As instalações da Nisacoop – loja e escritório – estão
fechadas ao público desde o dia 11 de Abril, depois de duas convocatórias da
Assembleia-Geral para a eleição dos corpos sociais terem resultado
infrutíferas, mantendo-se o vazio directivo.
Na Nisacoop – Cooperativa Agro Pecuária de Nisa, que
resultou da extinção do Grémio da Lavoura, criado em 1939, laboram seis
trabalhadores com salários em atraso há mais de cinco meses. Apesar da débil
situação económica em que se encontravam, os trabalhadores aceitaram fazer a “campanha
do lagar”, para não agravar as condições financeiras da Cooperativa,
mantendo-se, sem receber, nos seus postos de trabalho, até ao passado dia 11 de
Abril, após o que, devido ao vazio directivo existente e sem perspectivas de
solução a curto prazo, a situação se tornou insustentável.
Para esclarecer todas estas questões, contactámos Mário
Condessa, o anterior presidente da direcção da Nisacoop.
“Dificuldades
financeiras têm a ver com os elevados encargos bancários contraídos para a
construção do lagar” -
- Mário
Condessa, presidente da direcção da Nisacoop
Face ao encerramento das instalações da Nisacoop,
contactámos o presidente da direcção da cooperativa, Mário Condessa, a quem
colocámos algumas questões.
MC - “ O encerramento
das instalações da Nisacoop deveu-se ao facto de os seus funcionários terem
solicitado a suspensão dos seus contratos de trabalho, motivados pelos atrasos
de pagamento dos seus vencimentos, num período superior a 3 meses.”
AA - Qual a situação da Nisacoop a nível directivo, sabendo-se que as
duas convocatórias da Assembleia Geral não produziram qualquer efeito, em
termos da eleição dos Corpos Sociais?
MC - “Os actuais corpos gerentes
mantêm-se em funções até que novos corpos sociais sejam eleitos. Relembro que,
apesar de alguns elementos da Direcção terem pedido a renúncia aos seus
mandatos, a assembleia geral não aceitou esse facto.”
AA - Quais as principais dificuldades da Nisaccop a nível
organizacional-financeiro que contribuíram para o avolumar do passivo da
Cooperativa?
MC - “ As principais dificuldades
derivam dos elevados encargos bancários contraídos para a construção do lagar,
do excesso de funcionários para a estrutura da cooperativa e da estrutura
fundiária em que se baseia a agricultura do nosso concelho. A redução significativa
da área de olival, provocada pelos incêndios de 2003 e 2005, os elevados custos
de mão de obra necessários para a colha das nossas variedades de oliveira e a
fraca resistência da oliveira galega às principais doenças que a afectam
são as principais causas da redução significativa da apanha de azeitona no
nossos concelho. Os custos de transformação da azeitona no lagar, muitas vezes
comentadas como sendo um factor inibidor da colheita da azeitona, não são, no
nosso ponto de vista, verdadeiros, uma vez que os preços praticados por nós na
chamada "maquia" situam-se abaixo dos valores praticados na
região, com a vantagem de os produtores poderem assistir a todo o processo de
laboração e a levarem o seu próprio azeite. Se a Nisacoop não tivesse os encargos
financeiros que tem poder-se-iam praticar valores mais baixos.”
AA - Os seis trabalhadores da Nisacoop têm, como é do conhecimento
público, salários em atraso há mais de cinco meses. O que levou a esta situação
e como pensa que a mesma poderá ser resolvida?
MC - “ Os atrasos de pagamento dos
vencimentos aos funcionários deveu-se à redução significativa das vendas da
loja e à necessidade de assegurar o pagamento dos encargos sociais e bancários.
A resolução do pagamento dos vencimentos em atraso aos trabalhadores está para
breve, dependendo da evolução das possibilidades que estamos a equacionar para
o futuro da cooperativa.”
AA - Face a toda esta situação, quais as perspectivas de futuro para a
Nisacoop?
MC - “As perspectivas de futuro
para a Nisacoop serão, na nossa opinião, equacionadas em função da valorização
do seu património e da utilização que lhe vier a ser dada e do cumprimento
atempado dos encargos assumidos. A venda de património, muitas vezes aventada
para a praça pública, não está nos nossos horizontes. Existem outras formas de
o valorizar e é para isso que estamos a trabalhar.”
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 30/4/2014