Na sequência da agressão em Lisboa, que foi só a mais recente demonstração da impunidade com que a extrema-direita atua no espaço público (uma vezes assumidamente neonazi, com cabeças rapadas e tatuadas; outras “apenas” xenófoba e racista, com penteados normais), levantou-se um coro de críticas, à Esquerda e à Direita. Incluindo o presidente da República, que fez questão de lembrar que “em democracia há e tem de haver liberdade de pensar e exprimir o pensamento, de forma plural e sem censuras", mas que “essa liberdade e esse pluralismo não podem ser calados, nem sovados, por quem discorda"
É fácil usar palavras duras contra esta gente. Para usar uma expressão que faz parte do livro "Falar à moda do Porto", são “calhaus com dois olhos”. Mais difícil e mais raro, é ouvir os políticos moderados, como Marcelo Rebelo de Sousa, apontarem diretamente ao elefante na sala. Como se o facto de um partido eleger 60 deputados lhe desse carta-branca para deitar borda fora 50 anos de democracia, direitos humanos, diversidade e inclusão. Não é uma acusação gratuita, é factual: o Chega partilha e promove uma parte do ideário destes grupúsculos neonazis. A grande diferença é que o partido de Ventura se fica pela violência verbal, enquanto os segundos assumem o papel que foi outrora das tropas de assalto.