Por isso e muito mais que a mente não alcança, não podia ficar indiferente a este belo texto de Pedro Chagas Freitas, que reproduzo com a devida vénia.
Quando perdermos a razão, o respeito e o dever de amarmos aqueles/as que se nos deram, como uma paixão de vida, perdemos o nosso lugar no mundo e neste recanto que ela (Dulce Pontes) e outros, trataram de forma tão solidária e sublime. Obrigado, Pedro Chagas Ferreira.
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“Temos de tratar melhor quem nos dá beleza. A Dulce Pontes devia ser celebrada. Não é. Não é “comercial”, não faz colaborações com os DJs do momento, não aparece nos programas certos, não serve para vender ténis, nem apps, nem slogans vazios sobre "ser autêntico". A Dulce é autêntica. Isso não se vende; isso é uma dádiva. Nós não estamos habituados a lidar com dádivas — só com transações. Não é ela que está fora do tempo; somos nós que estamos fora de tudo. A Dulce não cabe em moldes de plástico. É o fundo do poço e o céu aberto ao mesmo tempo.
Portugal não sabe cuidar dos seus maiores tesouros. A Dulce devia ser património emocional. Em vez disso, é invisível para tantos, tantos. Não pode ser assim. Nela, está tudo: a alma de um país, a verticalidade de uma mulher que não encaixa, que não suaviza, que não cede. Há que ter coragem para ser assim: para não se render à leveza vazia do tempo.
Procurem-na. Ouçam-na. Vão atrás. Mostrem-lhe que estamos aqui. Deixem-na sentir-vos, sentir-nos. Mostrem-lhe que ainda há quem a ouça com o coração desarmado. Ela é profundamente humana. O que é humano precisa de ser amado para não morrer à fome.”
• Pedro Chagas Freitas