Durante o debate do Estado da Nação, José Luís Carneiro apelidou André Ventura de “fanfarrão”.
Não gritou, não insultou, não partiu cadeiras.
Usou uma palavra banal, quotidiana, descritiva.
O Presidente da Assembleia da República — José Pedro Aguiar-Branco — interrompeu.
Censurou.
Advertiu.
Mostrou-se, ali, não como árbitro isento, mas como censor nervoso.
Edite Estrela, com o peso da sua experiência, interpelou o Presidente.
Perguntou-lhe com lucidez: “Desde quando é que ‘fanfarrão’ é um insulto?”
A pergunta ficou no ar.
O Presidente não respondeu.
Insistiu-se.
E a resposta, enfim, veio: “Tenho o direito de não responder.”
Sim, tem esse direito.
Mas não tem o direito de o exercer quando está a exercer um dever.
Quem preside à Assembleia da República não está ali para se proteger — está ali para servir.
Para garantir equilíbrio, justiça, proporção.
E quando não sabe ou não quer explicar as suas próprias decisões, falha no essencial: na legitimidade ética da função.
Se a palavra “fanfarrão” merece advertência, então o que merecem as insinuações, as humilhações públicas, os ataques pessoais e os discursos que exploram o medo e o preconceito?
Porque não se ouviram advertências aí?
Porque não se interromperam outras frases, bem mais graves, ditas da mesma tribuna?
Não se trata de semântica — trata-se de coragem.
E quando um Presidente da AR reage com severidade a um adjetivo brando, mas permanece passivo diante de insultos reais, há algo de podre no critério.
“Fanfarrão” é uma palavra que descreve um comportamento: o de quem vocifera muito e constrói pouco.
É isso ofensivo?
Não mais do que chamar “populista” ou “demagogo” — palavras já usadas sem punição.
O problema, afinal, não foi a palavra.
Foi quem a disse.
E a quem se dirigia.
O Presidente da Assembleia decidiu proteger o mais ruidoso em nome de uma dignidade que ele próprio nunca exigiu nos momentos certos.
E ao fazê-lo, revelou que já não está à altura do cargo que ocupa.
Porque o Parlamento não precisa de juízes de etiquetas — precisa de guardiães do equilíbrio.
Se há hoje um Estado da Nação a debater, que se debata também o estado da Presidência da Assembleia da República.
Porque um país pode tolerar fanfarrões — mas não pode tolerar quem normaliza a fanfarronice e pune quem a nomeia.
E quando o silêncio é a resposta institucional à pergunta de Edite Estrela, o problema já não é o adjetivo.
É o adjetivado.
AC
* Retirado da página de Facebook de Alberto Carvalho