15.6.25

OPINIÃO: As palavras e as pontes


Existimos em abertura. São as pontes que criamos que nos vão alargando o mundo e nos mostram respostas que sozinhos não veríamos. O que pode parecer uma evidência é hoje mensagem a repetir com insistência e sobretudo com ação condizente. A poesia com que Lídia Jorge teceu ligações entre o passado e o futuro, recordando a mistura e a diversidade que nos corre nas veias, teve o tom certo para tempos em que alguns professam a solidão e a divisão.

Marcelo Rebelo de Sousa e a escritora convidada para o último Dia de Portugal presidido pelo atual chefe de Estado estiveram sintonizados. Sem esquecer um dos temas clássicos dos seus mandatos, a pobreza ou o risco dela que afetam um em cada cinco portugueses, o presidente da República sublinhou que cuidar dos “nossos” é tarefa que exige uma visão solidária, relacional e coesa da sociedade. Não exclui ninguém, pelo contrário: é quando alguém fica para trás que nos tornamos incompletos e mais pequenos.

O país não cresce em fechamento. Somos em movimento, somos em relação, somos porque cruzamos as diferenças e nos enriquecemos com elas. Sem revisionismos, mas aprendendo com os erros que marcam a nossa história. E se esse é um equilíbrio tão difícil, é essencial que o conhecimento e a Cultura contribuam ativamente para o atingir.

Numa altura em que a Cultura perdeu espaço no Governo (a somar ao orçamento que sempre lhe faltou), foi importante a voz de Lídia Jorge. A salientar a atualidade de Camões e a força da palavra, capaz de fazer revoluções. A palavra é combate e reconstrução. A palavra encontra caminho entre a falha e a imperfeição.

·         Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 11 junho, 2025