Ó linda vila de Nisa
Cercada de eucaliptais
Acaricias os de fora
Desprezas os naturais.
O site do Município de Nisa tem dado nos últimos
tempos grande destaque à exposição de Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da
Ajuda. Já o tinha feito anteriormente aquando da exposição da referida artista
plástica no Palácio de Versalhes (França), evento aproveitado pela presidente
da Câmara de Nisa para mais uma visita turístico-cultural, a expensas da
autarquia.
Percebe-se o interesse por esta personagem,
depois de a mesma ter retalhado dezenas de peças de artesanato, algumas de
inegável valor histórico, afectivo e patrimonial, para elaborar a sua célebre
Valquíria., peça, recorde-se, destinada a integrar o espólio do Museu do Barro
e do Bordado, depois de ter sido “atracção” supra-turística nas Termas da Fadagosa
de Nisa e de onde, por óbvias razões de saúde e segurança, foi obrigado a
emigrar.
A maioria dos artesãos, “choraram”, na altura, por
verem o fim a que foi destinado peças de grande valor artístico e patrimonial.
Hoje, por insondáveis golpes de magia, a indignação e revolta, deu lugar à
subserviência e adoração, alinhando, entusiasticamente, nas excursões que a
presidente da Câmara – qual agência de viagens e turismo – vai organizando aos
eventos da Vasconcelos Corporation, como forma de desagravo e de aquietação dos
espíritos. É vergonhoso ver como os dinheiros públicos, em tempo de crise, são
assim malbaratados, ao sabor de conveniências pessoais e politicas, em ano de
eleições autárquicas.
As perguntas neste site colocadas sobre a “Marca
Nisa” não tiveram, até ao momento, qualquer resposta. Nem vão ter. A “marca
Nisa” não existe. O que existe é, apenas e só, um enunciado e um logótipo,
bagatelas que serviram para a autarquia pagar uma quantia escandalosa a quem
foi incumbida a tarefa, sem concurso público e sem a mesma ficar terminada.
Para haver uma marca, tem de haver um registo ou patente da mesma. E, ao que se
sabe, não há.
Se houvesse, se o processo fosse claro e
transparente, a Câmara - sempre tão célere a elaborar “Notas da Presidência”, a
propósito de tudo e de nada -, já teria vindo a terreiro, mostrar a sua verdade,
unilateral, única e exclusiva, sobre tão melindroso assunto.
Mas não. Opta pelo silêncio. Não esclarece, nem
os eleitos nem munícipes, como se estes não tivessem o direito de saber como
são gastos os dinheiros públicos.
O "estranho" encantamento da Câmara de Nisa,
através da sua presidente, pela artista Joana Vasconcelos, é tão ou mais
pertinente quando se conhece o completo alheamento e desinteresse revelado pela
autarquia, a propósito do centenário do nascimento de cidadãos nisenses como
Cruz Malpique, José Augusto Fraústo Basso e Augusto Pinheiro, entre outros
ilustres naturais de Nisa, de elevada estatura cultural e cívica, e que não
foram merecedores das honrarias, homenagens e do reconhecimento que tem sido
dispensado a quem nada fez em benefício do concelho.
Entre a placa toponímica, a recordar para os
vindouros o nome e o exemplo de figuras gradas da terra e o glamour do Palácio
da Ajuda, a presidente da Câmara escolhe o mais óbvio e de efeito propagandístico
mais eficaz.
Os munícipes, como sempre, pagarão esta e outras
facturas. É para isso que existem...
Mário
Mendes