13.6.25

NISA: Conheça os nossos poetas (XXIX) - António Borrego

 


Tantas vezes o vazio

Este vazio não é silêncio

encharco-me em saudade…(às vezes raiva)...

fixando sem ver, um sol que já não aquece

crispando as mãos zangadas...de tanto não...

que futuro terei?...saberei as palavras apropriadas?...

nesta hora, de muros e vazio...

viajo pelos sonhos, pelas memórias demolidas...

nem um abraço recebo...por pequeno que fosse...

pergunto se vale a pena persistir

manter o ritmo, continuar...

oh deuses a inércia quer dominar-me

como se fosse um galo capado

ridículo e comestível...

acorda!

não deixes morrer a tua liberdade

acorda!...e escreve...

ou serás besta de tração, com orelhas compridas...

como aquelas que te punham na escola

por não saberes a tabuada…(crueldade)...

no meu sentir, navega um barco iludido...que busca ilhas...

zarpou do teu porto de abrigo

agora, implora aos ventos para voltar

abraços, acenos e despedidas…(detesto despedidas)...

exijo do meu peito a emoção de uma chegada...

estar vivo...é estar aqui...

e sentir a fascinação das próximas curvas da estrada

sabendo que foram e são muitas...

as direções de partida...e nenhum ponto de chegada...

em consciência deixo fluir as memórias

tento serenar nos solavancos emocionais

nunca soube de um rumo certo...

perco-me nesta vastidão, nesta dimensão...

dos sonhos que habito...

teria que ver novamente...

a chuva de verão a escorrer pela tua face...

escutar o que não digo...

ou então cobrir-me de tempo...envelhecendo-me...

opto pela chuva de verão...

e fazer do desejo...viagem.

A.B. 2019.