18.6.25

OPINIÃO: Aflito? Vira-te para fora


O ataque em grande escala de Israel contra o Irão e a respetiva resposta estão a marcar uma desestabilização sem precedentes no Médio Oriente. Colocar 200 aviões de guerra a bombardearam instalações nucleares e militares, matando cientistas e altos funcionários da República Islâmica, incluindo o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, dá um duro golpe no regime do ayatollah Ali Khamenei. Após duas décadas de ameaças, Benjamin Netanyahu concretizou o seu desejo de atacar a medula do programa nuclear iraniano. Uma ofensiva que surge depois de a Agência Internacional de Energia Atómica ter aprovado uma resolução que certifica o incumprimento do tratado de não proliferação nuclear por parte de Teerão. Acossado internamente, o líder israelita só precisava de uma justificação. Netanyahu sabe que alargar frentes de batalha é a forma macabra de garantir a estabilidade do seu Governo, enfraquecido pela fragmentação e pelos casos de corrupção que rodeiam o próprio líder do Likud. São exatamente as mesmas razões que o levaram a manter durante meses a ofensiva desproporcional em Gaza, cada vez mais isolado internacionalmente pela punição desumana dos civis palestinianos. Além disso, o Irão não parece ter o apoio inabalável da Rússia nem a capacidade de resposta de longa data dos seus representantes na região, como o Hezbollah, o Hamas ou os hutis, esmagados por Israel e EUA. Apesar de tudo, o potencial de escalada é extremamente elevado e com consequências terríveis. Desde logo com a morte de civis, atos terroristas e efeitos nefastos na economia. Esta semana, o preço do petróleo disparou e as bolsas caíram a pique. Daí que todo o poder de conter esta grave crise recaia sobre os Estados Unidos, aliados de Israel, e Rússia e China, aliados do Irão.

·         António José Gouveia ~Jornal de Notícias - 16 junho, 2025

 IMAGEM: Abir Sultan - Lusa /EPA