Foi
graças ao movimento associativo liderado pelo estimado Comendador Joaquim
Moreira Alves, que nasceu o Serviço Nacional de Sangue em 1988; este permitiu a
criação da rede nacional de transfusão de sangue, plasmada na Lei n.º 25/89, de
2 de agosto[1]. Desta forma, foi possível começar a gerir melhor os stocks de
sangue e foram criadas condições para existirem reservas, para que não
morressem pessoas e para que ninguém fosse obrigado a andar à procura de
pessoas para dar / repor sangue.
Este
movimento que cresceu em especial nos anos 80 e 90, debate-se hoje com várias
contrariedades:
1 –
Muitos dirigentes acusam o envelhecimento dos seus corpos sociais e sentem a
dificuldade de atrair novos dirigentes. Existem fatores negativos para tal como
a desestruturação da sociedade, como é o caso do setor laboral.
2 –
Há mais de uma década que o financiamento às Associações e Grupos de Dadores de
Sangue, não é revisto e perante a realidade atual, muitos veem o subsídio a
diminuir e as despesas a aumentarem.
3 –
Os primeiros meses do ano, obrigam muitos dirigentes a adiantar do seu bolso,
as verbas necessárias para a atividade da promoção da dádiva de sangue. Não é
justo que, ao fim de tantos anos ainda não exista uma solução para esta
questão.
Trata-se
de uma grande preocupação dos voluntários promotores da dádiva, que prestam um
trabalho impagável a este país e não estão a ser respeitados.
4 –
O recorrente cancelamento de colheitas depois de um trabalho de programação e
promoção, desanima e por vezes gera revolta nos dirigentes voluntários que dão
parte da sua vida para esta causa.
Estou
consciente do trabalho e dos esforços, mas também, de um futuro incerto se nada
for feito para resolver problemas que afetam a dádiva de sangue. Em pouco mais
de uma década, Portugal “perdeu” mais de 50 mil dadores, por vários motivos:
–
Emigração, envelhecimento, mercado de trabalho desregulado.
– O
aumento de problemas de saúde a par da falta de prevenção, de dificuldades no
SNS e a tendência para poderem aumentar as causas de rejeição de dadores, como
o aumento de comportamentos de risco.
A
federação a que presido - FAS-Portugal no sentido de melhorar, defendemos:
1 –
o aumento da idade de referência dos 65 anos para os 70, como está definido,
por exemplo em França.
2 –
seguindo o exemplo francês, uma colheita de sangue não deve deixar de se
efetuar por falta de médico; neste país, os enfermeiros podem fazer a triagem,
com a certeza de que estão habilitados para tal e, se for necessário, terão o
apoio de um médico via online.
3 –
pretendemos o reforço dos meios humanos e frota de unidades móveis do IPST.
4 –
garantir a não descriminação de dadores e dirigentes. Para tal é importante
rever as disposições legais para o efeito.
5 –
garantir o devido apoio e tempo e horas ao movimento associativo.
6 –
fomentar mais ações de sensibilização nas Escolas, envolvendo toda a comunidade
escolar e garantir um compromisso do Ministério da Educação para este
desiderato.
7 –
o apoio dos órgãos de comunicação social públicos à dádiva de sangue;
incentivar a imprensa regional a promoverem a dádiva de sangue.
8 –
apostar mais no processo de colheita de componentes sanguíneos pelo processo de
aférese.
Os
dadores merecem o nosso reconhecimento e respeito. De forma benévola e
altruísta, dão o seu precioso líquido, sem saber para quem. Esse respeito passa
por darmos as melhores condições e não permitir que um dador esteja duas horas
à espera e depois seja rejeitado por não existirem condições para lhe ser
colhida uma dádiva que tanta falta faz.
Ontem
foi o dia, de prestar homenagem aos profissionais de saúde que se empenham e
tratam os dadores como merecem; o dia em que agradecemos o trabalho
extraordinário dos dirigentes voluntários das Associações e Grupos de Dadores
de Sangue, mas foi principalmente o dia de dizer aos dadores de sangue, VOCÊS
SÃO OS NOSSOS HERÓIS.
Nota:
Excerto da minha intervenção em nome da FAS-Portugal, na sessão comemorativa do
Dia Nacional do Dador de Sangue (Auditório da Biblioteca Municipal da Figueira
da Foz).
·
Paulo
Cardoso - 28-03-2025 - Programa Desabafos - Rádio Portalegre