AS SORTES
Síntese
Em 1971, chegou o meu
dia de “sortes”: uma inspecção médica para decidir a incorporação nas forças
armadas e, posterior, mobilização para a Guerra Colonial. Apesar de todos os
receios, era um dia de festa. Todos os rapazes, que completavam 20 anos nesse
ano, percorriam as ruas da aldeia, abraçados e a cantar ao som duma concertina.
Para manter os ânimos íamos bebendo copinhos de vinho, em cada taberna: era uma
tradição que se perdia nos confins do tempo. Inspirado por: TRIO MUSICAL VICTOR
COSTA – Cantar na Adega.
CENAS DA ALDEIA – O DIA
DAS SORTES
Música : Cantar na Adega – Trio Musical Vitor Costa
1
Rua acima, rua abaixo,
Pega o copo e
bota-abaixo,
Para molhar a garganta.
Rua abaixo, rua acima,
É o vinho que nos anima,
Que com água ninguém
canta!
2
Aqui, ninguém desafina,
Ao toque da concertina,
Ao bater das
castanholas.
E, quem não tem
pandeireta,
Com os ferrinhos se
ajeita
Ou na dança se consola.
3
Chegámos a cambalear,
Abraçados e a cantar,
À tasca da tchá Zabumba.
O “vento” estava forte;
Alguém que perdeu o
norte
Caiu no chão, catrapumba!
4
Manjericos na lapela
E as moças à janela,
Para nos verem passar.
Os olhares e sorrisos
Faziam sinais precisos
Pedindo pra namorar.
5
Vamos cantar e bailar,
Enquanto o dia durar,
Mesmo que a voz nos doa.
As pernas já nos
fraquejam;
Nossos corações
arquejam,
Mas a alegria ressoa.
6
Somos a malta das sortes
Esperando passaportes
Para a guerra fraticida.
Não era nossa vontade
Servir a tanta maldade,
Mas não nos resta saída.
7
Pra manter a tradição
E ganhar animação,
Vamos bebendo uns copinhos.
Celebramos a amizade:
Viva a nossa irmandade,
À espera doutros
caminhos!
(João R. – Junho/2023)