9.7.11

À FLOR DA PELE - Bombos de Nisa: A "bombar" é que a gente se entende!

Mais de 200 actuações e 150 executantes em 6 anos de existência
Nasceram há seis anos, através de dois amigos, José Maria Martins e Marco Rodrigues. O desafio era entrar numa iniciativa de Carnaval. A surpresa e o impacto que causaram funcionou como a rampa de lançamento para uma actividade intensa que até hoje não mais parou. O grupo de Bombos de Nisa, nados e criados em Fevereiro de 2006, são um grupo de música popular sem “mãos a medir”, nem ânimo a refrear, para irem satisfazendo os inúmeros pedidos de actuações que lhes chegam de todo o país. José Maria Martins, um dos principais impulsionadores do Grupo conta como foi.
Bombos no Carnaval de Nisa
“Começou por ser uma brincadeira, com 12 elementos, no Carnaval de 2006, em Nisa. A surpresa e o apoio das pessoas foi de tal ordem que houve logo muita gente a querer integrar o grupo e chegámos rapidamente aos 30 elementos. Este é o número certo, pois garantir instrumentos e deslocações para mais pessoas, é difícil.
Para nos apresentarmos no desfile, tivemos que arranjar bombos. Fomos falar com um construtor artesanal de bombos ao Alcaide (Fundão). O preço era muito alto para as nossas possibilidades e trouxemos menos material. Voltámos lá, com o meu cunhado “Passarinho” que tinha muito jeito para o artesanato, ele observou como o homem trabalhava e a partir daí foi ele que começou a construir os bombos.”
Refeitos do impacto que provocaram e com a adesão de muitos jovens, o grupo conseguiu um local para ensaios, num espaço cedido pela Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Graça.
“Foi um apoio importante, para mais fora da vila, onde podíamos “bombar” à vontade e sem incomodar ninguém. Mas o que nós queríamos mesmo era um espaço nosso e foi a pensar nisso e em termos alguma autonomia que em 2008 resolvemos constituir-nos em associação cultural e recreativa, com estatutos próprios. Actualmente, ensaiamos num espaço cedido pela ADN, com melhores condições”.
Mais de 200 actuações seis anos
Poucos grupos de música popular terão uma vida tão intensa como a dos Bombos de Nisa.
De Fevereiro de 2006 a Junho deste ano, o grupo contabilizou mais de 200 actuações, não só no próprio concelho, onde actuaram em todas as freguesias, mas por todo o distrito de Portalegre, Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Elvas, Rio Maior, Cedillo (Espanha), e muitas outras localidades.
“Não esperávamos, de facto, uma actividade como a que temos tido e nem sempre podemos responder aos convites que nos fazem, pois já temos recusado alguns, por falta de transporte.
A Câmara Municipal de Nisa tem apoiado, de acordo com as possibilidades, por vezes temos que nos desenrascar com transportes próprios e de amigos. Em todas as terras onde vamos temos sido muito bem recebidos, com grande apoio e carinho, e se em todas as festas damos o nosso melhor, temos de destacar, como grandes manifestações de motivação, as duas participações no festival “Portugal a Rufar”, uma iniciativa impressionante e única em Portugal, com 700 bombos a tocar, e a Festa do Avante, pelo entusiasmo com que nos receberam, mas acima de tudo por podermos “bombar” durante o desfile, para milhares de pessoas.”
“Cuidado com as Peles”
Os Bombos de Nisa são um grupo misto. Conta com trinta elementos, homens, mulheres e crianças, há, até, uma família inteira, que se integram numa família maior que é a amizade reinante no Grupo. Nem sempre podem ir todos, mas, em cada espectáculo, actuam, no mínimo, vinte elementos que tocam bombos, caixas e timbalões (os bombos mais pequenos).
Não se pense que é uma tarefa fácil, a de tocar bombo. Para além do peso do instrumento e da maçaneta, é o esforço de caminhar com um peso às costas, muitas vezes num percurso extenso e nem sempre suave.
Os Bombos de Nisa ensaiam nos fins-de-semana, em que não têm actuações. É quando se juntam e durante hora e meia, passam em “revista”, acertando este ou aquele toque ou tempo de entrada, as diversas peças (rufos) que integram o seu repertório.
Com o tempo e a experiência adquirida, aprenderam noções básicas de como desfilar e como galvanizar o público.
“ Nós não queremos crescer a todo o custo”, garante-nos, José Maria. “Vamos devagar, subindo cada degrau. O que nos motiva, para além de levarmos bem longe o nome de Nisa e de nos divertirmos, é que as contas estejam em dia e posso dizer que todo o material que temos está pago.”
Todo o material, são seis caixas e seis timbalões que custam, em média, 150 euros cada e ainda trinta bombos, ao preço de 200 euros a unidade, sem falar nas maçanetas.
Neste aspecto, os Bombos de Nisa nem sequer se podem queixar. Há alguns amigos que tomaram a iniciativa de lhes ofertarem um destes instrumentos e os Bombeiros emprestaram duas “caixas”.
Por isso, as palavras distintivas dos Bombos na fase inicial “Cuidados com as Peles!” deixaram de fazer sentido.
Aquisição de duas carrinhas
No princípio os Bombos actuavam, tendo como retribuição uma quantia simbólica. Hoje não é muito diferente, embora José Maria Martins, não deixe de apontar os inúmeros encargos do Grupo.
“Os gastos com transportes são cada vez maiores. O meu cunhado faleceu e temos que periodicamente, renovar o material, sujeito a grande desgaste.
Gostávamos de ter o nosso espaço próprio, para os ensaios e podermos recebermos as pessoas amigas, para verem como é que funcionamos. Um dos meus sonhos era criar uma “Escola de Bombos” que pudesse motivar as crianças. Uma das nossas grandes carências está parcialmente resolvida. Comprámos duas carrinhas, em segunda mão, uma de nove lugares e outra para transporte de material, já é uma grande ajuda, mas ainda insuficiente.”
José Maria fala com um brilhozinho nos olhos dos “seus” Bombos. Vê-se que é uma actividade que o entusiasma e à qual se tem dedicado intensamente nos últimos 6 anos.
“ Onde quer que vamos somos bem recebidos e encontramos sempre gente do concelho. Recebemos convites de todo o país, mas é impossível, todos os elementos trabalham e há o problema das deslocações. Como está nos nossos estatutos, somos um grupo sem fins lucrativos. Ninguém recebe um tostão que seja e todos tocam por amor à camisola. O que recebemos pelas actuações destinam-se, exclusivamente, à compra ou à reparação de instrumentos e também na aquisição de uma vestimenta própria. As camisolas, felizmente, muitos têm sido os patrocinadores que as têm oferecido e aos quais aqui agradecemos publicamente. Aproveitamos também para agradecer o apoio dado pela Inijovem e pelo Rancho Típico das Cantarinhas, fundamentais para o arranque da nossa actividade.
Posso adiantar, que em Setembro iremos animar a Festa Rural, em Azay-le-Rideau (França) e levar “aquele abraço” aos nossos conterrâneos e compatriotas.
A todas as pessoas de Nisa, associações e de outras localidades, o nosso muito obrigado. Os Bombos de Nisa existem, também, graças a elas. E, por elas, vamos continuar, com redobrado estímulo. É a “bombar” que a gente se entende. “
Quem quiser contactar os Bombos de Nisa pode fazê-lo através de TLMs 964430552 / 918746508
ou de e-mail osbombosdenisa@gmail.com
Lembrança do “Passarinho”, construtor de bombos
José Maria Carrasco Bizarro, o “Passarinho”, foi um dos primeiros elementos dos Bombos de Nisa e um dos mais interessados na arte de construir instrumentos. Em Alcaide e noutras aldeias do concelho do Fundão, onde ainda persiste esta arte tradicional, o Passarinho aprendeu a fazer os “ninhos” que foram os primeiros bombos de tantos e tantos instrumentistas do grupo.
As peles vinham de Alcanena ou de particulares que as ofereciam. José Bizarro, com uma paciência de passarinho, fazia a estrutura, em madeira ou outros materiais recicláveis, aplicava-lhe, com mestria as peles, conhecendo, por experiência própria, os batimentos a que iriam ser sujeitas.
O “Passarinho” ainda novo, faleceu, após doença prolongada, mas a lembrança da dedicação aos Bombos permanece bem viva na memória de todos aqueles para quem o Grupo é uma autêntica escola, não apenas de música tradicional, mas de convívio e fraternidade, onde o canto dos “passarinhos” nunca deixa de ecoar.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 6/7/2011