28.5.13

No Adeus a George Moustaki (24.05.2013)

Moustaki, um homem bondoso e multicultural
O grande músico  falecido há dias, autor de "Milord", de "Métèque" e de uma fabulosa adaptação de "Fado Tropical", uma ode aos cravos vermelhos do 25 de Abril, era um humanista.
Na sua casa, na ilha Saint-Louis, no centro de Paris, cruzavam-se gentes e culturas do mundo inteiro. Georges Moustaki, de origem grega, era um homem bondoso, zen e fascinante. Fumava marijuana e jogava pingue-pongue, adorava conversar e, sobretudo, receber boas notícias. Morreu hoje, 23 de maio de 2013, em Nice, aos 79 anos de idade.
Um dia, durante uma entrevista para Portugal (publicada no extinto semanário "Sete"), disse-me que uma das grandes notícias que recebera na vida foi a da revolução portuguesa.
Escreveu, aliás, sobre o 25 de Abril, logo em 1974, uma letra fantástica para a adaptação francesa de "Fado Tropical", de Chico Buarque , a que deu o nome de "Portugal". Nessa canção, onde uma parte é cantada em português, evoca a esperança que nasceu no Mundo com os cravos vermelhos que então floresciam à beira do rio Tejo.
Georges Moustaki era um humanista. Escreveu para Edith Piaf, de quem foi amante, a célebre letra da canção "Milord" e é o autor de "Métèque", interpretado por ele próprio e que foi um dos seus maiores êxitos.
Tinha, desde há alguns anos, uma doença grave nas cordas vocais. Curiosamente, ontem à noite, na cave do café-concerto Le Trois Mailletz, um dos seus guitarristas, o brasileiro Toninho do Carmo, falava-me dele e dizia estar inquieto com a sua saúde. Toninho e a sua mulher, a fadista portuguesa Maria Teresa, radicada em Paris, acompanhavam-no, nos últimos anos, em quase todos os seus concertos.
Moustaki, que se instalou em Paris em 1951, vindo da Grécia, era um "monstro" da chamada grande música francesa. Foi amigo de Georges Brassens e escreveu para Edith Piaf, Yves Montand, Juliette Gréco, Barbara e Serge Regianni.

Mas era, sobretudo, um amigo de todos nós. Dos humanistas e dos sonhadores do Mundo inteiro.
Daniel Ribeiro - in "Expresso"

PORTUGAL (Versão de "Fado Tropical" de Chico Buarque)
Oh muse ma complice
Petite sœur d'exil
Tu as les cicatrices
D'un 21 avril
Mais ne sois pas sévère
Pour ceux qui t'ont déçue
De n'avoir rien pu faire
Ou de n'avoir jamais su
A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
A fleuri au Portugal
On crucifie l'Espagne
On torture au Chili
La guerre du Viêt-Nam
Continue dans l'oubli
Aux quatre coins du monde
Des frères ennemis
S'expliquent par les bombes
Par la fureur et le bruit
A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal
Pour tous les camarades
Pourchassés dans les villes
Enfermés dans les stades
Déportés dans les îles
Oh muse ma compagne
Ne vois-tu rien venir
Je vois comme une flamme
Qui éclaire l'avenir
A ceux qui ne croient plus
Voir s'accomplir leur idéal
Dis leur qu'un œillet rouge
À fleuri au Portugal
Débouche une bouteille
Prends ton accordéon
Que de bouche à oreille
S'envole ta chanson
Car enfin le soleil
Réchauffe les pétales
De mille fleurs vermeilles
En avril au Portugal
Et cette fleur nouvelle
Qui fleurit au Portugal
C'est peut-être la fin
D'un empire colonial
Et cette fleur nouvelle
Qui fleurit au Portugal
C'est peut-être la fin
D'un empire colonial.