7.12.24
OPINIÃO: Fardas, galões e cara de mau
Gouveia e Melo enaltece a eficácia da farda, dos galões e de ter cara de mau. Características que, no entender do almirante, foram decisivas para o sucesso da vacinação contra a covid.
Consciente de que as sondagens estão a seu favor, o almirante aproveita a aparente indisponibilidade de Passos Coelho e de Leonor Beleza para se afirmar na corrida a Belém. Sabe que um discurso centrado no rigor e na autoridade encaixa de forma perfeita num determinado perfil do eleitorado. Se lhe juntarmos a farda e os galões à imagem de apolítico que tenta criar, o enquadramento é exemplar. A candidatura presidencial deverá ser anunciada em março do próximo ano, mas já se percebe qual será a mensagem central da campanha.
As declarações de Gouveia e Melo na abertura das IV Jornadas Defesa/Saúde, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, não foram só uma crítica a quem não lhe reconhece perfil para ser chefe de Estado. Foram um autoelogio.
Em resposta aos comentadores que "menorizam" a task force da covid, o almirante fez questão de salientar "que não era qualquer militar que fazia aquilo. Havia muitas capoeiras com muitos galos". Falou de interesses instalados e da importância da autoridade. “Mas nós, militares, temos essa coisa. Temos cara de mau e quando estamos fardados e temos galões, às vezes isso ajuda”, disse para explicar o sucesso da operação de vacinação durante a pandemia.
Sobre a candidatura à presidência da República, Gouveia e Melo diz que só fala após abandonar as Forças Armadas, mas, na verdade, vai falando o que lhe interessa falar, depois de ter anunciado a indisponibilidade para ser reconduzido no cargo de chefe do Estado-Maior da Armada.
A importância das fardas, dos galões e de ter cara de mau já funciona nas sondagens. Nas redes sociais também. Resta saber quanto vale nas urnas.
• Manuel Molinos – Jornal de Notícias -06 dezembro, 2024