O ataque em grande escala de Israel contra o Irão e a respetiva
resposta estão a marcar uma desestabilização sem precedentes no Médio Oriente.
Colocar 200 aviões de guerra a bombardearam instalações nucleares e militares,
matando cientistas e altos funcionários da República Islâmica, incluindo o
chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, dá um duro golpe no regime do
ayatollah Ali Khamenei. Após duas décadas de ameaças, Benjamin Netanyahu
concretizou o seu desejo de atacar a medula do programa nuclear iraniano. Uma
ofensiva que surge depois de a Agência Internacional de Energia Atómica ter
aprovado uma resolução que certifica o incumprimento do tratado de não
proliferação nuclear por parte de Teerão. Acossado internamente, o líder
israelita só precisava de uma justificação. Netanyahu sabe que alargar frentes
de batalha é a forma macabra de garantir a estabilidade do seu Governo,
enfraquecido pela fragmentação e pelos casos de corrupção que rodeiam o próprio
líder do Likud. São exatamente as mesmas razões que o levaram a manter durante
meses a ofensiva desproporcional em Gaza, cada vez mais isolado
internacionalmente pela punição desumana dos civis palestinianos. Além disso, o
Irão não parece ter o apoio inabalável da Rússia nem a capacidade de resposta
de longa data dos seus representantes na região, como o Hezbollah, o Hamas ou
os hutis, esmagados por Israel e EUA. Apesar de tudo, o potencial de escalada é
extremamente elevado e com consequências terríveis. Desde logo com a morte de
civis, atos terroristas e efeitos nefastos na economia. Esta semana, o preço do
petróleo disparou e as bolsas caíram a pique. Daí que todo o poder de conter
esta grave crise recaia sobre os Estados Unidos, aliados de Israel, e Rússia e
China, aliados do Irão.
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António José Gouveia ~Jornal de Notícias - 16
junho, 2025