5.11.24

OPINIÃO: A religião Trump

Os Estados Unidos vão hoje a votos depois de uma longa corrida eleitoral, mais cara e mais violenta desde que há memória. Hoje, milhões de americanos vão escolher entre Donald Trump e Kamala Harris e, por causa disso, o Mundo também sustém a respiração. Uma movimentação desta magnitude tem consequências durante anos para além das fronteiras dos Estados Unidos, porque estas eleições tornaram-se numa luta existencial pelos princípios que sustentam as democracias ocidentais. Trump concorre pela terceira vez como candidato republicano. Este personagem icónico chega ao dia de hoje depois de ter sequestrado a Direita, cujos elementos mais conservadores não foram capazes de o desalojar de uma liderança baseada, não na capacidade, mas num messianismo fanático no qual milhões de americanos acreditam. Foi com base nesse fanatismo que ganhou inesperadamente a presidência entre 2017 e 2021: demoliu todas as tradições democráticas que rodeavam as instituições e implementou um programa cruel em questões como a imigração ou o direito ao aborto. Em 2020, perdeu frente a Joe Biden, mas nem por isso desistiu. Encorajou uma insurreição entre os seus apoiantes num ataque ao Capitólio e, apesar dos escândalos, mentiras e piadas, está hoje posicionado para cantar vitória. Só num país como os Estados Unidos é que Trump poderia ter sobrevivido politicamente após quatro processos judiciais, num dos quais já condenado. Nestes dias, os Estados Unidos são a democracia com a qual as democracias são comparadas, e a vitória de Trump seria a confirmação de que tempos sombrios se avizinham Ao mesmo tempo Kamala Harris tem a responsabilidade de repetir a vitória de Joe Biden, que travou esta tendência há quatro anos. Se o conseguir, ficará na História com a primeira mulher presidente. Mas não esqueçamos que foi Hillary Clinton, aquela que estava destinada a sê-lo, que Trump derrotou.. • António José Gouveia – Jornal de Notícias - 04 novembro, 2024