, entretenimento e de lazer, e não se transforme no fantasma do velho cemitério sobre cujas fundações assenta o edifício.
Mário Mendes