26.7.25

OPINIÃO: A procissão saiu agora


Já se esperava. A presidente da Comissão Europeia apresentou o seu quadro orçamental para o período 2028-2034, o mais ambicioso da história da instituição, ao atingir quase dois biliões de euros. Ursula von der Leyen propõe quintuplicar a despesa na defesa e dar aos governos de cada Estado mais poder na administração dos programas em detrimento das regiões. A imposição de Donald Trump obrigou a Comissão Europeia a "desviar" dinheiro dos fundos de coesão e da agricultura para o investimento em segurança e defesa. Dada a situação internacional, com a guerra da Ucrânia à porta, até se entende. O que não é compreensível é transferir a administração dos programas comunitários das regiões para os governos centrais.

Apesar do forte aumento em relação ao orçamento atual – 1,2 biliões de euros – , o projeto está muito aquém da revolução prometida por von der Leyen e prevê dois anos de negociações difíceis até se saber com que linhas nos cosemos. À la Europa… As alterações ao pomposamente designado Quadro Financeiro Plurianual incidem sobretudo na sua estrutura. Na verdade, a Comissão reduziu e agrupou programas e estabeleceu que uma parcela significativa do financiamento não será pré-alocada, o que permitirá que os fundos sejam movimentados entre rubricas com maior liberdade. Mas uma das alterações mais importantes, e a que já provocou mais controvérsia, é a unificação dos fundos sociais, do Fundo de Coesão e das despesas agrícolas. Esta é a maior rubrica do orçamento da União (865 mil milhões de euros), que é significativamente reduzida em comparação com o orçamento atual. Além disso, está a ser criado um segundo pilar de 450 mil milhões de euros para impulsionar a indústria europeia, que inclui a dotação de 130 mil milhões de euros para despesas de defesa. Para além do facto de os cortes nos fundos de coesão territorial poderem ameaçar um elemento crucial do projeto da UE. Ou seja, o risco representado pela nacionalização dos dinheiros da Europa sem essa dimensão mais regional é que os interesses nacionais acabem por se sobrepor aos europeus. Resta-nos saber como vai acabar isto tudo daqui a dois anos. É que a procissão saiu agora.

* António José Gouveia - Jornal de Notícias - 21 julho, 2025