O Núcleo Regional de Portalegre da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, apresenta aqui alguns factos, que na sua opinião, marcaram positiva e negativamente o ano de 2022.
Apesar da situação da guerra na Ucrânia ter dominado o ano de 2022, tanto no plano internacional, como nacional, este ano continuou a trazer por vários motivos, o Ambiente à ordem do dia. Nesse sentido, e como tem vindo a ser habitual, a Direção Nacional da Quercus emitiu um comunicado oficial sobre o ano que agora termina.
Ao nível do Alto Alentejo, e do distrito de Portalegre em particular, a Quercus destaca os seguintes factos, de acordo com o trabalho desenvolvido em 2022:
O PIOR DE 2022Barragem do Pisão
A obtenção de parecer “favorável condicionado” por parte da Declaração de Impacte Ambiental da Barragem do Pisão é uma derrota para a conservação dos sistemas agrosilvopastoris tradicionais, nomeadamente o montado de azinho e sobro e o olival tradicional, permitindo o avanço das monoculturas intensivas de olival e amendoal cujos impactos ambientais negativos se tornaram muito evidentes noutras regiões do Alentejo: perda de habitats e de biodiversidade associada à desmatação, alteração do uso do solo e do regime hidrológico dos cursos de água da região; contaminação da água e solo pelos agroquímicos amplamente utilizados em culturas intensivas; destruição da paisagem típica da região, com perdas ao nível da identidade sociocultural das populações residentes. Ao invés de contribuir para o desenvolvimento socio-económico sustentável e fixação de população no Alto Alentejo, a substituição de áreas de sequeiro por regadio pode vir a contribuir para uma ainda maior futura desertificação do território, já que se tratam de sistemas de cultura altamente mecanizados e esgotadores de recursos naturais.
Grandes Centrais Solares
O então Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, declarou a “imprescindível utilidade pública” para o projeto da Central Solar Fotovoltaica de Margalha, no concelho de Gavião, no Alto Alentejo, favorecendo o abate de 1079 sobreiros em cerca de 15 hectares, quando existiam alternativas de localização fora do montado de sobro que não foram consideradas. A Quercus defende a promoção da energia fotovoltaica, mas num modelo assente em critérios de sustentabilidade, com produção descentralizada em autoconsumo nos edifícios e não em grandes centrais dispersas no território, situação que não foi salvaguardada nos últimos leilões solares.
Fenómenos extremos e prejuízos no Alto AlentejoAs cheias provocadas pela intensa chuva que caiu em vários concelhos do distrito de Portalegre trouxeram destruição e prejuízos que aina não foi totalmente calculados.
Os dados científicos demonstram que estamos perante uma crise climática, em que fenómenos climáticos extremos irão ocorrer com maior frequência e violência, como consequência das alterações climáticas acarretadas pelas emissões por gases com efeito de estufa emitidos pelas atividades humanas. No entanto, nalguns casos, verifica-se um desordenamento do território, com construções e equipamentos instalados em leitos de cheias, impermeabilização dos solos e encanamento de ribeiras que propiciam que os extremos climáticos tenham efeitos desastrosos.
Passadiços instalados sem critério ambiental
Os passadiços no concelho do Gavião, no percurso de pequena rota PR8, Rota da Sirga prejudicaram aves protegidas como os Grifos e os Abutres-do-Egito.
O Instituto Nacional de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) confirmou “o abandono da colónia de grifos de Vale de Cerejeira, e a colónia de Vale da Marinha apresentava evidências de ter sido parcialmente abandonada”. Não houve reprodução desta espécie ameaçada devido à proximidade excessiva dos passadiços à e proximidade excessiva de humanos da Rota da Sirga.
Olivais superintensivos no Alto Alentejo
À semelhança do Baixo Alentejo, o Alto Alentejo, sobretudo, em concelhos como Elvas, Avis, Fronteira, Campo Maior ou Évora, continuou, em 2022, a ser também alvo da instalação de novas monoculturas intensivas e superintensivas de olival, sem um fim à vista, e a situação poderá mesmo agravar-se, caso avance a construção da Barragem do Pisão, no Crato. Quando a maioria das previsões aponta para num futuro breve existirem cada vez mais carências ao nível dos recursos hídricos disponíveis nas zonas a sul do Tejo, será muito questionável a aposta que está a ser feita nestas culturas de regadio, complementadas com utilização regular de fertilizantes químicos de síntese e produtos agrotóxicos. Mais grave se torna a situação quando a expansão destas culturas é feita à custa de floresta autóctone, base da biodiversidade local, ou com o sacrifício de olival adulto e tradicional, bastante mais bem adaptado às realidades locais.
Baixo índice de separação e reciclagem de resíduos
À semelhança do país, pese o esforço da VALNOR, continuamos com índices de separação de resíduos muito baixos, devendo a educação ser reforçada a partir das escolas, organismos públicos, restauração, empresas em geral… como já alertámos no balanço de 2021.
O MELHOR DE 2022
Alto Alentejo bem posicionado na Qualidade Ambiental
A análise do Índice Sintético de Desenvolvimento Regional, referente a 2020, foi divulgada em Junho deste ano, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta análise revelou que, ao nível do índice de qualidade ambiental, o Alto Alentejo se situa em quarto lugar nacional, atrás da Região Autónoma da Madeira (1º lugar), Trás-os-Montes (2º lugar), Beiras e Serra da Estrela (2º lugar), O estudo incidiu sobre 25 regiões Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos (NUTS) III e mostra que, apesar de muito existir ainda a fazer, o Alto Alentejo é uma referência em termos ambientais, a nível nacional.
Avis e Alandroal com bandeira verde
O Município de Avis e do Alandroal foram distinguidos com a bandeira verde atribuída pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE). Essa atribuição foi condicionada à avaliação do seu desempenho, através de indicadores de sustentabilidade, sendo um estímulo e uma responsabilidade para o fortalecimento de ações continuadas que visam a elevação da sua qualidade ambiental e educacional. É de salientar que dos Municípios portugueses vencedores da Bandeira Verde Eco XXI, Avis, Alandroal e Beja foram os únicos Municípios do Alentejo galardoados.
Autarquias promovem região
Nota-se algum esforço das autarquias para reavivar, eventos sociais, económicos e culturais que promovem o que temos de melhor e a própria vida social.
PERSPETIVAS PARA 2023
Chuva e água
Espera-se que o inverno chuvoso possa evitar seca na Primavera
Autarquias sem herbicidas
Esperamos que 2023 traga o primeiro município ou junta de freguesia a declarar-se livre de herbicidas
Rejuvenescimento do Alto Alentejo
A fixação da população na região poderá proporcionar um desenvolvimento sustentável, dos pontos de vista ambiental, económico.
Ambiente melhor
Esperamos que os cidadãos mais conscientes que consigam influenciar os políticos para um melhor Ordenamento do Território.
Portalegre, 30 de Dezembro de 2022
A Direcção do Núcleo Regional de Portalegre da Quercus – ANCN