2.4.25

OPINIÃO: Vocês são os nossos Heróis

No passado dia 27-03 comemorou-se o Dia Nacional do Dador de Sangue. Foi um dia de celebração, de enaltecer e agradecer a todos os dadores o enorme gesto de salvar vidas. Para eles não há palavras suficientes que expliquem a dimensão das suas ações; por isso temos o dever de reconhecer e de exigir respeito por estes heróis.

Foi graças ao movimento associativo liderado pelo estimado Comendador Joaquim Moreira Alves, que nasceu o Serviço Nacional de Sangue em 1988; este permitiu a criação da rede nacional de transfusão de sangue, plasmada na Lei n.º 25/89, de 2 de agosto[1]. Desta forma, foi possível começar a gerir melhor os stocks de sangue e foram criadas condições para existirem reservas, para que não morressem pessoas e para que ninguém fosse obrigado a andar à procura de pessoas para dar / repor sangue.

Este movimento que cresceu em especial nos anos 80 e 90, debate-se hoje com várias contrariedades:

1 – Muitos dirigentes acusam o envelhecimento dos seus corpos sociais e sentem a dificuldade de atrair novos dirigentes. Existem fatores negativos para tal como a desestruturação da sociedade, como é o caso do setor laboral.

2 – Há mais de uma década que o financiamento às Associações e Grupos de Dadores de Sangue, não é revisto e perante a realidade atual, muitos veem o subsídio a diminuir e as despesas a aumentarem.

3 – Os primeiros meses do ano, obrigam muitos dirigentes a adiantar do seu bolso, as verbas necessárias para a atividade da promoção da dádiva de sangue. Não é justo que, ao fim de tantos anos ainda não exista uma solução para esta questão.

Trata-se de uma grande preocupação dos voluntários promotores da dádiva, que prestam um trabalho impagável a este país e não estão a ser respeitados.

4 – O recorrente cancelamento de colheitas depois de um trabalho de programação e promoção, desanima e por vezes gera revolta nos dirigentes voluntários que dão parte da sua vida para esta causa.

Estou consciente do trabalho e dos esforços, mas também, de um futuro incerto se nada for feito para resolver problemas que afetam a dádiva de sangue. Em pouco mais de uma década, Portugal “perdeu” mais de 50 mil dadores, por vários motivos:

– Emigração, envelhecimento, mercado de trabalho desregulado.

– O aumento de problemas de saúde a par da falta de prevenção, de dificuldades no SNS e a tendência para poderem aumentar as causas de rejeição de dadores, como o aumento de comportamentos de risco.

A federação a que presido - FAS-Portugal no sentido de melhorar, defendemos:

1 – o aumento da idade de referência dos 65 anos para os 70, como está definido, por exemplo em França.

2 – seguindo o exemplo francês, uma colheita de sangue não deve deixar de se efetuar por falta de médico; neste país, os enfermeiros podem fazer a triagem, com a certeza de que estão habilitados para tal e, se for necessário, terão o apoio de um médico via online.

3 – pretendemos o reforço dos meios humanos e frota de unidades móveis do IPST.

4 – garantir a não descriminação de dadores e dirigentes. Para tal é importante rever as disposições legais para o efeito.

5 – garantir o devido apoio e tempo e horas ao movimento associativo.

6 – fomentar mais ações de sensibilização nas Escolas, envolvendo toda a comunidade escolar e garantir um compromisso do Ministério da Educação para este desiderato.

7 – o apoio dos órgãos de comunicação social públicos à dádiva de sangue; incentivar a imprensa regional a promoverem a dádiva de sangue.

8 – apostar mais no processo de colheita de componentes sanguíneos pelo processo de aférese.

Os dadores merecem o nosso reconhecimento e respeito. De forma benévola e altruísta, dão o seu precioso líquido, sem saber para quem. Esse respeito passa por darmos as melhores condições e não permitir que um dador esteja duas horas à espera e depois seja rejeitado por não existirem condições para lhe ser colhida uma dádiva que tanta falta faz.

Ontem foi o dia, de prestar homenagem aos profissionais de saúde que se empenham e tratam os dadores como merecem; o dia em que agradecemos o trabalho extraordinário dos dirigentes voluntários das Associações e Grupos de Dadores de Sangue, mas foi principalmente o dia de dizer aos dadores de sangue, VOCÊS SÃO OS NOSSOS HERÓIS.

Nota: Excerto da minha intervenção em nome da FAS-Portugal, na sessão comemorativa do Dia Nacional do Dador de Sangue (Auditório da Biblioteca Municipal da Figueira da Foz).

 

·        Paulo Cardoso - 28-03-2025 - Programa Desabafos - Rádio Portalegre