30.3.11

XII ROTA DO CONTRABANDO: Pelos caminhos da raia se faz a história e constrói a convivência

Já estamos perto! 3 jovens cedillanos
Os Bombos animaram a festa
2 jovens nisenses
Mais de quatrocentos caminheiros participaram no sábado, dia 26, na 12ª edição da Rota do Contrabando, número que constitui record de participantes no percurso pedestre transfronteiriço, este ano realizado entre Cedillo, na província de Cáceres, e Montalvão no concelho de Nisa. A Rota do Contrabando é uma actividade organizada pela associação juvenil Inijovem, de Nisa, e pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, com a colaboração dos municípios de Cedillo e Nisa e Junta de Freguesia de Montalvão. Foi com o céu cinzento e carregado de nuvens, a prenunciar uma manhã de chuva que o percurso teve início pelas 9 horas em Cedillo. De muito cedo que as calles das típica aldeia extremenha foram tomadas pelos caminheiros, homens e mulheres de todas as idades, ali chegados vindos de diversos sítios da Extremadura (Brozas, Badajoz, Cáceres, Almendralejo, Mérida, etc.) a que se juntaram, naturalmente, muitos cedillanos e portugueses, tanto das povoações fronteiriças, como de outras localidades do país, a exemplo do que vem acontecendo de há uns anos a esta parte. A Rota do Contrabando tem ganho cada vez mais prestígio, muito pela divulgação feita pelos próprios participantes, alguns dos quais nos elogiaram o nível de organização, a hospitalidade e o convívio que encontram tanto no percurso pedestre como nas duas aldeias fronteiriças. A Rota do Contrabando é organizada todos os anos e proporciona a prática saudável de exercício físico ao ar livre e o contacto com as belezas naturais das margens dos rios Tejo e Sever. Foi com esse espírito e quase indiferentes à ameaça de chuva, que os mais de 400 pedestrianistas se lançaram ao caminho e à aventura de percorrer cerca de 21 quilómetros por territórios de Espanha e Portugal onde nos anos 50 e 60 do século passado, os povos de um e outro lado da raia, faziam do contrabando um modo de subsistência, em perigosas travessias nocturnas nas quais, muitas vezes, se jogava a própria vida, para iludir a vigilância dos carabineiros ou dos guardas-fiscais. Um passeio que encerra uma lição de vida e de milhentas histórias, algumas recreadas durante a caminhada por alunos do curso de Animação Sócio-Cultural da Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Nisa. À chegada a Montalvão, decorridas quase seis horas, os caminheiros tinham a esperá-los o Grupo de Bombos de Nisa, dando um final animado e festivo, a uma iniciativa que é já um importante cartaz de divulgação desta região transfronteiriça. Acabado o passeio, outra festa se iniciou no recinto de festas de Montalvão. Após tão longa e desgastante caminhada, os pedestrianistas mereciam e tiveram um repasto a condizer. Os voluntários da Junta de Freguesia de Montalvão e da Inijovem tudo fizeram para que os participantes nesta iniciativa, apreciassem a gastronomia tradicional e pudessem conviver e confraternizar tendo a música popular dos “Domingos e Dias Santos” como pano de fundo. Os Bombos de Nisa fizeram as despedidas e deixaram o convite para a Rota do próximo ano.

Uma Rota de sucesso

A Rota do Contrabando começou há 12 anos, com 80 pedestrianistas. Depois, o número não parou de aumentar, de tal modo que a organização teve que limitar as inscrições. Não por dificuldades de ordem logística ou de segurança, mas porque não é autorizada a circulação, a pé, pelo coroamento da Barragem de Cedillo, o que obriga à travessia do rio Sever, com utilização de barcos e outros meios, uma operação proporcionalmente demorada ao número de participantes, tempo de espera que afecta, naturalmente, o acto de caminhar. É este aspecto que tem impedido a organização de aceitar todas as inscrições, que surgem dos mais variados locais de Portugal e Espanha. Como é o caso daqueles dois “jovens” de 83 anos que vieram de Mérida e à chegada a Montalvão, conseguiam ainda sorrir e mostrar a satisfação de terem cumprido o percurso. Ou das duas amigas de Brozas, que realçam o prazer de caminhar e o convívio que se estabelece entre todos os pedestrianistas. Pela Rota passam pais e filhos, jovens e menos jovens, muitas mulheres que não temem o esforço e sabem que esta é uma iniciativa saudável e de contacto com a natureza.

Joaquina (52 anos) e Lola (60 anos) pertencem ao Clube de Senderismo de Mérida. Percorrem a Espanha e alguns países europeus em iniciativas semelhantes, mas da Rota não escondem que “ há um extraordinário espírito de convivência entre países e foi muito bonita a recepção pelos tambores”. Gostaram do passeio e elogiaram a organização.

“Rota foi demonstração de participação e deu-nos novo alento”

Marco Moura – Presidente da Inijovem

Para o presidente da Inijovem, Marco Moura, este foi mais um desafio superado graças “às ajudas que tivemos e aos voluntários com experiência na organização”. “Trabalhámos no limite, tivemos um acréscimo muito grande de pedestrianistas e o balanço é positivo e tendo em conta as dificuldades do associativismo posso dizer que esta “Rota” foi uma demonstração de participação e que nos dá um novo alento.” “Esta é uma iniciativa a nível nacional e internacional e neste momento o maior evento a nível do concelho”, reforçou. Quanto aos custos da iniciativa, Marco Moura disse que a mesma “não dá lucro, ao contrário do que possam pensar, paga-se a si própria, mas graças ao voluntariado, aos apoios logísticos da Junta de Freguesia de Montalvão, do Ayuntamiento de Cedillo e da Câmara Municipal de Nisa. Temos também apoio do Instituto da Juventude através do PAJ, o evento é uma parceria com a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal e só não alargámos mais a participação devido às dificuldades das travessias dos rios. Esta iniciativa, por outro lado, reforça a necessidade e importância da construção da ponte internacional”. Por último, o presidente da Inijovem deixou um agradecimento a todos os voluntários, a todos aqueles que colaboraram e aos participantes na Rota. “Venham e tragam mais companheiros. Esta é uma oportunidade para a divulgação do interior português e espanhol”.

Mário Mendes