30.4.14

Cooperativa Agro Pecuária de Nisa encerrada desde 11 de Abril

As instalações da Nisacoop – loja e escritório – estão fechadas ao público desde o dia 11 de Abril, depois de duas convocatórias da Assembleia-Geral para a eleição dos corpos sociais terem resultado infrutíferas, mantendo-se o vazio directivo.
Na Nisacoop – Cooperativa Agro Pecuária de Nisa, que resultou da extinção do Grémio da Lavoura, criado em 1939, laboram seis trabalhadores com salários em atraso há mais de cinco meses. Apesar da débil situação económica em que se encontravam, os trabalhadores aceitaram fazer a “campanha do lagar”, para não agravar as condições financeiras da Cooperativa, mantendo-se, sem receber, nos seus postos de trabalho, até ao passado dia 11 de Abril, após o que, devido ao vazio directivo existente e sem perspectivas de solução a curto prazo, a situação se tornou insustentável.
Para esclarecer todas estas questões, contactámos Mário Condessa, o anterior presidente da direcção da Nisacoop.
“Dificuldades financeiras têm a ver com os elevados encargos bancários contraídos para a construção do lagar” -
- Mário Condessa, presidente da direcção da Nisacoop
Face ao encerramento das instalações da Nisacoop, contactámos o presidente da direcção da cooperativa, Mário Condessa, a quem colocámos algumas questões.
AA - As instalações da Nisacoop – loja e escritório – estão fechadas ao público desde meados de Abril. Que motivos levaram ao encerramento das instalações?
MC - “ O encerramento das instalações da Nisacoop deveu-se ao facto de os seus funcionários terem solicitado a suspensão dos seus contratos de trabalho, motivados pelos atrasos de pagamento dos seus vencimentos, num período superior a 3 meses.”
AA - Qual a situação da Nisacoop a nível directivo, sabendo-se que as duas convocatórias da Assembleia Geral não produziram qualquer efeito, em termos da eleição dos Corpos Sociais?
MC - “Os actuais corpos gerentes mantêm-se em funções até que novos corpos sociais sejam eleitos. Relembro que, apesar de alguns elementos da Direcção terem pedido a renúncia aos seus mandatos, a assembleia geral não aceitou esse facto.”
AA - Quais as principais dificuldades da Nisaccop a nível organizacional-financeiro que contribuíram para o avolumar do passivo da Cooperativa?
MC - “ As principais dificuldades derivam dos elevados encargos bancários contraídos para a construção do lagar, do excesso de funcionários para a estrutura da cooperativa e da estrutura fundiária em que se baseia a agricultura do nosso concelho. A redução significativa da área de olival, provocada pelos incêndios de 2003 e 2005, os elevados custos de mão de obra necessários para a colha das nossas variedades de oliveira e a fraca resistência da oliveira galega às principais doenças que a  afectam são as principais causas da redução significativa da apanha de azeitona no nossos concelho. Os custos de transformação da azeitona no lagar, muitas vezes comentadas como sendo um factor inibidor da colheita da azeitona, não são, no nosso ponto de vista, verdadeiros, uma vez que os preços praticados por nós na chamada "maquia" situam-se abaixo dos valores praticados na região, com a vantagem de os produtores poderem assistir a todo o processo de laboração e a levarem o seu próprio azeite. Se a Nisacoop não tivesse os encargos financeiros que tem poder-se-iam praticar valores mais baixos.”
AA - Os seis trabalhadores da Nisacoop têm, como é do conhecimento público, salários em atraso há mais de cinco meses. O que levou a esta situação e como pensa que a mesma poderá ser resolvida?
MC - “ Os atrasos de pagamento dos vencimentos aos funcionários deveu-se à redução significativa das vendas da loja e à necessidade de assegurar o pagamento dos encargos sociais e bancários. A resolução do pagamento dos vencimentos em atraso aos trabalhadores está para breve, dependendo da evolução das possibilidades que estamos a equacionar para o futuro da cooperativa.”
AA - Face a toda esta situação, quais as perspectivas de futuro para a Nisacoop?
MC - “As perspectivas de futuro para a Nisacoop serão, na nossa opinião, equacionadas em função da valorização do seu património e da utilização que lhe vier a ser dada e do cumprimento atempado dos encargos assumidos. A venda de património, muitas vezes aventada para a praça pública, não está nos nossos horizontes. Existem outras formas de o valorizar e é para isso que estamos a trabalhar.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 30/4/2014