O
desporto em Portugal tem evoluído consideravelmente em todas as modalidades. E
a pesca á linha adquiriu inúmeros adeptos. Ainda não há muito tempo, este
desporto era quase desconhecido em muitas cidades e vilas, onde hoje conta com
grande quantidade de praticantes. Mas os nisenses foram sempre apaixonados pela
pesca.
As
empresas hidro-eléctricas bastante contribuíram para o seu desenvolvimento. A
modalidade estende-se a vários rios e afluentes. Desta prática alcança-se o
conhecer do valor da fauna, do volume do caudal, da paisagem, do acesso.
Geralmente,
os desportistas manifestam preferência por um rio ou albufeira.
Nós
optamos pelo Tejo. Temos percorrido as suas margens, num exercício salutar que
praticamos há muitos anos. Este rio, bastante rico, pela sua grandeza e extenso
curso, pelas variadas espécies que o povoam, pela fertilidade das terras que
banha, pelas actividades que absorve em explorações diversas, torna-se um
factor de relevo na economia do país.
As
suas belezas e encantos têm inspirado os nossos poetas de todos os tempos.
Oferece este rio as melhores condições de pesca ao pescador mais exigente.
Conhecemos o Tejo desde o Sever até Belver, e neste espaço existem três pegos
dignos de referência. O Pego do Bispo, próximo de Salavessa, tem três
quilómetros de comprimento e profundidade de quatro a doze metros. Abundam ali
o barbo e a carpa, mas o seu acesso é muito difícil.
O
Pego das Portas, de dimensões mais reduzidas, tem a profundidade de trinta
metros e é povoado de grandes exemplares de barbos e carpas.
O
Pego da Barca, a três quilómetros de Amieira, tem aproximadamente dois
quilómetros de comprimento e profundidades de quatro a vinte metros. É muito
rico nas já referidas espécies. Pelo seu acesso fácil é muito preferido.
A
pesca já foi a maior riqueza deste rio. As espécies emigradas do mar como a
enguia e a lampreia, o sável, o muge, povoavam o seu longo curso de novecentos
quilómetros.
Na
pesca destas apreciadas espécies ocupavam a sua actividade centenas de
pescadores profissionais, que abasteciam muitas povoações.
O
Tejo presenteia-nos ainda além do barbo e da carpa, com a boga e o Bordalo, em
relativa abundância. A reprodução da fauna deste rio favorece todos os seus
afluentes. Das espécies emigrantes, só a enguia por cá ficava, ocupando assim
um lugar de mérito nos afluentes.
Já
temos visto por várias vezes a subida desta espécie. Efectua-se no mês de Maio,
preferindo as margens e mostrando-se à superfície. Seguem assim a longa viagem,
assinalando a passagem por duas faixas, numa extensão de centenas de quilómetros.
Dura isto de oito a dez dias.
Estes
milhões de seres, com o comprimento de sete a dez quilómetros, infiltrou-se por
todos os canais, mesmo nos de reduzido volume.
Este
peixe, que foi tão abundante como apreciado, regressava ao mar, depois de
adulto, com o peso a variar de dois a quatro quilos, favorecendo resultados
compensadores àqueles que à sua pesca se dedicavam. Hoje, estas espécies não
fazem parte da fauna do rio, a partir da Barragem de Belver.
Centenas
de pescadores profissionais, que empregavam toda a sua actividade nesta parte
do rio, têm-se queixado amargamente. A vasta área abrangida pelo
desaparecimento da enguia é deveras considerável e muito se faz sentir na
alimentação dos povos ribeirinhos e outros.
O
maior rio do país encontra-se há muitos anos vedado totalmente à passagem do
peixe e o mesmo se passa nos afluentes como a Ocreza, Ribeira de Nisa, Sever,
Ponsul. Junto do enorme dique têm sucumbido milhões de enguias que o instinto
natural conduziria ao repovoamento em todo o longo curso do Tejo.
Só
uma estatística nos poderia elucidar concretamente e surpreender com números,
do valor do peixe colhido na vasta extensão. É oportuno esclarecer que a
empresa construtora e proprietária da barragem não descurou este importante
assunto (escada de peixe ou passagem de peixe) encarregando um engenheiro
italiano, experiente em obras congéneres, de estudar e construir uma passagem
de peixe, mas uma vez concluída, verificou-se que não é possível a subida.
De
lamentar que assim tivesse sucedido e que assim permaneça esta obra, e muitos
esperam a rectificação, para que as águas do rio tornem a ser povoadas e
enriquecidas com tão apreciadas espécies.
Aníbal
Goulão – “Correio de Nisa” – 13/11/1965