E pronto!
No dia 18 de Setembro de 2008, quinta-feira, quatro dias
antes do começo do Outono, chegaram uns homens ao Jardim Camarário de Nisa e
retiraram dali cerca de duas dezenas de esqueletos de tílias ali assassinadas.
Não ficou lápide a evocar o facto para a posteridade, como,
ultimamente, é norma. O acto não foi digno nem respeitável e deve ser
esquecido.
Antigamente, era pelos Finados que os irmãos das
Misericórdias retiravam das forcas o que restava dos ali justiçados ao longo do
ano. Mas, curiosamente, aqui as inocentes árvores foram condenadas, não pelos
seus crimes, que, aliás, não cometeram, mas pelos dos outros.
À carcaça da Árvore das Mentiras deceparam-lhe os braços e
deixaram-lhes os cotos erguidos aos céus - Uma mensagem a mostrar a força do
poder e/ou uma vã esperança que algo ali renasça, ou, mas impensadamente, uma
alegoria ao martírio, à revolta e ao atentado ao ambiente?
Talvez, pelo Natal, a lenha/ossos sejam doados para que
neste Inverno aqueçam os corações inconformados daqueles que amorosamente
mentiram à sombra de um dos ex-ex-libris de Nisa!
Talvez, um dia, cheguem uns artesãos estrangeiros para
esculpirem, para os da terra verem, os esbranquiçados cotos que passarão a
ouvir desabafos verdadeiros, em surdina, e, em alta-voz, outro tipo de mentiras!
Na Primavera os ares não serão perfumados, as abelhas não
zumbirão, mas o sol não faltará!
E até um trabalho de investigação da nossa autoria (1993)
onde, em texto, fotografias, desenhos, plantas topográficas …, se mostrava a
evolução daquele espaço, o antigo Jardim Municipal de Nisa e se localizavam as
diferentes espécies vegetais, algumas das quais hoje desaparecidas, desapareceu
da Biblioteca Municipal de Nisa.
E a Fonte, que era do Rossio, jaz escondida!
E, agora, já estão a pensar, para actuar, que o monumento ao
Dr. Francisco da Graça Miguéns está desenquadrado?
ExpoNisa chamou um guineense, que trabalhava na feitura da
cascata, a todos aqueles (des)arranjos. Tinha razão?
E para que conste para a história, a fotografia, que ilustra
o texto, datada de Setembro de 1993, contempla a Árvore das Mentiras e o
monumento ao Dr. Francisco da Graça Miguéns.
José Dinis Murta - Setembro, 2008