Integrado no programa cultural da Feira do Livro de Nisa, tem lugar no próximo dia 31 de Maio, às 17 horas, na Biblioteca Municipal de Nisa, o lançamento da obra "Livro de Linhagens da Vila de Nisa - Um mapa de Identidades" da autoria de Filipe Manuel Louro Carita e João Maria Melato Carita. O livro é editado pelas Edições Colibri com o apoio da Câmara Municipal de Nisa. Para uma melhor compreensão da obra, deixamos o registo do Prefácio:
"Talvez nem sempre ocorra à árvore esconder a floresta. É esta suspeita que neste trabalho se pretenderá precisamente comprovar.
Se esta aventura de investigação genealógica se moveu inicialmente por mera curiosidade pessoal e familiar, depressa este empreendimento, que durante uma década nos ocuparia, nos levava a constatar que a informação acumulada já nos não pertenceria por inteiro.
Descobríamos, deste modo, estar na posse de um manancial de dados com capacidade para recobrir todas as famílias que, entre os séculos XVI e XX, constituíram uma grande parte da população da vila de Nisa durante um segmento temporal de quase cinco séculos.
Era, então, para nós, uma evidência estarmos em posse de elementos suficientes para que qualquer nisense actual se propusesse, se assim o entendesse, iniciar também ele agora uma viagem a um passado remoto e, desta feita, viesse a descobrir muitos daqueles de que descende e cujo rosto e rasto o tempo terá inexoravelmente relegado para um mais que previsível esquecimento.
Apanágio do homem, isso mesmo também que o diferencia e lhe constitui a verdadeira essência, sempre foi essa questão maior que desde a noite dos tempos o tem vindo a acompanhar: de onde vim?; quem sou?; para onde vou?
E não apenas numa perspectiva religiosa ou metafísica senão igualmente histórica.
Não pudemos deixar de considerar estarem criadas, assim, algumas das principais condições que tornavam possível uma resposta abrangente àquela última e para o que haveriam de concorrer todos os dados factuais recolhidos e cuja apresentação julgamos aqui dever partilhar.
Qualquer natural desta vila, ou com origens ancestrais nela, fica doravante habilitado e convocado a encetar um percurso múltiplo rumo às suas raízes familiares, em muitos casos, localizadas num já longínquo século XVI.
Este foi, pelo menos numa segunda fase do nosso trabalho, o nosso propósito, movidos agora tão‑só pelo desejo de pôr à disposição da comunidade o que decididamente não constituiria já uma herança só nossa.
Entendemos, pois, ser uma quase obrigação nossa divulgá‑la, ou melhor, restituí‑la à comunidade no seio da qual foi gerada.
Esperamos não defraudar expectativas com este trabalho que é, afinal, a reconstituição de uma memória histórica de toda uma comunidade de destino a que pertencem também os autores.
Neste nosso tempo tão marcado por um culto insidioso do instante e do curto prazo, neste tempo de globalização em que vão escasseando cada vez mais pontos de referência e em que os laços sociais e comunitários se vão quase inelutavelmente diluindo neste processo vertiginoso de erosão das raízes e individualidades, não raro fonte de incerteza e insegurança, aqui deixamos um pequeno e modesto contributo para que se não perca aquele sempre tão frágil fio de memória que nos torna capazes de uma projecção criativa nos horizontes amplos do futuro.
Não nos advertiu já o poeta francês Paul Valéry de que «entramos no futuro a andar para trás»?"
João Maria Melato Carita
"Talvez nem sempre ocorra à árvore esconder a floresta. É esta suspeita que neste trabalho se pretenderá precisamente comprovar.
Se esta aventura de investigação genealógica se moveu inicialmente por mera curiosidade pessoal e familiar, depressa este empreendimento, que durante uma década nos ocuparia, nos levava a constatar que a informação acumulada já nos não pertenceria por inteiro.
Descobríamos, deste modo, estar na posse de um manancial de dados com capacidade para recobrir todas as famílias que, entre os séculos XVI e XX, constituíram uma grande parte da população da vila de Nisa durante um segmento temporal de quase cinco séculos.
Era, então, para nós, uma evidência estarmos em posse de elementos suficientes para que qualquer nisense actual se propusesse, se assim o entendesse, iniciar também ele agora uma viagem a um passado remoto e, desta feita, viesse a descobrir muitos daqueles de que descende e cujo rosto e rasto o tempo terá inexoravelmente relegado para um mais que previsível esquecimento.
Apanágio do homem, isso mesmo também que o diferencia e lhe constitui a verdadeira essência, sempre foi essa questão maior que desde a noite dos tempos o tem vindo a acompanhar: de onde vim?; quem sou?; para onde vou?
E não apenas numa perspectiva religiosa ou metafísica senão igualmente histórica.
Não pudemos deixar de considerar estarem criadas, assim, algumas das principais condições que tornavam possível uma resposta abrangente àquela última e para o que haveriam de concorrer todos os dados factuais recolhidos e cuja apresentação julgamos aqui dever partilhar.
Qualquer natural desta vila, ou com origens ancestrais nela, fica doravante habilitado e convocado a encetar um percurso múltiplo rumo às suas raízes familiares, em muitos casos, localizadas num já longínquo século XVI.
Este foi, pelo menos numa segunda fase do nosso trabalho, o nosso propósito, movidos agora tão‑só pelo desejo de pôr à disposição da comunidade o que decididamente não constituiria já uma herança só nossa.
Entendemos, pois, ser uma quase obrigação nossa divulgá‑la, ou melhor, restituí‑la à comunidade no seio da qual foi gerada.
Esperamos não defraudar expectativas com este trabalho que é, afinal, a reconstituição de uma memória histórica de toda uma comunidade de destino a que pertencem também os autores.
Neste nosso tempo tão marcado por um culto insidioso do instante e do curto prazo, neste tempo de globalização em que vão escasseando cada vez mais pontos de referência e em que os laços sociais e comunitários se vão quase inelutavelmente diluindo neste processo vertiginoso de erosão das raízes e individualidades, não raro fonte de incerteza e insegurança, aqui deixamos um pequeno e modesto contributo para que se não perca aquele sempre tão frágil fio de memória que nos torna capazes de uma projecção criativa nos horizontes amplos do futuro.
Não nos advertiu já o poeta francês Paul Valéry de que «entramos no futuro a andar para trás»?"
João Maria Melato Carita