16.10.09

SOLIDARIEDADE PARA COM OS TRABALHADORES DAS PEDREIRAS DE GRANITOS (II)

Alpalhão, Nisa e Gáfete (concelhos de Nisa e Crato)
Pretende o seguinte texto denunciar e, de algum modo, tentar arregimentar vontades solidárias em torno da questão, salários em atraso nas empresas de exploração de granitos em Alpalhão e Nisa, juntar forças e vontades que de alguma forma exerçam pressão pública e movam influências que levem os responsáveis a corrigir a aberrante situação. O problema é vasto e grave pelo que me foi dado saber, por isso repiso o assunto, insistindo em apelar a todos que encontrem formas de expressar a sua solidariedade para com estes trabalhadores, quer divulgando o texto através dos vossos contactos de e-mail, quer comentando o texto, ou ainda publicando-o nos vossos blogues. Não esqueçam o famoso poema de Bertold Brecht sobre a ascensão repressiva do nazismo, hoje são os trabalhadores das pedreiras, amanhã serei eu e depois de amanhã sereis vós.
Consegui recolher informações sobre as seguintes empresas, "Granitos Maceira, SA" e "Singranova", ambas pertença da família do Comendador Francisco Ramos, e "Granisan", de Nisa, da qual são principais accionistas os senhores Tsukamoto e Armando Crespo, e pelo que me foi dado a conhecer as situações devem-se não há conjuntura de crise internacional mas a gestão danoso que não terá pago os impostos em devido tempo.
Não podendo ser branqueado, muito menos ignorado, porque o povo tem memória, o deplorável comportamento destes senhores, algo no entanto me preocupa mais que dois ou três empresários sem ética nem moral: a perfeita inoperância das instituições públicas e sindicatos na resolução da triste situação, na aplicação da legislação laboral em vigor, na regulação das relações e contratos de trabalho, enfim, no apoio a estes trabalhadores que além de explorados, enganados, ameaçados, além de não receberem os salários ainda vivem sob um instalado império do medo que lhes foi imposto e vivem autêntico pesadelo bem acordados, para que a ferida doa mais e sintam que a sua dignidade lhes foi cobardemente subtraída.
De facto, os senhores Comendador Francisco Ramos, Tsukamoto e Crespo só aparentemente são os vilões desta história, como bons oportunistas limitam-se a aproveitar a falência quer dos serviços públicos competentes para resolverem o problema, sejam a Inspecção Geral do Trabalho delegação de Portalegre, seja a Câmara Municipal de Nisa que tem por obrigação ajudar todos os seus munícipes, sem excepção, podendo ainda disponibilizar, se o quisesse e fosse do seu interesse os serviços jurídicos da autarquia na defesa dos trabalhadores e em última instância o Ministério do Trabalho e Solidariedade Social que pura e simplesmente ignora o problema, pois este ainda não foi denunciado na comunicação social e o que não aparece na comunicação social, para esta gente, não existe.
Aliás, o assunto só não foi denunciado porque à equipa da SIC que se deslocou ao local para recolher depoimentos dos trabalhadores se deparou com um muro de silêncio, provocado pelo medo, e não puderam fazer reportagem.
Daí que também os trabalhadores não passem incólumes na situação que vivem, quem tem medo compra um cão e quem despreza a defesa dos seus direitos, depois não se venha queixar. Se querem aquilo a que têm direito, têm primeiro que saber vencer a barreira do medo!
Mas se o comportamento deplorável dos patrões, o medo e subserviência dos trabalhadores, a ineficácia dos nossos bur(r)ocratas eu posso fazer um esforço e além de compreender poder justificá-los à luz da grandeza, e neste caso, das misérias humanas, já me é mais difícil compreender a timidez e os cuidados de luva branca com que os sindicatos (não) têm tratado do assunto. De facto tirando a tímida iniciativa sindical por mim relatada no anterior artigo, o que os sindicatos têm feito é nada!
Bem sei que nas empresas em causa o número de trabalhadores sindicalizados é mínimo, outra preocupação que devia estar na agenda diária dos dirigentes sindicais: porquê os trabalhadores deixaram de confiar neles? Mas nem que fosse apenas um trabalhador sindicalizado era obrigação de qualquer sindicato, que existem para organizar e defender os trabalhadores na reivindicação e cumprimento dos seus direitos, repito, era obrigação desses sindicalistas estarem lá ao lado dos trabalhadores e procurarem por todos os meios ao seu alcance resolver o problema.
Mas não o fizeram, não o têm feito.
Nos telejornais e jornais somos bombardeados sobre a importância que os empresários e as suas grandes empresas têm no desenvolvimento da economia e na riqueza da região em que se implanta a empresa. Mas quando a maçã apodrece e em vez de riqueza gera miséria todos desaparecem e se escondem no conforto dos gabinetes deixando os trabalhadores à mercê da sorte (ou seria mais adequado dizer azar).
Apelo aqui ao futuro Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda que logo que a nova Assembleia da República, para a qual o povo reforçou a sua voz, que no local próprio da representatividade popular, denuncie esta lamentável situação que está a estrangular parte das populações dos concelhos de Nisa e de Crato.
Jaime Crespo - in http://fongsoi.blogspot.com