29.6.25

OPINIÃO: Ódio à vontadinha


 “É duro escrever isto. Mas é mais duro calar”. O desabafo é de Carla Nunes Semedo, vereadora da Câmara de Cascais, que denunciou nas redes sociais um ataque racista contra a filha feito por um motorista de um transporte público. “Achou por bem dizer-lhe que não transportava animais. Sim, em 2025. Em Portugal. Em Cascais”.

O caso é apenas mais uma prova do “à vontadinha” do discurso de ódio. Cada vez mais desenvergonhado e amplificado. Não é apenas uma perceção. Houve um aumento acentuado, diz-nos o Conselho da Europa. Cresceu 200%, acrescenta a Direção-Geral da Política de Justiça. O caso da filha da vereadora, o ataque ao ator em Lisboa, a agressão no Porto a voluntárias que prestavam assistência a um estrangeiro sem-abrigo e o desmantelamento do grupo neonazi que ponderou invadir o Parlamento e o Palácio de Belém provam a banalização.

O cenário agrava-se quando lemos no Digital News Report que a confiança nas notícias em Portugal atingiu o seu valor mais baixo em dez anos. É precisamente neste terreno extenso de desconfiança que o discurso de ódio se propaga com facilidade.

Tal como no resto do Mundo, a dependência de redes sociais, plataformas de vídeo e agregadores online cresce. Hoje, seis redes sociais atingem mais de 10% do público semanal com notícias, contra apenas duas há dez anos, refere o Digital News Report.

Combater este fenómeno exige, portanto, mais do que indignação. Exige uma regulamentação eficaz das plataformas, literacia mediática, responsabilização criminal e, sobretudo, reforço do jornalismo que informa.

·         Manuel Molinos – Jornal de Notícias -20 junho, 2025