28.11.24

OPINIÃO: Leis por cumprir e contas por acertar

1. Foi há nove anos que se incluiu no estatuto profissional dos polícias a atribuição de prémios de desempenho. A falta de eficácia típica do país e a pouca vontade dos governos de cumprirem as suas promessas levaram no entanto a que fosse preciso esperar mais dois anos pela portaria que regulamentou a atribuição desses bónus: destinava-se a 5% dos agentes que fossem avaliados, a cada ano, com um desempenho muito bom ou excelente. Mas o pior estava para vir: os anos foram passando e prémios, nem vê-los. Por muito bons ou excelentes que fossem os agentes. Em 2019, e muito justamente, os homens e mulheres da GNR foram também contemplados. E desde 2021 que os melhores guardas recebem, como manda a lei, um prémio de meio salário (este ano, foram 557). Os polícias, esses, continuam sem receber. Parece que ninguém se lembrou de incluir os prémios no orçamento da PSP e, sete anos depois, nem dinheiro, nem os dez dias de férias adicionais a que teriam direito. Há contas por acertar com os polícias. 2. Houve um tempo em que as empresas que usavam o subsolo para prestar os seus serviços e promover o seu negócio nada pagavam por ocuparem o espaço público. E depois veio um tempo em que as autarquias, ou pelo menos parte delas, começaram a cobrar uma taxa, por conta dessa utilização. Sendo Portugal o país que é, as empresas que nos fornecem o gás natural decidiram que o melhor era cobrar a taxa aos seus clientes. Em 2017, no entanto, saiu uma lei que repunha a ordem: as empresas ficavam proibidas de cobrar a taxa de ocupação do subsolo. Sucede que, sete anos depois, as empresas continuam a cobrar o seu bónus, à revelia da lei. A Deco fez as contas: são 160 milhões de euros que famílias e empresas pagaram indevidamente. Há contas a acertar com os consumidores. * Rafael Barbosa – Jornal de Notícias -28 novembro, 2024

27.11.24

PCP SAÚDA: 10 Anos da inscrição do cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade

Nota à imprensa do Executivo da Direcção Regional do Alentejo do PCP 1 - Assinalam-se hoje 10 anos sobre a data em que o Comité Internacional da UNESCO inscreveu o cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Tal conquista - motivo de orgulho e de grande satisfação para os alentejanos e para todo o povo português - constituiu um justo reconhecimento e valorização da relevância patrimonial do cante alentejano; do seu valor excepcional como símbolo identificador da região do Alentejo e identitário dos alentejanos; do seu enraizamento profundo na tradição e história cultural do País; e da sua importância como fonte de inspiração e de troca intercultural entre povos e comunidades. Tal como o PCP afirmou então, tal reconhecimento contribuiu para a salvaguarda e a promoção do cante alentejano enquanto genuína expressão cultural de um povo, bem como para o surgimento de novos projectos musicais, culturais, académicos e turísticos que deram e continuam a dar um importante contributo para a promoção e defesa da cultura alentejana, do desenvolvimento e projecção do Alentejo e do País. 2 - O cante alentejano, canto colectivo sem recurso a instrumentos, que incorpora música e poesia, é uma expressão cultural de enorme força, beleza, identidade e consistência, profundamente ligada à vida e tradições do povo e dos trabalhadores, bem como à sua luta contra as injustiças, pela democracia e o desenvolvimento do Alentejo. No ano em que se comemoram os 50 anos da Revolução de Abril, e quando o PCP e outras forças e personalidade democráticas iniciam as comemorações dos 50 anos da reforma agrária, a Direcção Regional do Alentejo (DRA) do PCP recorda as palavras do escritor e poeta José Gomes Ferreira: "Nunca vi um alentejano cantar sozinho com egoísmo de fonte. Quando sente voos na garganta, desce ao caminho da solidão do seu monte, e canta em coro com a família do vizinho. Não me parece pois necessária outra razão - ou desejo de arrancar o sol do chão - para explicar a reforma agrária do Alentejo. É apenas uma certa maneira de cantar."
3 - A DRA do PCP saúda vivamente os cantadores alentejanos, os seus inúmeros grupos corais, as colectividades, associações e instituições que os enquadram e apoiam, os seus dirigentes e activistas. Felicita e valoriza a contribuição de todos os que se têm empenhado na defesa, salvaguarda, promoção e inovação do cante alentejano, com resultados extraordinários na sua afirmação como uma das mais reconhecidas e atractivas expressões culturais portuguesas no plano nacional e internacional. 4 - A DRA do PCP recorda, e saúda vivamente os promotores da candidatura lançada em 2012, dos quais se destaca, com inteira justiça, a Câmara Municipal de Serpa que dinamizou a candidatura nos planos regional, nacional e internacional, mobilizando e nela envolvendo numerosas entidades – desde grupos corais até outros municípios e freguesias, passando por musicólogos, antropólogos, cineastas e outros especialistas – e criando a Casa do Cante, em Serpa, responsável pelo acompanhamento do processo. 5 - Reafirmando que a elevação do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade é uma conquista de todo o povo alentejano e uma vitória de todos os que nela se empenharam, a DRA do PCP sublinha simultaneamente, e com orgulho, o permanente apoio ao Cante por parte dos comunistas nas autarquias, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, recordando que o PCP contribuiu de variadas formas e com várias iniciativas de massas e institucionais para essa grande conquista. A DRA do PCP reafirma o compromisso e o empenho dos comunistas na defesa, salvaguarda e promoção do Cante Alentejano, e de forma geral de todas as expressões da riquíssima cultura do Alentejo, compromisso bem patente em várias iniciativas e projectos que as autarquias geridas pela CDU têm em desenvolvimento, das quais se destaca a Capital Europeia da Cultura – Évora 27. 27 de Novembro de 2024 O Executivo da Direcção Regional do Alentejo do PCP

26.11.24

ALPALHÃO: Concerto de Natal na Igreja Matriz

Participação do grupo "Vozes da Aldeia", de Vale do Peso

OPINIÃO: O elogio da esquerda etiquetária pela direita

Em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes. Devia-nos escorrer uma lágrima furtiva quando lemos os carinhosos analistas que exigem à esquerda que regresse à “velhinha luta de classes”, agora “propriedade” da direita, pois o “vírus” democrata foi “capturado por grupelhos anticapitalistas”. O eterno Fukuyama é citado por Teresa de Sousa para provar que o que condenou Kamala foi a “protecção exclusiva de um conjunto de grupos marginalizados: minorias raciais, imigrantes, minorias sexuais, etc.”. E acrescenta ela com condescendência: “O problema não está em que estas preocupações não sejam justas, que são”. São mas não são e não podem, aqui aplica-se a filosofia da famosa rábula do Ricardo Araújo Pereira. As minhas teses contra estes conselhos comoventes são, primeiro, que são uma fraude para incensar Trump e, depois, que tentam empurrar a esquerda para uma marginalidade etiquetária conveniente à direita. Apaziguar Trump? A pantomina começa por apresentar o Partido Democrata (PD) como a esquerda. O PD foi o partido dos esclavagistas durante a guerra civil; 70 anos depois, mesmo com a sua supermaioria, Roosevelt desistiu de uma lei federal contra os linchamentos porque os senadores democratas sulistas não o permitiriam. A perda dessa influência territorial e a pressão dos direitos civis mudou o mapa partidário, mas não a fidelidade a Wall Street: foi Clinton quem determinou o fim da lei do New Deal no controlo bancário e Kamala vangloriou-se da chancela da Goldman Sachs no seu programa. Chamar esquerda ao PD, ou fantasiar que representou os trabalhadores, é um insulto mal recebido pelos seus chefes. Num país dividido ao meio pelo bipartidarismo, tanto democratas como republicanos sempre tiveram povo e é uma pirueta apresentar Trump como o portador da tal nova “luta de classes” colonizada pela direita. E, como é bom de ver, os lusos “proprietários da luta de classes” olham para o salário como a abominação que reduz o lucro. Nisso coerentes, a sua “luta” é pela redução do IRC ou, como notava o bilionário Warren Buffett, é para pagar menos IRS do que a sua secretária. Temo aliás que este amor pela “classe” seja de pavio curto e que volte à fábula meritocrática do elevador social, minúscula arca de Noé onde não cabe classe alguma. O facto é que os “proprietários da luta de classes” se refugiam no discurso poltrão sobre a culpa woke para justificarem Trump. Afinal, repetem, ele tocou o coração do povo, oferecendo o identitarismo MAGA e a esperança dos descamisados. No entanto, bastaria olhar para a galeria de horrores do séquito para notar que o trumpismo é o poder de uma casta económica e procura impor a necropolítica, pobres descamisados que são carne para canhão. Por isso, a política de apaziguamento dos que endeusam o homem, que já deu mau resultado no passado, não será melhor agora: o que ela prova, como se verifica no fim do cordão sanitário francês ou na nomeação de Rutte para a NATO às costas do Governo de extrema-direita, é que a direita clássica desliza para o trumpismo. Arrumados no beco?
O trumpismo é um identitarismo brutalista, dirigido por um fascista, com traços teocráticos e subordinado à pilhagem do país por uma elite empresarial, cujo ícone é Elon Musk, que investiu 119 milhões e ganhou 26 mil milhões com a eleição. Esta vaga crescerá. É o que me leva ao meu segundo ponto: a resposta da esquerda só pode ser a disputa da maioria, o que exige que crie a certeza social de que é ela que garante liberdade e segurança. Assim sendo, face à ameaça civilizacional, é só curiosa a tentativa dos apaziguadores de nos pedirem um regresso ao passado. Ora, uma esquerda declarativa e cerimonial – etiquetária, portanto – só serve para o consolo da direita. Ela é inútil, nenhuma muralha de Jericó cairá com as trombetas das proclamações sobre o partido-guia. O modelo dessa política etiquetária já foi experimentado de todas as formas e só conduziu a sectarismo e auto-satisfação desarmante, enquanto a luzinha que brilhava numa janela do Kremlin para iluminar a humanidade se extinguiu às mãos dos dirigentes feitos oligarcas. Esse passado é um beco onde morreu a saudade. Entretanto, em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes e noutros países opõe-se à paridade entre homens e mulheres ou a medidas de transição energética. Pois pergunto então que sentido teria a esquerda abandonar a maioria do povo, que são mulheres, ou renunciar aos direitos humanos, ou entregar o futuro ao capitalismo fóssil? Ou se, quando em Portugal se fez o referendo que despenalizou o aborto, havia outra prioridade da luta de classes? Ou se o país ficou pior por ter aprovado o casamento gay, que enfureceu a direita, a hierarquia religiosa e, já agora, muitos populares? É precisamente por disputar o único imaginário universalista que resta – liberdade e igualdade – que a esquerda deve rejeitar o etiquetarismo e juntar todos os setores populares que disputam os seus direitos. Num tempo em que há menos sindicalizados do que precários e trabalhadores por turnos, ou migrantes, ou quando há mais manifestantes nas marchas LGBT+ do que no 1.º de Maio em todas as cidades menos uma, essa inclusão é uma condição para restabelecer a capacidade de acção colectiva da classe trabalhadora – e deve ser o seu programa. Mais ainda, se a segurança da vida boa, dos bens comuns, da saúde à escola, e dos bens essenciais, o salário e a casa, é a base do projeto socialista, tal transmutação democrática só vencerá se for a expressão de uma aliança maioritária. Essa é aliás a razão pela qual setores da esquerda norte-americana, refugiados no seu próprio etiquetarismo sem alternativa política, prejudicam o combate pela igualdade ao substituírem a luta social pela ideia de que a experiência pessoal do trauma é a fonte da autoridade discursiva ou que o cancelamento pode estabelecer a regra da praça pública. Contaminada pelo abismo intoxicante das redes sociais, essa esquerda é profundamente individualista e desiste do sentido da comunidade, que é a essência do universalismo socialista. Sim, Trump ensina-nos alguma coisa: a não desistir de toda a luta de classes que enfrenta o capitalismo real. • Francisco Louçã ** Artigo publicado no jornal Público a 18 de novembro de 2024

25.11.24

Obra da Variante Nascente de Évora já começou

Esta é uma das seis obras ligadas à rodovia, no Alentejo, que estão previstas no Plano de Recuperação de Resiliência A obra de construção da Variante Nascente de Évora, que pretende ser uma alternativa ao atual troço do IP2, entre S. Manços e o nó Évora Nascente da A6/IP7, foi consignada pela Infraestruturas de Portugal na sexta-feira, dia 22, no Palácio D. Manuel, em Évora, numa cerimónia que contou com a presença de Miguel Pinto Luz, ministro das Infraestruturas e Habitação. A empreitada tem um custo estimado de 54,9 milhões de euros e insere-se no Plano de Recuperação e Resiliência, na Componente C7 – Infraestruturas, investimentos na construção de Missing Links e Aumento de Capacidade da Rede. «A intervenção visa a construção de uma nova ligação rodoviária alternativa ao atual troço do IP2, com início no Nó de Évora Nascente da A6/IP7, imediatamente após a praça de portagem, e termina na conexão com o atual IP2, em S. Manços», segundo a Infraestruturas de Portugal. «A futura Variante terá cerca 12,8 quilómetros de extensão com dupla faixa de rodagem. Ao longo do traçado serão construídos restabelecimentos desnivelados, sendo a interligação com a rede existente assegurada através dos seguintes nós: Nó de Vale de Figueiras; Nó de Fonte Boa do Degebe; Rotunda de Ligação à EN18», descreve a empresa. Está igualmente prevista a construção de oito passagens superiores, duas das quais sobre linhas de caminho de ferro. “Este empreendimento irá contribuir decisivamente para a melhoria das ligações rodoviárias na região de Évora, melhorar a segurança rodoviária e promover a competitividade das empresas e a mobilidade das populações da região», defende a IP. Esta é apenas uma das obras ligadas à rodovia, inscritas no PRR, de que o Alentejo irá beneficiar. Nesta região, «já foram contratadas seis empreitadas, que perfazem um investimento global de 184 milhões de euros, sendo a região que recebe a maior percentagem de investimento no que respeita aos empreendimentos rodoviários do PRR sob responsabilidade da IP. Cinco das seis intervenções já estão em curso, nomeadamente: “Variante Nascente de Évora (IP2)”; “IP8 (EN259). Sta. M. Sado /Ferreira do Alentejo, incluindo Variante de Figueira de Cavaleiros”; “IP8 Relvas Verdes – Roncão”; “Melhoria de Acessibilidades à Zona Industrial de Campo Maior”; “Variante de Aljustrel – Melhoria das Acessibilidades à Zona de Extração Mineira e à Área de Localização Empresarial”. Por consignar está a empreitada “IP8 (EN121). Ferreira do Alentejo /Beja, incluindo Variante a Beringel.

24.11.24

CARTAS DO DESASSOSSEGO (I)

Mê rique filhe do mê coraçã e da minhálma deseje questa minha carta te vá encontrar beim e de perfêta saúde quêcá vou inde bem graças a deus nosso senhor, escrevete já sem ter recebide resposta tua mas táva com muntas saudádes, sabes tou ca alma desassoseguéda vê lá tu ca guarda foi a casa do Zé Manel e dêlhe uma grande carga de porráda o requéce Gregório fontes fez queixa disse que lhe róberem azêtona da de conserva e tameim lhe cêferem erva lá na herdéde coitéde do cachôpe que o deixerem chei de nódoas negras os malvádes até o puserem de cama nã chega já a desgráça dele co a mãe doentinha da cabeça e agora iste grandes malandres a baterim assim numa pessoa nem num aneméle se bate assim quante más numa pessoa revolverem a casa toda e nã encontrarim azêtona nenhuma e mesme assim o cachôpe nã se livrou duma valente carga de porráda ele tem umas cinque cabras e vai com elas plos caminhes até à rebêra pastálas nã preceséva da erva do malandre gananciose pra nada o sô padre nem no assunte tocou lá na missa se fosse pra pedinchér e pra nomear os que nã vã à missa isse já falava mas assim fechousse em copas só sabe acusér os pobres que nã vã rezar tomarim eles denhêre pra comprar pã quanto mais pra dar prás esmolas mas que acontecemente malváde cá aconteceu eh cá fequê tá triste que fiz uma panela de sopa com as cousas da horta más um meguélhe de tócinhe e uma farenhêra e foilhes levar o tócinhe sempre dá más sustança e más olha na sopa nem quere saber se me sinsurem fiz o ca minhálma mandou coitéde do cachôpe e da mãe que ma agradecerem munte tenhe a dezêrte quele me pediu se tu o podias levár pró pé de ti quande a mãe dele partir tadinha anda tã mal ele até me prometeu quia cavar umas lêras de terra lá na horta pra eu ódespôs semeér ai flhe da minhálma que me sinte tã sózinha mas ainda bem que fôste pró estrangêre porcaqui só se veim tristezas e e munta meséria eh cá a escreverte sempre alevie as saudades que são tantas tantas até parece questou a falar contigue, sabes a Arménia tem perguntéde por ti cada vez que me vê os olhos dela até brilhem nã te prócupes comigue quê cá me vou arranjande ainda tenhe ali de láde algum denhêre da venda do máche e da carrossa cande precise sempre vou comprar umas mercearias e boles cá em casa nã sacabem a Zabel fornêra dáme uns boles dos de 4 oves e até uma tranças que fazem lá no forne dela mê rique filhe o papel da carta já sestá a acabar despeceme com munta trestêza na minhálma mas foi assim co nosso senhor quis levoute pra longe de mim mas tinha que ser assim, cá nã arranjavas vida recebe muntes beijinhes e abraçes desta tua mãe que nunca te esquece adeus adeus assim que me apertarem a saudádes escreve ótra vez...adeus adeus adeus mê rique filhe. 
• António Borrego

20.11.24

EM FRANÇA: A morte de Francisco Correia Mourato

É uma notícia triste, daquelas que não gostamos de transmitir. Em França, onde residia na cidade de Blois, faleceu no dia 20 de Outubro, o nisense Francisco da Cruz Correia Mourato. Tinha 73 anos, tal como eu, éramos “artilheiros” e ambos frequentámos a Escola do Rossio na classe do professor António da Piedade Pires. Filho de Rosária da Piedade Correia e de Bartolomeu Farto Mourato, nasceu a 20 de Junho de 1951 e o seu funeral a 28 de Outubro deste ano foi acompanhado por pessoas da comunidade portuguesa e pela esposa, filhos, noras e netos que lhe prestaram a derradeira homenagem. Em França, o Francisco era conhecido pelo “Malagueta” e tinha um enorme orgulho nas suas origens, portuguesa e nisense. A doença prolongada impediu-o nos últimos anos de visitar o país natal, Nisa e os amigos. De entre tantos episódios na escola e fora dela, recordo-me muitas vezes de um, passado no campo. Tinha acompanhado o “Xico” na visita que fizera ao pai para lhe levar o almoço, algures num dos campos da pastorícia próximos da vila. O pai, pastor como tantos nisenses, acabou também para seguir os passos de tantos e tantos conterrâneos seus emigrando para França. Adiante. No regresso à vila e numa azinhaga , levantou-se um bando, numeroso de perdigotos. Tinham acabado de sair do ninho e ainda não voavam, apenas saltitavam, com grande ligeireza. Eu nunca tinha visto perdigotos e logo nos passou pela cabeça que iríamos trazer alguns para casa, tal a proximidade, ali mesmo ao alcance das mãos, com que os víamos. Separámo-nos, o Xico para um lado eu para outro, mas aos poucos a convicção de uma “caçada” desvaneceu-se. As pequeninas aves, com um sentido apurado de sobrevivência, nunca se deixaram ficar ao alcance das nossas mãos. E, facto curioso, com a mesma surpresa com que surgiram aos nossos olhos, num ápice desapareceram da nossa vista. Este episódio encerra uma lição: não dês como certo, o que certo não está! Aos familiares e amigos do Francisco Mourato, apresento as mais sentidas condolências. Mário Mendes

19.11.24

ALPALHÃO: AJAL convida a população para a Magia do Natal

Convite à Magia do Natal 🎄 A nossa vila ganha vida com a chegada da época natalícia, e juntos vamos transformar Alpalhão num verdadeiro conto de Natal! 🎅 Convidamos toda a comunidade a participar na decoração da nossa vila! Que se iluminem e decorem as ruas, largos e cantos, com presépios, árvores de Natal, coroas de Natal, pais Natal, luzes e tudo o que estiver na imaginação de cada um! Juntem a família, os amigos e os vizinhos e coloquem a criatividade para fora!

18.11.24

NISA: Apresentação do livro “Os Versos da Tá Mari Pinto”

Realizou-se no passado sábado, na sala da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão (Nisa), a apresentação do livro "Os Versos da Tá Mari Pinto", poetisa popular nisense falecida em 2003. Maria da Graça Pinto nasceu em Nisa em 1921, num dos dias que antecederam o Natal. Não frequentou a escola no tempo destinado à formação essencial. A ajuda aos pais, as tarefas no campo, só permitiram que fizesse a terceira classe. Ainda assim, ganhou um amor à escrita que nunca deixou de a acompanhar durante toda a vida. Mulher do campo, esposa de pastor, viveu e sonhou tendo o mundo rural como pano de fundo. Escrevia versos, nos fugazes momentos que a vida de pastorícia lhe permitia, Mulher de grande simplicidade, os seus versos tornaram-na numa figura popular de Nisa. Observava, com sentido crítico, tudo o que se passava à sua volta e num qualquer papel, pedaço de embalagem ou de cartão, em letras mal alinhavadas e rimas arrancadas ao fundo da memória, escreveu centenas e centenas de quadras populares, versos espontâneos por onde escorre a água límpida dos riachos, a natureza agreste dos campos ou dos animais, a pastorícia, as artes, antigas, de saber fazer o queijo, os alinhavados, as cantarinhas de barro. Foi uma das últimas “sentinelas” da vida campesina, dos campos à volta de Nisa que ela viu viçosos e cheios de vida, mas que os ventos da mudança, paulatinamente, obrigaram a uma desertificação acelerada.
Um processo doloroso que Maria Pinto descreve nos seus versos, por vezes parecendo de forma exacerbada e indignada, imaginando o tempo futuro, negro e sem perspectivas. Muitas dessas quadras foram, no contexto da época, mal compreendidas. Não havia revolta nas palavras que escrevia, mas sim um sentimento de desassossego e solidão em que o universo rural se transformara. Quem não a conheceu e toma contacto, agora, com os seus versos, está longe de imaginar que ao longo de décadas, a sua poesia popular, sentida e directa, irónica e mordaz, ou terna e efectuosa, fez o retrato social, de tipos, modas, acontecimentos importantes na vila de Nisa, encontros, partidas e chegadas. Entre estas, as do seu filho, para a vida militar ou para a França de todos os sonhos. Percursos, ao fim e ao cabo, de (quase) todos os nisenses. Nunca foi incomodada pelos versos, por vezes audazes, contidos na sua poesia. Escrevia com o coração e a simplicidade das suas rimas ter-lhe-ão evitado alguns dissabores. É que, num passado ainda recente, as suas quadras populares, lidas e relidas num determinado contexto, configuravam, na sua aparente ingenuidade, um forte pendor social e interventivo.
Quadras que falavam do campo, triste e abandonado, da saga da emigração, da vida dura e mal paga dos camponeses, entre estes os pastores, eternos solitários da planície alentejana. Maria da Graça Pinto não precisou de contar a história de vida, da sua vida. Ela está, indissoluvelmente, expressa nos versos que produziu: Basta ler as quadras que durante anos foi publicando no "Correio de Nisa", ou aquelas que, amontoadas e amarelecidas pelo tempo, guardou numa qualquer gaveta ou caixote na sua casa e que, pacientemente, foram reproduzidas como “corpo e alma” deste livro, agora apresentado. Um livro que é também uma homenagem, algo tardia, a uma mulher que na crueza dos seus versos, disse muitas verdades que, ainda hoje, continuam a incomodar. Mário Mendes

17.11.24

NISA: Livro "Os Versos da Tá Mari Pinto" (II)

OPINIÃO: Do granito

O mestre de pensar, Jorge Luís Borges, escreveu: "Eu tenho poucas ideias e expresso-as sempre várias vezes". Tirou-me as palavras da boca, por ser o que se passa comigo: em matéria de Porto, ando às voltas e acabo no mesmo sítio. Tais voltas incluem o que se passa por aí, mirando notícias e ouvindo pessoas acerca da cidade, meu território de sentimento e opção. Assim, foi com surpresa que li a notícia de o granito ter sido reconhecido pela UNESCO como "Pedra Património da Humanidade". Fiquei espantado não pelo facto da história da cidade poder contar-se com os seus habitantes a transformarem a pedra-mãe em urbe e património, mas por haver no mundo e entre nós quem se interesse por valores que afirmam a memória de um país. Vem dos primórdios do Burgo a ligação com o granito. O seu crescimento fez-se à custa das pedreiras nele disponíveis e a partir do séc. XVIII surgem referências precisas à sua actividade. Numa acta da Irmandade dos Clérigos, lê-se que "explorava uma pedreira no Monte" (certamente o Pedral de onde, para a abertura da Rua da Constituição, foram retiradas toneladas de pedra). Aquela Irmandade adiantava que "a pedraria de qualidade era comprada fora". Em 1791, da pedreira da Arrábida foi extraída o granito para entulhar parte da margem direita da Barra do Douro e, em 1852, a imprensa noticiava que "para a construção da estrada marginal" já se viam pedras saídas da pedreira da Torre da Marca (tal extracção permitiu a abertura da Rua da Restauração). (E falando de pedreiras: uma há que nem devia existir. A da Av. da Ponte, punhal espetado no nosso coração.) • Hélder Pacheco - Professor e escritor Jornal de Notícias - 16 novembro, 2024

NISA: Apresentado o livro “Os Versos da Tá Mari Pinto”

Ontem, dia 16,teve lugar na sede da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão, a apresentação do livro de poesia popular “Os Versos da Tá Mari Pinto”. Uma sessão animada e de convívio, nela se evocando a vida e obra da autora, por parte de familiares e amigos e se recordaram muitas tradições e costumes da vila de Nisa, num tempo passado e ainda recente. Numa época de renúncia à leitura, a sessão mostrou que o livro ainda consegue reunir pessoas à sua volta e incentivar o convívio e a fruição cultural.

15.11.24

Morreu Celeste Caeiro, a mulher que fez do cravo o símbolo do 25 de Abril

Morreu Celeste Caeiro, a mulher que distribuiu cravos pelos militares na manhã do dia 25 de Abril de 1974. Tinha 91 anos. Celeste Caeiro, que se eternizou como símbolo de Abril ao distribuir cravos pelos militares na manhã da revolução, esteve presente, este ano, no desfile da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, em Lisboa. Na ocasião, reproduziu o momento de forma simbólica, voltando a distribuir cravos aos presentes. Nos últimos anos, o JN entervistou várias vezes a "Celeste dos Cravos", como era conhecida na freguesia de Santo António, no coração de Lisboa, onde viveu durante muitos anos. Na edição de 25 de Abril de 2013 foi mesmo capa da edição do JN, que remetia para uma peça onde contava toda a sua epopeia naquele dia da revolução, que, como sempre disse, nunca pensou que ficasse na História da revolução e do país. Celeste Caiero contou então que, na altura, com os seus 40 anos, trabalhava num restaurante da Rua Braancamp, que nesse dia 25 de abril de 1974 assinalava um ano de existência. "O patrão tinha comprado uns cravos para assinalar o aniversário, mas, por causa da revolução nesse dia já não abrimos. Ele disse-me que levasse os cravos, que já não seriam precisos", recordou. Sem perceber bem o que se estava a passar, Celeste desceu a Avenida da Liberdade até ao Rossio e subiu a Rua do Carmo para dar de caras com os soldados e a multidão que já andava pelas ruas. Foi ali que perguntou a um soldado o que se estava a passar e para onde é que eles iam. "Disse-me que iam para o Chiado prender o Marcelo Caetano", contou. Paulo Lourenço – Jornal de Notícias - 15.11.2024 - Foto: Gonçalo Vilaverde

13.11.24

TOLOSA (Nisa): Sabores e Artes

AVIS: Café com letras na Biblioteca Municipal

OPINIÃO: Mergulhados no deserto

Depois de vários anos de ausência, os jornais em papel voltaram a ser vendidos em Freixo de Espada à Cinta por iniciativa do Município, que assume o serviço e os encargos com os exemplares não vendidos. A decisão é tomada na lógica de que o acesso à informação, consagrado na Constituição, é um direito de qualquer cidadão, onde quer que resida. A prática tem vindo a demonstrar o inverso. Uma boa parte do país está cada vez mais afastada das notícias – na ótica do consumo e simultaneamente como território nelas retratado. O estudo mais detalhado sobre os chamados desertos de notícias em Portugal data de 2022 e é da responsabilidade da Universidade da Beira Interior. Revela que 166 dos 308 concelhos do país estão em deserto de notícias, em semideserto ou ameaçados. Ou seja, não possuem noticiário local ou meios de comunicação locais, ou quando estes existem têm uma periodicidade que não assegura a regularidade da informação. Quando se trata de assimetrias, o Interior comprova invariavelmente a sua fragilidade. Em Bragança e Portalegre, mais de metade dos concelhos estão no deserto ou semideserto. Como explicam os autores do estudo, o problema agudiza-se em “regiões distantes dos grandes centros, com baixa atividade económica, onde os antigos jornais locais não conseguem mais sustentar-se”. Sem visibilidade, é uma parte do país que desaparece do espaço público. A iniciativa da autarquia de Freixo de Espada à Cinta surge em contraciclo, procurando contrariar o afastamento das populações em relação aos media, apesar de estes terem em larga medida abandonado os territórios. O jornalismo de proximidade é crucial, mas até em meios urbanos está ameaçado. Que o diga o Correio da Feira, com atividade “suspensa” por tempo indeterminado depois de 126 anos a cobrir a atualidade no município de Santa Maria da Feira. Segundo a administração, “poucos, e por isso insuficientes, estão interessados em pagar para se fazer informação profissional”. Que consequências poderá ter o deserto que nos vai silenciosamente absorvendo? Talvez estejamos demasiado distraídos com o ruído e a aparente abundância das redes para procurarmos antevê-las. • Inês Cardoso – Jornal de Notícias -13 novembro, 2024

12.11.24

NISA: Apresentação do livro "Os Versos da Tá Mari Pinto"

No próximo sábado, dia 16, terá lugar na sede da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão, a apresentação do livro de poesia popular “Os Versos da Tá Mari Pinto”. A sessão terá início pelas 15 horas, com a evocação da vida e obra da autora, por parte de familiares, amigos e do representante da editora.

NISA. A morte do “Chico Canhoto”

Morreu o “Chico Canhoto”, o popular desportista, nascido em Avis no primeiro dia do mês de Abril de 1942 e que muito contribuiu para o desenvolvimento do desporto no concelho de Nisa. Francisco de Matos Agostinho começou jogar futebol de alta competição no Grupo Desportivo Portalegrense na época de 1961-62. Terá tido outro percurso futebolístico inicial na fase da juventude, já que nessa primeira época o desafio era arrojado, na 3ª divisão nacional de futebol. Representou o Grupo Desportivo Portalegrense nas duas épocas seguintes (1961-62 e 1962-63) na terceira e segunda divisão, respectivamente, seguindo-se o C.F Os Belenenses do escalão maior do nosso futebol. Não foi muito utilizado e regressou ao seu Desportivo Portalegrense, clube que representou durante 13 épocas a ponto de o nome do clube ser “colado” ao seu como alcunha quando chegou a Nisa para representar o Sport Nisa e Benfica. Era o “Chico do Desportivo” a juntar-se ao “Chico Canhoto”, como era conhecido popularmente em Portalegre, pela qualidade do seu pé esquerdo. Veio para Nisa na época (1975-1976) em que o GD Portalegrense se sagrou campeão nacional da 3ª divisão, na final disputada em Tomar com o União de Coimbra. Representou o Sport Nisa e Benfica durante quatro épocas, duas das quais na 3ª divisão nacional, foi treinador e dirigente, manteve uma ligação permanente ao clube até ao final da sua vida. Representou como futebolista o Sambrazense e o Alpalhoense. Radicado em Nisa, desempenhou a sua actividade profissional no âmbito do Ministério da Saúde, aqui lhe nasceram os filhos e granjeou a estima e consideração dos seus concidadãos. Francisco de Matos Agostinho está ligado e para ela contribuiu de forma empenhada e brilhante, à chamada “época de ouro” do futebol nisense, com a conquista de títulos distritais e a correspondente disputa dos campeonatos nacionais e participação na Taça de Portugal, numa época em que os apoios eram diminutos, mas sobrava a vontade e generosidade de atletas e dirigentes empenhados em levar bem longe o nome de Nisa. Esteve igualmente ligado ao despontar do Futsal em Nisa, através do Sport Nisa e Benfica e a disputa do primeiro campeonato distrital desta nova variante do futebol, competição que o Nisa e Benfica venceu e o projectou na disputa da 3ª divisão nacional. Morreu o homem, o cidadão e o desportista. Não sendo de Nisa, era um nisense por afeição e por dedicação à vila que o acolheu. Partiu um homem de bem, um desportista de eleição, um cidadão que contribuiu para formar outros cidadãos e incutir-lhes as noções de lealdade e fair-play que devem fazer parte de todos os desportos e da cidadania, em geral. À Família – esposa, filhos e netos – endereço as mais sentidas condolências, fazendo votos para que a memória e o exemplo do “Chico do Desportivo” frutifique e constitua um lema presente e futuro dos clubes que tão bem representou. Mário Mendes • NOTA – Algumas referências e fotos foram retiradas da net https://algarvalentejo.blogspot.com pedindo antecipadamente desculpa para alguma incorrecção que se verifique.

11.11.24

OPINIÃO: Pobreza: o problema nos bairros

Os bairros à volta de Lisboa parecem estar em polvorosa e, escutando a turba mediática, há algo, como um mantra, que entra no ouvido: “eu bem dizia”. E, de facto, muita gente disse alguma coisa sobre o dia em que as pessoas se iriam revoltar. O que muitos não imaginaram foi o porquê da revolta; porque parte dessas pessoas sempre alegou problemas de etnia e credo associados à violência, esquecendo-se do essencial: o meio. Quando Ortega y Gasset nos fala da circunstância, alerta-nos para esse tema. São bairros de pobres, de pessoas que vivem de trabalhos que mais ninguém quer, na construção civil, a lavar escadas de prédios, por turnos que começam à meia-noite e terminam às oito, etc., da caridade do Estado ou da caridade de associações e de alguns patrões. São bairros onde há gangues, daqueles que se veem nos filmes e que se aproveitam da miséria dos vizinhos para poderem viver marginalmente. Nos bairros da Grande Lisboa, o maior problema é económico, é um problema social, é uma questão de marginalidade que vai além do étnico. O Estado falha nas suas funções nestes locais - não é por pagar RSI ou não haver IRS para quem recebe o salário mínimo que o Estado cumpre a sua função na totalidade - e a personificação do Estado é na Polícia. Não sou eu que vou julgar a atitude de quem disparou o tiro sobre Odair Moniz, porque é que o fez e em que condições, mas é difícil alterar a perceção quando temos um homem morto a tiro, um homem cujas pessoas que com ele conviviam dizerem que era um homem bom, um homem cujo desaparecimento leva à revolta. Como é que é encarada essa revolta? Com carga policial. O Estado falha em tudo, exceto no homem que os vem prender. O que resta às pessoas destes bairros sociais e que cujos desenvolvimentos ultrapassam fronteiras concelhias? Qual a sua condição? São bairros onde as vozes dos que tendencialmente defendem os operários, os trabalhadores precários, como seriam as de Paulo Raimundo ou de Mariana Mortágua, não chegam. Muito menos a de Pedro Nuno Santos. Mas são bairros cuja inoperância do Estado nas suas funções - na educação, na saúde, na justiça - leva à revolta, e cuja revolta faz com que a voz mais escutada seja a de André Ventura e a de todos os que querem expulsar imigrantes e pessoas de etnia diferente. O que se passa nos arrabaldes de Lisboa põe a nu a falência do marxismo e é a querosene que alimenta a extrema-direita. João Rebelo Martins - Gestor de empresas • Jornal de Notícias - 08 novembro, 2024

SANTANA (Nisa): Caminhada "Trilhos do Conhal"

10.11.24

OPINIÃO: Talvez respostas simples

O que nos mostram as eleições nos Estados Unidos da América (EUA), a euforia da bolsa face à eleição de Donald Trump e a postura de governantes europeus no atual cenário? Que o capitalismo age à rédea solta, como máquina afinadíssima de concentração de riqueza, de exploração de quem trabalha (e as “classes médias” cilindradas), de reprodução contínua de pobreza e miséria, mesmo em países onde se produz, ou onde circula, imensa riqueza. Os elevadores sociais são boicotados. Nunca os mais ricos foram tão ricos, e nunca foram tão poderosos. O capitalismo ultraliberal promove o ultraconservadorismo e o fascismo, nos EUA, na Europa e noutras latitudes. Já não os dispensa. E precisa da guerra. Esta engrenagem infernal sustenta-se na criação de estabilidade para os mecanismos de apropriação indevida de riqueza (tornados legais) e na insegurança da esmagadora maioria dos seres humanos. Observando a governação de muitos países, constatamos que a decência na política está abaixo de zero. Cultiva-se o desrespeito pelo outro, nega-se o humanismo, imperam as discriminações, atacam-se as instituições de representação coletiva, elementos fundamentais para o combate às desigualdades, para integrar as pessoas na vida coletiva e para a democracia. Endeusa-se o lucro e sacrificam-se as pessoas para haver crescimento económico que não se reparte. Uma base fundamental da liberdade assenta na satisfação de necessidades básicas das pessoas. Essa satisfação não está a ser garantida e é fomentada a suspeição e o ódio entre a imensidão dos que ou não chegam a ter plena cidadania, ou vão sendo deserdados. Falta emprego digno e existe muita precariedade. Há salários de miséria e é impossível aceder a habitação condigna, mesmo com governações que se dizem democráticas. Temos, assim, vidas em desespero, o caldo para a loucura e a alienação, para o retrocesso social, cultural e político. Comentadores e “especialistas” entretêm-se em intrincados exercícios de explicação sobre o que originou e significa a vitória de Trump, o fracasso dos governos alemão, francês e outros, o avanço da extrema-direita, quando as respostas são bastante simples. Falta é coragem para assumir as causas dos problemas sem floreados. Derrotar os poderes instalados, isso sim, é complexo e exige coragem. De repente, dirigentes políticos europeus que urdiram as dependências da União Europeia face aos EUA afirmam a necessidade de autonomia do “projeto europeu”. Há muito que precisamos de uma política para o Cáucaso que não passa por pegar num serrote e cortar o Continente separando a Rússia; de políticas respeitadoras de valores universais e direitos humanos com o Médio Oriente, a África, a América Latina e a China. Necessitamos de coisas simples: paz, melhor distribuição da imensa riqueza existente, imigrantes com direitos, pão, emprego e salários dignos, justiça, saúde e habitação. Carvalho da Silva - Investigador e professor universitário In Jornal de Notícias - 09 novembro, 2024

7.11.24

ALPALHÃO: Misericórdia promove I Feira de Outono no Mercado Municipal

Nos dias 8 e 9 de Novembro! Venha visitar-nos, no Mercado em Alpalhão! Vamos realizar a nossa I Feira de Outono, e contamos convosco, para que seja um sucesso! 🍁Visite-nos!!!!🍁

6.11.24

NISA: Painel de azulejos evoca o Padre Álvaro Semedo

SÁBADO, DIA 9 - 16 Horas Cerimónia evocativa de homenagem ao Padre Álvaro Semedo promovida pela União de Freguesias do Espírito Santo, Nª Srª da Graça e São Simão com a inauguração de um painel de azulejos da autoria da artista plástica nisense, Rosário Bello, na Rua Padre Álvaro Semedo, junto à sede da União de Freguesias.

5.11.24

NISA: Maioria PS aprova aumentos na água e saneamento

A maioria PS aprovou, hoje, em reunião do executivo, o AUMENTO do tarifário nos serviços de abastecimento de água e de saneamento, para 2025! Dizem eles que estão 'sempre a trabalhar para as pessoas'! O que seria se não estivessem! A vereadora eleita pela Coligação Democrática Unitária, Fátima Dias, votou CONTRA e apresentou a seguinte Declaração de Voto. Reunião da Câmara Municipal de Nisa Ponto 22 – Proposta de Tarifário dos Serviços de Abastecimento de Água e Saneamento para 2025 - Águas do Alto Alentejo (AAA) Foi submetida hoje ao órgão executivo, para aprovação, a atualização de tarifas para o ano de 2025, de 3.55% no Serviço de Abastecimento de água e de 3,41% no Serviço de Saneamento. Mais uma vez, estes aumentos só vêm confirmar que a CDU teve razão, no mandato anterior, ao tomar posição CONTRA a adesão do município de Nisa à Empresa “Águas do Alto Alentejo”. Tal como antecipámos, já estão aqui, mais uma vez, aprovados hoje pela maioria PS, os aumentos nas tarifas a pagar pelos consumidores, na água e no saneamento, em 2025. Recordemos que, depois de iniciada a sua atividade a 1 de julho de 2022, a Empresa “Águas do Alto Alentejo” atualizou o tarifário inicial deste bem essencial, já tão caro, tendo sido significativo o impacto que se fez sentir sobre as famílias. A 13 de outubro de 2022, veio deliberar a manutenção do tarifário de 2022 para o ano de 2023, justificando que uma subida das tarifas provocaria “um impacto económico-social negativo nas nossas populações”. O PS em maioria na CMNisa votou os aumentos para 2024 e trouxe hoje mais um agravamento nos preços dos serviços de abastecimento de água e saneamento, pois, pelos vistos, consideram que as dificuldades diárias por que passam as famílias resolveram-se por magia. A posição que assumo é CONTRA, afirmando que continuaremos vigilantes, salvaguardando os interesses dos munícipes. Nisa, 5 de novembro de 2024 A Vereadora Eleita pela Coligação Democrática Unitária Fátima Dias

3.11.24

ALPALHÃO: AJAL convida para o Magusto

É tempo de celebrar São Martinho! Dia 24 de novembro, a partir das 15H no Largo da Igreja Matriz de Alpalhão, junta-te a nós para um magusto repleto de animação, castanhas assadas e bons momentos! 🍂 O frio não será desculpa para não saíres à rua! Esperamos por ti!

NISA: Publicações periódicas - Nisa Viva nº2 - Abril - Julho 2003

1.11.24

COMBATENTE PELA LIBERDADE: Morreu Camilo Mortágua

Camilo Mortágua, pai das deputadas do Bloco de Esquerda Mariana e Joana Mortágua, morreu esta sexta-feira aos 90 anos. Morreu o antifascista Camilo Mortágua. Tinha 90 anos. A informação foi avançada pela família, numa nota enviada à agência Lusa. “A família informa que Camilo Mortágua morreu esta madrugada, dia 1 de novembro, aos 90 anos. Partilhamos com os muito amigos e companheiros que se cruzaram com Camilo Mortágua a alegria de termos testemunhado uma vida de convicções, de compromisso com a liberdade e com a solidariedade”, pode ler-se na nota. Nascido em Oliveira de Azeméis, a 29 de janeiro de 1934, Camilo Mortágua foi, durante o Estado Novo, um dos grandes nomes da luta anti-salazarista. Pai das deputadas do Bloco de Esquerda Mariana e Joana Mortágua, foi um dos protagonistas de vários golpes mediáticos contra a ditadura. Operação Dulcineia A 22 de janeiro de 1961, Camilo Mortágua participou da famosa Operação Dulcineia, organizada pela Direção Revolucionária Ibérica de Libertação, que tomou de assalto o paquete Santa Maria, que transportava 600 turistas e mais de 300 tripulantes a para Miami. Desvio de Avião da TAP Meses mais tarde, a 10 de novembro de 1961, Camilo Mortágua ajudou a desviar um voo Casablanca-Lisboa da TAP. A ação tinha como objetivo sobrevoar Lisboa e outras cidades portuguesas a baixa altitude para lançar milhares de folhetos contra o regime. Foram largados mais de 100 mil panfletos sobre Lisboa, Setúbal, Barreiro, Beja e Faro. Assalto ao Banco de Portugal A 17 de maio de 1967, ao lado de Palma Inácio, António Barracosa e Luís Benvindo, Mortágua assaltou a filial do Banco de Portugal na Figueira da Foz para financiar ações contra o regime de António de Oliveira Salazar. Nesse mesmo ano, está na fundação da Liga de Unidade e Ação Revolucionária – LUAR. Ocupação da Herdade Torre Bela Já depois da Revolução dos Cravos, em abril de 1975, Camilo Mortágua esteve envolvido na ocupação da herdade Torre Bela, no Ribatejo, a maior propriedade agrícola murada de Portugal, pertencente ao Duque de Lafões, da qual resultou a criação da cooperativa Torre Bela. Grande Oficial da Ordem da Liberdade Concentrou então a sua atenção no desenvolvimento rural e local desde a vila de Alvito, no Alentejo, onde se fixou nos anos 80 do século XX e da qual Mariana e Joana Mortágua são naturais. Em 1991 fundou a Associação Terras Dentro, nas Alcáçovas, e foi presidente da Presidente da Associação para as Universidades Rurais Europeias (APURE). Camilo Mortágua publicou as suas memórias em dois volumes, intituladas “Andanças para a Liberdade”, nas quais percorre a sua vida desde a infância na Beira Litoral até ao 25 de Abril. Em junho de 2005, Camilo Mortágua foi condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade da República Portuguesa, pelo então Presidente da República Jorge Sampaio “Há nomes tão fortes que a morte só leva emprestado”, escreveu a Joana Mortágua, no X. De acordo com as informações avançadas, o velório decorre hoje a partir das 17h30 na casa mortuária de Alvito (Rua da Misericórdia). O funeral está marcado para sábado, às 11h00, partindo da casa mortuária para o cemitério de Alvito (distrito de Beja). “Um lutador contra a ditadura” O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou o seu pesar às deputadas Mariana e Joana Mortágua pela morte do pai, o antifascista Camilo Mortágua, recordando-o como um “lutador contra a ditadura”. Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado apresenta o seu pesar “às deputadas Mariana e Joana Mortágua e restante família, amigos e admiradores de Camilo Mortágua”. No texto, Marcelo Rebelo de Sousa recorda Camilo Mortágua como um “lutador contra a ditadura durante muitas décadas do século passado” que morreu hoje “ao fim de uma longa e multifacetada vida ao serviço dos ideais que abraçava”. ZAP // Lusa