9.2.11

PROJECTO DE NISA EM FASE CRUCIAL ( 1 )

TERMALISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
« A ÁGUA MINERAL É UM DOM DE DEUS E DA NATUREZA. AO HOMEM CABE USÁ-LA PARA TRATAR OS QUE SOFREM E DESENVOLVER AS TERRAS ONDE O RECURSO BROTA DO SUBSOLO ; NÃO O FAZER É VERDADEIRO CRIME ».
Palavras escritas há trinta anos por Mário Gonçalves Carneiro, um dos maiores vultos da hidrologia médica portuguesa do sec. XX, grande impulsionador do termalismo em Trás-os-Montes e na Galiza.
Propomo-nos, nesta e em próximas edições da revista, abordar aspectos ligados ao termalismo.
Começaremos por tratar aspectos de carácter geral que importa situar para avaliar posteriormente do caminho actual seguido no projecto termal de Nisa.
Focaremos ainda (relembrando, por indispensável para o êxito de cada caso individual) o plano de desenvolvimento de termalismo no Alentejo (ao que parece, adormecido ou mesmo ignorado) e, de maneira especial, o programa termal conjunto do norte-alentejano (que parece estar apenas no papel, ou nem isso...)
1. A actividade ligada às termas, de maneira directa e indirecta,tem significativo efeito de dinamização do território, económica e socialmente.
Os estudos realizados concluem que por cada euro gasto na cura termal há uma multiplicação por quatro do valor movimentado na economia local por parte dos aquistas que vêm de fora.
Todos ficam a ganhar: cafés, restaurantes, pensões, residenciais e outras formas de alojamento, comércios em particular os ligados à alimentação, gasolineiras, táxis, lojas de «souvenirs», a população que recorre ao aluguer de quartos. Os estabelecimentos termais podem localizar-se na próprias vilas ou, como é o caso de Nisa, situar-se no centro de um triângulo, distando alguns (poucos) quilómetros das localidades vizinhas. Tanto num caso como no outro, há forte influência das termas sobre a organização e imagem das terras circundantes, chegando nas «vilas termais» (primeiro tipo de situação acima descrita) a influenciar um urbanismo próprio, nomeadamente ao nível comercial e em espaços adaptados para movimentação pedestre ou ciclística visando a ocupação saudável dos tempos livres dos aquistas.
2. A actividade termal deve estar absolutamente articulada com todos elementos de animação da vida local, ao nível de actividades e uso de equipamentos. Piscinas, bibliotecas, salas de cinema e teatro, pavilhões desportivos, passeios turísticos e de bicicleta, desportos náuticos, festas populares, entre outros, devem constituir factores de envolvimento e satisfação dos curistas.
3. Independentemento da natureza da gestão do estabelecimento termal (pública, privada ou cooperativa) esta função integradora visando oferecer um produto termal e turístico completo cabe aos municípios numa postura de coordenação e dinamização do termalismo.
4. Para ter sucesso o termalismo enquanto actividade económica prestadora de cuidados de saúde especiais tem de tratar a doença e promover a saúde numa lógica preventiva. A cura termal dirige-se aos que sofrem de doença crónica mas também pode (e deve) ser usada na manutenção e reabilitação de doenças profissionais.
5. O que é indispensável para angariar e fidelizar clientes é concretizar a cura termal em termos especializados, com a intervenção tecnicamente competente dos profissionais envolvidos no funcionamento do balneário, com destaque (sem elitismos) para os médicos. Estes têm que ter experiência de medicina termal (todos), mas alguns terão que acumular a condição de especialistas das áreas cientificamente comprovadas que ganham com o uso de cada água medicinal. Por exemplo, no caso de Nisa, neste capítulo, sem a presença da reumatologia, fisiatria, alergologia e otorrinolaringologia, o serviço prestado será sempre algo insuficiente e, mesmo, inibidor da satisfação dos curistas e impeditivo de qualquer trabalho de investigação séria que um termalismo moderno impõe.
José Manuel Basso - médico hidrologista