17.7.25

OPINIÃO: O Presidente Que Tem Medo das Palavras


 No Parlamento português, parece que a palavra “fanfarrão” passou a ser mais perigosa do que as próprias fanfarronices.

Durante o debate do Estado da Nação, José Luís Carneiro apelidou André Ventura de “fanfarrão”.

Não gritou, não insultou, não partiu cadeiras.

Usou uma palavra banal, quotidiana, descritiva.

O Presidente da Assembleia da República — José Pedro Aguiar-Branco — interrompeu.

Censurou.

Advertiu.

Mostrou-se, ali, não como árbitro isento, mas como censor nervoso.

Edite Estrela, com o peso da sua experiência, interpelou o Presidente.

Perguntou-lhe com lucidez: “Desde quando é que ‘fanfarrão’ é um insulto?”

A pergunta ficou no ar.

O Presidente não respondeu.

Insistiu-se.

E a resposta, enfim, veio: “Tenho o direito de não responder.”

Sim, tem esse direito.

Mas não tem o direito de o exercer quando está a exercer um dever.

Quem preside à Assembleia da República não está ali para se proteger — está ali para servir.

Para garantir equilíbrio, justiça, proporção.

E quando não sabe ou não quer explicar as suas próprias decisões, falha no essencial: na legitimidade ética da função.

Se a palavra “fanfarrão” merece advertência, então o que merecem as insinuações, as humilhações públicas, os ataques pessoais e os discursos que exploram o medo e o preconceito?

Porque não se ouviram advertências aí?

Porque não se interromperam outras frases, bem mais graves, ditas da mesma tribuna?

Não se trata de semântica — trata-se de coragem.

E quando um Presidente da AR reage com severidade a um adjetivo brando, mas permanece passivo diante de insultos reais, há algo de podre no critério.

“Fanfarrão” é uma palavra que descreve um comportamento: o de quem vocifera muito e constrói pouco.

É isso ofensivo?

Não mais do que chamar “populista” ou “demagogo” — palavras já usadas sem punição.

O problema, afinal, não foi a palavra.

Foi quem a disse.

E a quem se dirigia.

O Presidente da Assembleia decidiu proteger o mais ruidoso em nome de uma dignidade que ele próprio nunca exigiu nos momentos certos.

E ao fazê-lo, revelou que já não está à altura do cargo que ocupa.

Porque o Parlamento não precisa de juízes de etiquetas — precisa de guardiães do equilíbrio.

Se há hoje um Estado da Nação a debater, que se debata também o estado da Presidência da Assembleia da República.

Porque um país pode tolerar fanfarrões — mas não pode tolerar quem normaliza a fanfarronice e pune quem a nomeia.

E quando o silêncio é a resposta institucional à pergunta de Edite Estrela, o problema já não é o adjetivo.

É o adjetivado.

AC

* Retirado da página de Facebook de Alberto Carvalho