18.6.25

VIOLÊNCIA: PSP e ex-emigrante lideravam grupo extremista armado


PJ deteve, na terça-feira, seis membros do Movimento Armilar Lusitano, que falavam em “bombardear a Assembleia”.

Estavam a formar uma milícia armada, convictos da necessidade de usar a violência para estabelecer uma nova ordem política e social em Portugal. Usavam um grupo da rede social encriptada Telegram, com cerca de 900 ativistas, para difundir ideias extremistas e recrutar membros, além de falar em “bombardear a Assembleia da República”. Mas o núcleo duro do Movimento Armilar Lusitano (MAL) foi desmantelado ontem pela Polícia Judiciária (PJ), que deteve seis suspeitos, liderados por um chefe da PSP, a prestar serviço na Polícia Municipal de Lisboa, e um ex-emigrante que trabalhou anos na Suíça.

O grupo de extrema-direita formou-se no tempo da covid, inspirado nos movimentos neonazis da Alemanha. Os primeiros membros juntaram-se após o fim de organizações portuguesas semelhantes, como a Nova Ordem Social, fundada por Mário Machado, atualmente a cumprir pena de prisão por crimes de ódio. Ao longo dos últimos anos, o grupo foi crescendo nas redes sociais, com o núcleo duro a recrutar novos militantes para preparar a luta armada contra o sistema democrático.

De acordo com informações recolhidas pelo JN, o chefe da PSP e o ex-emigrante, aos quais se juntaram um agente imobiliário e pessoas ligadas à segurança privada, procuravam novos elementos que soubessem manusear armas e que tinham formação em primeiros socorros.

No grupo que alimentavam no Telegram, proliferam notícias falsas, incitamentos ao ódio e à violência, mas também ideias terroristas. O administrador do grupo, que faz parte dos seis detidos, refere, numa publicação de janeiro deste ano: “E que tal bombardear logo a Assembleia da República”. A publicação não passou despercebida aos inspetores da Unidade Nacional Contraterrorismo (UNCT) da PJ, que já monitorizavam o MAL desde 2021, tanto na Internet como em convívios.

O apelo ao ataque do Parlamento não surpreendeu os investigadores, que já tinham detetado conversas semelhantes mantidas entre os líderes da organização. Sem que fossem encontrados indícios de que passassem efetivamente ao ataque, a PJ continuou a juntar prova das atividades terroristas, discriminação e incitamento ao ódio e à violência e detenção de arma proibida.



Ontem, avançou para buscas e detenções, que permitiram a apreensão de um arsenal. Granadas, armas de fogo, algumas produzidas com impressoras 3D, explosivos militares e centenas de munições foram confiscados.

“Não deixou de ser surpreendente a qualidade e a diversidade daquilo que apreendemos”, afirmou Manuela Santos, diretora da UNCT.

Detetados na Internet

A investigação resultou da deteção online de indicadores de manifestações extremistas por parte de apologistas de ideologias nacionalistas e de extrema-direita radical e violenta, seguidores de um ideário antissistema e conspirativo, que incentivavam à discriminação, ao ódio e à violência contra imigrantes e refugiados.

Grande Lisboa

A Polícia Judiciária realizou ontem 15 buscas, algumas em casas dos seis detidos, na Grande Lisboa. Um armeiro, situado na Margem Sul, também foi alvo de buscas. Terá vendido peças de armamento, de forma legal, a alguns dos detidos.

Matou assaltante

O chefe da PSP detido, que prestava serviço na Polícia Municipal (PM) de Lisboa, matou a tiro um jovem assaltante, em 2013. A justiça considerou que atuou em situação de legítima defesa. Ontem, o Comando da PM anunciou a instauração de um processo disciplinar ao polícia.

Interrogatórios

Os seis detidos vão hoje ao tribunal para serem interrogados por um juiz, que aplicará as medidas de coação.

·         Alexandre Panda – Jornal de Notícias - 18 junho, 2025