VILA VELHA DE RÓDÃO: Rosário Bello celebra 30 anos de carreira com exposição na Casa de Artes e Cultura do Tejo
A artista plástica Rosário Bello comemora 30 anos de uma carreira multifacetada com uma exposição retrospetiva da sua obra na Casa de Artes e Cultura do Tejo, em Vila Velha de Ródão. A mostra estará patente a partir de 5 de outubro e até ao final do ano, celebrando o percurso de uma artista natural de Nisa, mas com fortes raízes no concelho de Vila Velha de Ródão, onde viveu entre os seis e os 22 anos.
Nesta exposição, Rosário Bello apresenta uma diversidade de trabalhos que refletem as várias vertentes em que tem expressado a sua arte ao longo das últimas três décadas. O público poderá admirar telas, peças de cerâmica, incluindo a coleção “Saias”, que integra três peças especialmente dedicadas ao concelho de Vila Velha de Ródão. Além disso, duas novas obras, criadas especificamente para esta ocasião, serão reveladas pela primeira vez.
Rosário Bello é uma artista de múltiplos talentos. Plástica, ceramista, ilustradora, muralista, poetisa e professora, tem participado em mais de 180 exposições de pintura, tanto em Portugal como no estrangeiro. Entre os destaques do seu percurso internacional estão mais de 20 exposições realizadas em Itália, no Centro di Aggregazione Culturale de Ragusa, com o apoio do Município de Vila Velha de Ródão.
O prestígio de Rosário Bello tem-se consolidado em importantes certames europeus de arte contemporânea, como o Salão de Arte Contemporânea do Carrousel du Louvre, em Paris, onde participou nos anos de 2019 a 2022. Pelo seu trabalho, foi distinguida com Certificados de Mérito pelo Museu do Luxemburgo.
A sua versatilidade estende-se também à arte têxtil, com peças únicas de pintura à mão, incluindo criações para artistas de várias áreas e a sua participação na Covilhã Creative Week 2023. Além disso, Rosário Bello está representada em diversas coleções particulares e instituições, tanto em Portugal como no estrangeiro, com murais e painéis de azulejo.
O seu trabalho como pintora de arte urbana destaca-se em várias localidades, incluindo Ninho do Açor, Sobral do Campo, Lardosa, Vale da Torre, Castelo Branco, Vila Velha de Ródão e Oledo, onde deixou a sua marca em murais e painéis de azulejo, contribuindo para o enriquecimento cultural destes espaços.A exposição em Vila Velha de Ródão promete ser uma oportunidade única para o público explorar o vasto e variado trabalho de Rosário Bello, numa celebração que honra a sua dedicação e paixão pela arte.
28.9.24
Os Verdes questionam Ministério da Agricultura sobre a insustentabilidade da produção intensiva e super intensiva de olival e amendoal
O Partido Ecologista Os Verdes dirigiu, esta semana, uma pergunta ao Ministério da Agricultura e Pescas, solicitando esclarecimentos relativamente à insustentabilidade da produção intensiva e super intensiva de olival e amendoal, bem como à incompatibilidade deste modo de agricultura com os objetivos inerentes à Lei do Restauro da Natureza.
A transformação dos solos em monoculturas de exploração intensiva acarreta consequências profundamente nefastas para os ecossistemas, resultando na perda de biodiversidade, na extinção de espécies, e no uso massivo de agroquímicos, que contribui para a morte de milhares de animais e insetos, com especial ênfase para os polinizadores. Ademais, tal prática coloca em risco a saúde pública devido à contaminação dos solos e das águas, assim como à dispersão aérea dos produtos fitofarmacêuticos utilizados nestes modos de culturas intensivas. Estas preocupações foram, por exemplo, expressas por comunidades da bacia hidrográfica do rio Ponsul, no distrito de Castelo Branco.
"Nos últimos anos, tem-se observado uma preocupante tendência de fomento e apoio à proliferação de monoculturas agrícolas intensivas e super intensivas, fenómeno que reflete opções políticas que descuram os valores ambientais e sociais em prol dos interesses e lucros dos grandes grupos económicos ligados ao agronegócio.
A conversão dos solos em monoculturas de exploração intensiva acarreta efeitos profundamente nefastos nos ecossistemas, conduzindo à perda de biodiversidade e à extinção de espécies de fauna dependente da variabilidade alimentar que outrora existia. A produção intensiva associada ao uso massivo de agroquímicos, contribui para a mortandade de milhares de animais e insetos, nomeadamente polinizadores, mas também coloca em risco a saúde pública devido à contaminação dos solos, das águas e à dispersão pelo ar dos produtos fitofarmacêuticos utilizados nestes modos de culturas intensivas.
O Partido Ecologista Os Verdes, face ao alastrar deste modelo agrícola, cujos impactos são sobremaneira elevados para o ambiente e para as populações, tem vindo a denunciar e a intervir no sentido de travar a expansão destas culturas super intensivas, como o olival e amendoal, localizadas em particular em regiões com alta suscetibilidade ao empobrecimento dos solos, como é caso do Alentejo. Foram várias as iniciativas parlamentares que Os Verdes apresentaram na Assembleia da República, como por exemplo, o Projeto de Lei n. 616/XIV para garantir um distanciamento mínimo de 300 metros entre o extremo de culturas agrícolas permanentes super intensivas e os núcleos habitacionais, e o Projeto de Resolução n. 835/XIV que exorta o Governo a que as culturas agrícolas permanentes super intensivas não sejam beneficiárias de apoios públicos.
Este fenómeno, deixou de estar a ser circunscrito ao Alentejo, em particular na área de influência da Barragem do Alqueva, tendo-se alastrado a outras áreas do país, como a Beira Baixa e Ribatejo, onde a implementação de extensas áreas de olival e amendoal intensivo e superintensivo, tem suscitado a preocupação e denúncia das populações. Estas alertam para os impactos na sua qualidade de vida e ameaças à sua saúde e para a incompatibilidade deste tipo de agro-negócio com outras atividades económicas locais, como é o caso da produção agrícola familiar e biológica e do turismo sustentável.
Entre essas comunidades, destacam-se os moradores da Várzea, em Idanha-a-Nova, que nos fizeram chegar uma queixa e um alerta. Esta Comissão de Moradores crítica os projetos megalómanos deste tipo de culturas que, na sua perspetiva, não resultaram em benefícios económicos nem na criação de emprego sustentável. Alerta também para a contaminação do solo, da água e do ar e redução da biodiversidade local com a destruição de habitats de várias espécies da região e de vegetação, nomeadamente ripícola. A contaminação dos solos e das águas subterrâneas e a mobilização do solo com maquinaria pesada afeta diretamente as nascentes e captação de águas próprias, como os poços e furos artesianos.
A expansão dos modos de produção super intensivo é contraproducente e antagónica à Lei do Restauro da Natureza da União Europeia que teve o aval do Governo português. Quando se ambiciona até 2030 restaurar 20% do território da UE, é desde logo urgente travar e reverter este modo de produção insustentável que constitui uma ameaça para o ambiente, para as economias locais, a agricultura tradicional, a preservação paisagística e identidade cultural.
Neste contexto, tendo em consideração a preocupação das populações e o facto de os partidos políticos terem o direito, nos termos da Lei Orgânica n.º 2/2003, de 22 de agosto de acompanhar, fiscalizar e criticar a atividade dos órgãos do Estado, Os Verdes gostariam de obter os seguintes esclarecimentos do Ministério da Agricultura e Pescas:
1- Tem o Ministério da Agricultura e das Pescas conhecimento da realidade comunitária das 13 famílias que vivem junto às margens do rio Ponsul e dos impactos que as culturas super intensivas têm tido nas suas vidas?
2 - Considera o Ministério que a expansão de projetos e área afeta a modos de produção superintensiva é conciliável com a fixação de população no interior do país, nomeadamente nas zonas já de si deprimidas, e com a justa reivindicação das melhorias das suas condições de vida e desenvolvimento económico?
3 - Considera o Ministério que a expansão de projetos e áreas afetas a modos de produção superintensiva é conciliável com os objetivos inerentes à Lei do Restauro da Natureza (LRN)?
4 - Pondera o Governo adotar medidas para travar e reverter os modos de produção intensivos e super intensivos, com impactos na biodiversidade e comunidades locais, tendo em vista os objetivos e metas da LRN?
5 - Considerando os compromissos nacionais de restauro, que medidas serão tomadas para minimizar os impactos dos megaprojetos intensivos em curso, perante os impactos sobre o ambiente e as comunidades locais, em particular sobre a contínua contaminação dos solos, das águas e do ar?"
O Partido Ecologista Os Verdes
26 de setembro de 2024
27.9.24
NISA: VIII Trail Running "Vila de Nisa"
Informamos que as inscrições para o VIII Trail Running Vila de Nisa abriram às zero horas do dia 27 de Setembro!!!
Inscrições limitadas!!!
Não te atrases! Garante já a tua presença!
26.9.24
Marvão celebra as suas origens com o Festival Al Mossassa
Festival realiza-se de 4 a 6 de Outubro
De 4 a 6 de outubro, Marvão volta a celebrar a autenticidade das suas origens com o Festival Al Mossassa. Durante estes três dias, a parte alta da vila dá espaço à imaginação e leva-nos a recuar até ao séc. IX, data da sua fundação por Ibn Marwan.
Para recordar as raízes árabes da vila, o Município de Marvão, promotor desta que é também conhecida como a Festa da Fundação, preparou um programa diário muito diversificado e rico em atividades.
Entre recriações históricas, espetáculos de música, dança, artes circenses, cavaleiros em duelos de espadas, a 17ª edição do Festival Al Mossassa convida a uma visita prolongada a Marvão, para uma experiência cultural inesquecível.
No Mercado das Três Culturas, numa autêntica viagem pelo tempo, vão poder explorar-se os produtos, saberes e sabores das culturas islâmica, judaica e cristã.
Entre os grandes destaques da programação está o espetáculo “Ali Hassan e a Cisterna Oculta”, agendado para as noites de sexta-feira e sábado (21h30). Este momento conta a história de Ali Hassan que, perante um cenário desesperante de seca e opressão do povo, tem a audácia de partir à descoberta e de desafiar os seus limites, transformando a desolação do povo num oásis de liberdade.
O Festival Al Mossassa inclui ainda um espaço dedicado às atividades da época, com artesanato, acampamentos militares (cristão e árabe), exposição de armas, jogos medievais, oficina de esgrima, tiro com arco e uma mostra de serpentes e cetraria.
A entrada no certame custa 2€ e é gratuita para menores de 12 anos, com parte da receita a reverter a favor de quatro instituições particulares de solidariedade social do concelho.
A inauguração oficial do XVII Festival Al Mossassa está agendada para as 18h00 de sexta-feira, dia 4, no átrio dos Paços do Concelho.
Conheça o programa completo em: https://bit.ly/3XVoleK
22.9.24
OPINIÃO: Fogo que arde sem saber
Se o primeiro-ministro fosse uma pessoa qualquer, falando de peito aberto sobre um flagelo coletivo, seria entendível. Se o primeiro-ministro fosse uma pessoa qualquer, cerrando os dentes sobre uma fatalidade que se repete, seria compreensível. Mas o primeiro-ministro não é uma pessoa qualquer. E por essa razão não deve encarnar no cidadão comum que pugna por justiça na mesa do café ou na sala de jantar de casa.
Não deve incendiar a praça pública com declarações em que sugere que os fogos que assolaram o país foram resultado de ações criminosas ou da conjugação de interesses económicos obscuros. Em primeiro lugar, porque desresponsabiliza, de forma indireta, todas as asneiras que, há anos, o Estado português tem patrocinado em matéria de prevenção de incêndios, de acompanhamento da floresta e de reforma do sistema de Proteção Civil. Em segundo lugar, e mais grave, porque não apresentou provas e porque estas insinuações não encontram respaldo na realidade estatística.
Apenas um terço dos fogos teve ação criminosa direta e a larga maioria das ignições está relacionada com a incúria dos portugueses. Os incendiários detidos triplicaram na última década, mas elegê-los como alvo preferencial é, além de perigoso, pouco rigoroso. A tempestade perfeita de chamas tem-se alimentado, sobretudo, do cruzamento de deficientes políticas públicas e de uma confrangedora falta de cultura cívica de demasiados cidadãos.
Aos decisores, e aos governos, cabe a missão de criar condições (e leis) para que os problemas de fundo se resolvam ou atenuem. Investigar e prender é uma missão das entidades policiais e judiciárias. É verdade que estamos cansados de equipas especiais e comissões criadas à pressa em cima dos acontecimentos, mas esse torpor não pode ser combatido com posições públicas populistas e incendiárias. Luís Montenegro já mostrou que sabe fazer melhor.
Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias - 21 setembro, 2024
TORRE DO TOMBO: Luta e Liberdade: 100 anos do nascimento de Amílcar Cabral
De 4 de Setembro e até dia 11 de outubro de 2024, é possível visitar a Mostra Documental “Luta e Liberdade: 100 anos do nascimento de Amílcar Cabral”, um dos líderes mais proeminentes na luta pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.
Nesta mostra apresentam-se documentos do seu processo individual da PIDE, das suas atividades de luta pela independência dos estados africanos, da sua participação em vários fóruns internacionais e alguns objetos de propaganda do P.A.I.G.C.. Mostram-se ainda alguns telexes censurados relativos à sua morte e um conjunto de imagens da cobertura noticiosa da mesma, na imprensa portuguesa da época.
Esta mostra pode ser visitada diariamente, entre as 09.30h e as 19.30h. Encerra aos sábados, domingos e feriados.
OPINIÃO: Os bombeiros não são carne para canhão
1. Defender a vida das
pessoas. Deve ser essa a prioridade, quando o fogo é impossível de controlar,
como tem acontecido em tantos lugares por estes dias. Não é preciso ser um
especialista para perceber que, por maior que seja a capacidade tecnológica e
logística à nossa disposição, a natureza terá sempre mais poder. Isto não é
sinónimo de deixar arder. Significa apenas que os meios materiais e humanos
devem ser orientados, em primeiro lugar, para salvar vidas. E só depois para o
património. Isso inclui salvar as vidas dos bombeiros, que não são carne para
canhão. Vai ser preciso esperar para detalhar o que aconteceu aos três
bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha (Tábua) que morreram por causa de um
veículo avariado. Como será preciso esperar para saber porque foi considerado
mais importante resgatar uma máquina do que assegurar a vida de um trabalhador
florestal em Albergaria-a-Velha. Não se pode tirar conclusões de forma
precipitada, mas não chega reconhecer o heroísmo e apresentar condolências. Se
houve negligência ou cobiça, se os meios não eram adequados, se alguém deu uma
ordem errada, é preciso apurar, corrigir e castigar.
2. Sempre que o país é
apanhado em contrapé, a tentação imediata é a de questionar os meios e exigir
mais bombeiros, autotanques, helicópteros e aviões. Como se fosse possível
aplicar a velha máxima futebolística de que o ataque é a melhor defesa. É
evidente que essa capacidade não deve ser descurada. Mas, se o objetivo é
evitar a destruição do património natural (e por extensão das casas, das indústrias
e das vidas), que não haja ilusões: é pela prevenção que existe alguma hipótese
de êxito (relativo, porque não somos deuses). Como repete Domingos Xavier
Viegas, sempre que é chamado a explicar mais uma catástrofe, apostar na gestão
dos espaços agroflorestais (diversificando espécies e acabando com a
monocultura do eucalipto ou o pinheiro-bravo) e na formação dos cidadãos (boa
parte dos fogos continua a ser causada por comportamentos negligentes e
criminosos).
* Rafael Barbosa – Jornal de
Notícias - 18 setembro, 2024
17.9.24
Apontamentos sobre a Queijaria de Nisa e Castelo de Vide (2)
- O Passado e o Presente
Na época a que me venho reportando, nos concelhos de Nisa e
Castelo de Vide, faziam-se três tipos de queijo de leite cru:
- O de ovelha extreme, de dois tamanhos
- O mestiço, da mistura do leite de ovelha e de cabra, em
proporções variáveis;
- O dos Montes, também de mistura do leite de ovelha e
cabra, com predomínio mais frequente do cabrio.
O queijo de Ovelha era o característico de Nisa. O queijo que
mais se impôs e afamou foi o de tamanho grande – 1.100 a 1500 gr de peso. Pela
sua apresentação e qualidade ombreava com os queijos de ovelha do país do seu
tipo. Esse deu nome a Nisa. Assim era conhecido.
O queijo de menor tamanho – 700 a 900 gr de peso – tinha
qualidade, mas era absorvido pelo consumo local e regional.
Como não havia regra sem excepção, a progressiva Casa
Fragoso de Póvoa e Meadas (Castelo de Vide), só fazia queijo de ovelha dos dois
tamanhos, do leite dos seus três rebanhos. O amor à árvore do proprietário não
consentia a presença da cabra. Como dizia : “é bicho daninho, pasta alto, rói tudo onde chega”.
O queijo dos Montes, mais pequeno – 300 a 500 gr. De peso –
era muito apreciado na zona, era praticamente absorvido pelo consumo local.
Como mais pequenos, eram mais acessíveis no preço e como me dizia um ganhão,
“condutavam bem”.
Noto que os produtores do autêntico queijo de Nisa, o
grande, residiam em Nisa e lembro-me que nesse tempo se falava nalguns
produtores fora de Nisa desse tipo de queijo. Apenas me vem à idia que um era
de Arez, o lavrador Bastos, a Casa Rasquilho da Amieira e a Casa Correia, de
Gáfete.
Os queijos de ovelha e os mestiços de Castelo de Vide eram
consumidos curados. Os queijos de ovelha de maior tamanho também se consumiam,
por vezes, na fase da pasta semi-mole, como acontecia com os seus congéneres de
Serpa e Beira Baixa.
Lembro-me, porque assisti várias vezes, que os queijos
guardados para consumo da casa eram mantidos em asados vidrados, tratados
semanal ou quinzenalmente, para serem limpos, lavados com água ligeiramente
salgada, secos a pano e untados no fim com azeite, para de seguida entrarem
novamente nos asados.
Os queijos dos Montes eram consumidos, por via de regras, na
fase de meia cura, com a massa, por vezes de consistência pastosa. Estes
queijos depois de curados e pouco cuidados com o tempo secavam, engelhavam a
casca, adquiriam sabor picante e activavam o cheiro, por vezes com exuberância.
Ainda me recordo das mulheres dos Montes e de Montalvão
andarem de cesta na mão para venderem os queijos, de porta em porta, na minha
aldeia.
Os queijos dessa época tinham características próprias,
qualidade e reputação. Fartavam o consumo local e da região. Os excedentes
tinham procura e aceitação nos mercados distantes.
Acentuo que na região não se vendia leite para queijar.
Apenas nos Montes, segundo constava, num ou outro caso, o queijo era feito em
regime de parceria entre vizinhos, quase sempre familiares.
Neste breve e singelo apontamento tentei recordar os queijos
de Nisa e Castelo de Vide dessa época.
Nos tempos de estudante universitário, dois tipos de queijo
tinham grande fama em Lisboa: o Serra e o Serpa. Na época própria enchiam as
montras das mercearias finas da Baixa e do Chiado.
Curiosamente, o preço do queijo de Serpa era superior ao do
queijo da Serra, ao invés do que acontece nos últimos vinte anos em que o preço
do queijo da Serra, certificado ou só com o rótulo dessa região, supera
bastante o preço do queijo de Serpa.
O queijo de castelo Branco ou da Beira Baixa, do mesmo tipo
e apresentação dos referidos acima, aparecia menos nos mercados da capital.
O queijo de Nisa, idêntico aos anteriormente citados, no
tamanho e características organoléticas, era o que tinha presença mais apagada
no mercado lisboeta. A mais reduzida produção e a sua quase absorção pelo
consumo local e regional, parecem explicar a sua mais parca presença.
A semelhança entre os quatro tipos de queijo é, a meu ver,
inegável. As diferenças que se notam entre eles, filiavam-se, sobretudo, na
fase de cura em que são lançados no mercado, portanto, na textura da massa. A
mais reconhecida é a do queijo da Serra, com a sua pasta mole – de entorna – ou
semi-mole com que aparece no mercado.
O hábito e o gosto dos consumidores, marca a sua preferência
na escolha.
Os técnicos e cientistas que se têm ocupado do estudo desses
queijos são unânimes em afirmar que a raiz tecnológica dos queijos de ovelha
focados é a do queijo da Serra e que os preceitos seguidos no fabrico na região
da Serra da Estrela, foram divulgados e ensinados pelos pastores que
acompanhavam os rebanhos em transumância pela Beira Baixa e pela faixa interior
do Alentejo.
Neste grupo de queijos de ovelha, uma característica os
distingue: a qualidade.
O queijo de Azeitão, igualmente de leite de ovelha extremes
apareceu e ganhou fama mais tarde, depois de sofrer aperfeiçoamentos
tecnológicos no fabrico e de ter sido fixado o formato e o tamanho. Entrou com
galhardia no grupo de queijos de ovelha do país de alta qualidade.
Abro dois parêntesis: um para referir que comi em Espanha –
Saragoça, Burgos, Talavera, Aranjuez, etc., o queijo Manchego, o mais corrente
no país como queijo de ovelha. A qualidade era banal, ia do bom ao sofrível.
Não impressionava e estava longe da qualidade dos queijos de ovelha citados.
Há três anos tive no Pavilhão de Espanha, na Feira Nacional
de Agricultura (Santarém), a grande surpresa de ver e provar o novo queijo
Manchego, feito para concorrência no mercado dos países da CEE.
Um queijo com rica apresentação, de tamanho grande, de
bonito formato, com grande qualidade. Um progresso tecnológico notável, que
muito dignifica os técnicos espanhóis.
O outro para anotar que a França é, na Europa e no mundo, o
país mais rico em queijaria. São múltiplas e notáveis, pela constância do tipo
e da qualidade, as variedades de queijo: o Roquefort, o Brie, o Point Levéque,
o Camembert, o St. Lazaire, o Cantul, as Chévves (piramidal, cilíndrico,
cúbico, o pequeno, etc.) eu sei lá quantas mais variedades.
Por isso os franceses se orgulham de ter o “rei dos
queijos”, o Roquefort, e o “queijo dos reis”, o Camembert.
Portugal bem podia orgulhar-se de ter o “rei dos Queijos” ,
o Serra, e os queijos dos príncipes – o Serpa, o Beira Baixa, o Nisa , o
Azeitão. São queijos de ovelha ímpares no mundo. A eles só se assemelha o Belle
Daise italiano, sem os superar em qualidades sápitas.
* José Carrilho Ralo
* Este trabalho que continuaremos publicar aqui e no Portal de Nisa
(blog) é da autoria do Dr. José Carrilho Ralo (já falecido) e foi entregue num
caderno, escrito à mão, em Junho de 1997. Julgamos importante a sua divulgação,
tanto pelo tema como pela autoridade profissional e científica do conhecido
veterinário natural de Póvoa e Meadas.
16.9.24
OPINIÃO: A normalização das desigualdades
A justiça confronta-se com problemas
tão sérios, da morosidade às omnipresentes escutas, que só essa enorme latitude
de temas polémicos justificará a escassa reação que mereceram as declarações da
procuradora-geral da República, no Parlamento, sobre os “constrangimentos”
causados pela predominância de mulheres na magistratura do Ministério Público.
Quando questionada sobre a falta de recursos humanos, Lucília Gago entendeu
acentuar as ausências causadas pela gravidez, ou pior ainda pela gravidez de
risco, as horas para amamentação ou a necessidade de assistir filhos menores.
De uma penada, Lucília Gago
não se limitou a atacar os direitos das mulheres e a expor o total
desequilíbrio a que se sujeitam na compatibilização entre vida profissional e
familiar. Pôs em causa conquistas civilizacionais e direitos que deveriam estar
adquiridos. Só que não estão e os próprios sindicatos do setor, incapazes de
pôr de lado o corporativismo na leitura da audição, teceram elogios à
procuradora-geral e ignoraram os pontos polémicos, incluindo em matéria de
direitos laborais.
As declarações de Lucília
Gago são um bom exemplo do quanto há de ilusório no caminho da igualdade e de
como tão facilmente se normalizam comportamentos e declarações que expõem de
forma tão descarada a discriminação. E é tão fácil encontrar esse padrão em
tantos outros desequilíbrios na nossa vida coletiva. É o caso, pegando noutro
exemplo da semana, da profunda injustiça no acesso à educação, um direito
protegido constitucionalmente.
Enquanto famílias com
capacidade financeira pagam explicações para suprir a falta de professores em
determinadas disciplinas, quem não dispõe dos mesmos recursos vai ficando para
trás. Bem podemos desfiar teorias sobre o mérito, fingindo que, se nos
esforçarmos, todos podemos conquistar o mundo. A verdade é bem diferente: a
escola está longe de oferecer a prometida igualdade de oportunidades. E numa
sociedade que tanto precisa de empatia e de entreajuda, normalizar as
desigualdades é meio caminho andado para não as corrigir.
Inês Cardoso – Jornal de
Notícias - 15 setembro, 2024
14.9.24
OPINIÃO: A favor das restrições dos telemóveis nas escolas
O Ministério da Educação decidiu recomendar às escolas a
proibição do uso do telemóvel nos 1.o e 2.o ciclos e restrições no 3.o ciclo.
Trata-se de uma medida já implantada em vários estabelecimentos de ensino, sobretudo
privados, que procura restabelecer a convivialidade dos alunos nos recreios e
um normal funcionamento das aulas.
Quem tem filhos nos ensinos Básico ou Secundário, como é o
meu caso, sabe bem a enorme dependência que os mais jovens têm hoje do telemóvel.
Por vontade própria, o consumo diário de periféricos móveis poderia ser de
largas horas. Estão ali em frente de um ecrã como se procurassem agarrar o
Mundo todo nas mãos. Muitas vezes de uma forma tão obsessiva como solitária. Em
casa, cada um de nós, enquanto pais, procura limitar esse uso, muitas vezes
procurando alternativas inimagináveis. Devo reconhecer que frequentemente o meu
filho reconhece nas atividades propostas no lugar dos ecrãs uma atratividade
maior do que aquela que encontra nos vídeos (jogos). Há apenas uma variável que
essas opções devem ser conter: uma interação humana. Parece sempre muito mais
sedutor um jogo com jogadores reais ou uma atividade de lazer que implica
convívio interpessoal do que a tecnologia que está ao alcance dos dedos. E isso
faz-nos pensar (muito) acerca do tempo que (não) dispensamos em família.
Em contextos de sala de aula a minha experiência faz-se com
alunos que frequentam o Ensino Superior. Os tempos letivos que procuramos que
sejam de uma aprendizagem ativa feita de discussão de ideias e de descoberta de
novos conteúdos é atravessada em permanência pelas redes sociais. Pousados em
cima da mesa, os telemóveis são permanentemente iluminados por notificações que
interpelam os estudantes para outros mundos que os transportam para muito longe
daquilo que se passa ali, na sala de aula. Nos ensinos Básico e Secundário,
essa turbulência será bem menor, mas não estará ausente e será um elemento
(muito) perturbador no ambiente de uma turma. No entanto, é nos recreios que os
telemóveis ocupam mais espaço. E isso tem efeitos devastadores a vários níveis:
na relação entre os alunos, nos estados de agitação ou de ansiedade que,
decerto, transportarão para dento da sala de aula...
Para evitar polémicas, o Governo optou por uma linguagem
suave: recomendou a proibição do uso do telemóvel para os mais pequenos e
restrições para os maiores. A iniciativa não é consensual. Faltará lembrar uma
evidência que muda muita coisa: dentro de uma escola dos ensinos Básico e
Secundário nenhum aluno precisa do telemóvel. E isso retém-nos no essencial
desta discussão.
Felisbela Lopes – Jornal
de Notícias - 13 setembro, 2024
Professora catedrática da UMinho
CENTRAL NUCLEAR DE ALMARAZ - Consulta Pública: Posição dos "Verdes"
O Partido Ecologista
Os Verdes participou da consulta pública
“Avaliação do Impacto Ambiental do novo Armazém Temporário
Individualizado (ATI 100)”
O Partido Ecologista Os Verdes, há vários anos, em
consonância com diversas associações ambientalistas, reivindica o encerramento
da central nuclear de Almaraz (Cáceres). Esta contestação não se fundamenta
apenas na oposição à produção de eletricidade através da energia nuclear mas
também na reconhecida falta de condições de segurança da central, o que
exacerba o risco de acidentes resultantes do seu funcionamento.
A cessação da exploração das Unidades I e II da central
nuclear de Almaraz, conforme estipulado no VII Plano Geral de Resíduos
Radioativos, no âmbito do programa de operação e desmantelamento de instalações
nucleares está previsto para o final de 2027 e 2028, respectivamente. Este
encerramento ocorrerá com mais de 20 anos de atraso, dado que a central já
havia ultrapassado o seu horizonte operacional em 2010, representando, desde
então, sobrelevado o risco de acidente, sendo sucessivamente afirmado pelo PEV
como: Um perigo à nossa porta.
Para além do risco inerente à segurança decorrente da
operação de desmantelamento da central obsoleta, foi iniciado em 2016 e
concluído em 2018, a construção na área da central um Armazém Temporário
Individualizado (ATI 20), supostamente temporário, como o nome indica, para
depositar os resíduos nucleares produzidos pela instalação.
Desde o início, Os Verdes alertaram e pressionaram o Governo
português para a necessidade de envolvimento do nosso país na avaliação de impacte
ambiental do ATI. Este processo foi iniciado por Espanha sem dar conhecimento a
Portugal, apesar da proximidade territorial e das implicações transfronteiriças
decorrentes do facto de o armazém estar localizado na Bacia do Tejo. O Governo
(português) acabou por apresentar uma queixa na UE sobre o assunto.
Os Verdes opuseram-se veementemente àquela infraestrutura.
Em primeiro lugar, devido aos perigos que representa, particularmente para as
populações limítrofes e para aquelas que dependem das águas do Rio Tejo. Os
Verdes alertaram igualmente para o facto da construção do ATI 20 poder vir a
abrir caminho para a sua expansão, tornando-se, deste modo, numa solução cada
vez mais definitiva, o que parece estar a concretizar-se.
Atualmente, e no âmbito desta consulta pública, Os Verdes
pronunciaram-se sobre a avaliação do impacte ambiental do novo Armazém
Temporário Individualizado (ATI 100) da central nuclear de Almaraz (Cáceres).
Não obstante ser positivo, a concretizar-se, o início do encerramento dos reatores
da central a partir de 2027, este ATI não deixará de representar um perigo para
o nosso país, em particular para as águas do Tejo, tratando-se de resíduos
altamente radioativos.
A falta de soluções para os resíduos nucleares vem
evidenciar aquilo que sempre afirmamos: que o nuclear nunca foi, não é e jamais
será uma solução para responder aos desafios energéticos, por mais que a União
Europeia assim o tenha entendido no quadro da taxonomia verde.
Os Verdes reafirmam a oposição a este novo ATI 100.
Pelas populações, pelo ambiente e pela segurança, Os Verdes
afirmam que o nuclear não é Verde. Nuclear não obrigado!
Segue em Anexo a Participação do Partido Ecologista Os
Verdes no quadro da consulta pública.
Lisboa, 13 de setembro de 2024
Partido Ecologista Os Verdes
Amílcar Cabral: 100 anos depois, a luta continua
“Nenhuma força do mundo poderá evitar a libertação total do
nosso povo e a conquista da independência nacional da nossa terra», afirmou
Amílcar Cabral, cujo centenário do nascimento se assinalou esta quinta-feira.
A Casa do Alentejo, em Lisboa, acolheu na tarde desta
quarta-feira uma sessão evocativa do centenário do nascimento de Amílcar
Cabral, promovida pelo PCP e onde, para além do PAIGC e do PAICV, marcaram
presença o MPLA e a FRELIMO, e representantes diplomáticos de Angola,
Cabo-Verde, Moçambique, Timor-Leste, China e Cuba.
Aldonça Ramos, vice-presidente em Portugal do PAIGC, na
intervenção inicial da sessão destacou a figura de Amílcar Cabral, assassinado
a 20 de Janeiro de 1973 por agentes da ditadura fascista portuguesa, «cuja
figura e obra ultrapassaram todas as fronteiras» e falou da actualidade do programa
que então elaborou de «luta contra a pobreza, o tribalismo, pela saúde e a
educação».
Por seu lado, Daniel Pina usou também da palavra para
considerar Amílcar Cabral como o «maior filho da Guiné-Bissau e de Cabo-Verde e
pai da nacionalidade» destes dois países. Na sua intervenção, o
primeiro-secretário em Portugal do PAICV abordou o que considerou ser, por um
lado, o «programa menor» de Cabral, «que era a independência da Guiné-Bissau e
de Cabo-Verde» e, por outro, o «programa maior, que era a libertação dos povos
da fome, miséria, opressão e do atraso no desenvolvimento em relação a outros
povos».
No encerramento da iniciativa, Paulo Raimundo destacou o
facto de ter sido em Lisboa que Amílcar Cabral «tomou contacto directo com a
luta do povo português e, num ambiente de enérgica actividade do movimento da
oposição democrática, não só participa nas actividades do MUD e noutras frentes
da luta antifascista, como ao mesmo tempo desenvolve uma intensa actividade
cultural e política. Uma intensa actividade com outros estudantes originários
das colónias, alguns dos quais, tal como ele, viriam a assumir grandes
responsabilidades na criação e na direcção dos movimentos de libertação
nacional das suas terras e com os seus povos».
O secretário-geral do PCP sublinhou ainda que «foi na luta e
na intervenção pela libertação de todos os povos, dos povos das colónias e do
povo português, que se foram tecendo laços de amizade e solidariedade entre o
PCP e o PAIGC e mais tarde também com o PAICV», para concluir que «Cabral vive,
em cada luta contra a injustiça, em cada luta contra a desigualdade, em cada
luta pelos direitos e anseios dos povos».
A cultura também marcou presença na sessão, seja em música e
canções, através das vozes das cantoras cabo-verdianas Nancy Vieira e Teté
Alhinho e do cantor e músico angolano Semedo, seja em poesia e textos de
Amílcar Cabral declamados pelo actor angolano Júlio Mesquita.
Comemorações continuam
Entretanto, a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de
Abril anunciou que vai evocar o centenário do nascimento do líder
independentista africano com a reposição de «Amílcar Cabral, uma
Exposição», e a publicação de dois
livros, Cabral Ka Mori e O Mundo de Amílcar Cabral.
A exposição, na sua versão itinerante, pode ser visitada na
Amadora, no Espaço Delfim Guimarães, a partir desta quinta-feira e até 30 de
Outubro.
A apresentação de Cabral Ka Mori e de O Mundo de Amílcar
Cabral será no próximo sábado, no dia 14 de Setembro, às
16h30, em Lisboa, no Centro Cultural de Cabo Verde. Cabral Ka Mori, da autoria
de José Neves e Leonor Pires Martins, reflecte a exposição que esteve patente
no Palácio Baldaya, guiando o leitor por 50 objectos reveladores de momentos e
lugares da vida de Amílcar Cabral, enquanto O Mundo de Amílcar Cabral reúne estudos
de especialistas e testemunhos de contemporâneos de Cabral, e será apresentado
por Manuela Ribeiro Sanches e Raquel Ribeiro.
AbrilAbril . 11 de Setembro de 2024
9.9.24
NISA: O Livro das Mulheres Solteiras e Grávidas
A imagem é do Termo de
Abertura do "Livro das Mulheres Solteiras e Grávidas", assinado em 2
de Setembro de 1855 pelo Administrador do Concelho, José Albano Biscaia de
Matos.
Na abertura se determina que
o livro há-de servir para "se inscreverem n´elle as mulheres solteiras
deste Concelho que apparecendo gravidas foram intimadas por esta Administração
para aapresentação ecreação de seus filhos.
Contem dez folhas que vão
enumeradas e rubricadas Campelo a quem dei Commissão).
O Administrador do Concelho
de Niza 2 de Setembro de 1855"
*****
E, assim, com uma Intimação,
que não era nem mais nem menos que uma Intimidação, se pretendia resolver um
dos problemas sociais mais graves da época, o dos Expostos, recém-nascidos a
quem as mães, por falta de meios económicos e de condições mínimas de
sustentação, deixavam, pela calada da noite, embrulhadas num xaile ou em frágil
roupinha, às portas da "gente rica" ou entregavam na "Roda dos
Expostos", nas localidades onde estas existiam.
Tempos de miséria e
obscurantismo, em que faltava tudo, até a informação mais elementar sobre
métodos contraceptivos, mas abundavam as relações extra-conjugais, muitas delas
"fruto" do abuso e opressão de quem detinha o poder e os meios de
produção sobre quem deles necessitava para alimentar a prole.
Hoje, o problema é a
natalidade. Nascem cada vez menos pessoas, a renovação de gerações é feita de
modo desiquilibrado e até as Câmaras Municipais como a de Nisa, aproveitam o
"fenómeno" para o incluírem nos seus menus eleitorais, com
"prémios." e sessões de beija-mão, que não são mais do que meros
paliativos que apenas adiam a resolução dos problemas reais.
5.9.24
50 ANOS DO 25 de ABRIL - O Fascismo existiu e a repressão também - ABUSOS DOS PRESIDENTES DE CÂMARA
É um documento enviado em 27 de Novembro de 1943 pela
Direcção Geral de Administração Política e Civil sob tutela do Ministério do
Interior, aos Governadores Civis do país RECOMENDANDO maior prudência na
detenção de pessoas, muitas vezes - quase sempre - presas por simples suspeita
e sem qualquer fundamento. Imperava a arbitrariedade e o abuso de autoridade de
tal modo que o Ministério do Interior se viu na obrigação de "chamar à
pedra" as autoridades policiais através dos presidentes de Câmara.
4.9.24
OPINIÃO: A cidade regressa em setembro
Esta semana, para mim, é como se fosse o primeiro dia do
ano! É tempo do regresso. Uns voltam à escola e ao contacto com os colegas,
outros ao trabalho. Para estes últimos, onde me incluo, é o regresso ao
“segundo semestre”, embora curto, depois de férias de todos os colaboradores.
Há meses que temos os colegas em trânsito, que temos de ocupar as funções de
outros e interromper tantos projetos, porque há sempre alguém de férias. Não
sou contra as férias, são precisas e gosto de as sentir, mas o corte na vida da
cidade é demasiado para o meu ritmo cardíaco. Diria que até sofro com isso.
Esta semana espero que a cidade volte à normalidade. Que as
ruas voltem a estar repletas de crianças e que o eco das suas vozes se solte
pelas pedras das calçadas, mesmo que desafinado. Que os pais voltem à rotina
para libertarem as crianças de um certo massacre de férias, umas que pecaram
pelo excesso de hábitos pouco recomendados, enquanto outras de dias tomados
pela praga dos ecrãs.
Precisamos de voltar a aprender, a educar, a trabalhar!
Precisamos de voltar a caminhar e sentir as pessoas do bairro, aquelas que
todos os dias estão no mesmo lugar. Que a cidade, neste novo setembro, esteja
mais amiga dos mais vulneráveis, das pessoas com mobilidade condicionada,
daqueles que não têm abrigo. Que as empresas iniciem os trabalhos com a energia
renovada. Mas que também tenham a sua componente social num mundo cada vez mais
assimétrico. A todos os meus leitores, um bom regresso a este setembro de
esperança.
Paula Teles – Jornal de Notícias – 03 setembro 2024
NISA: Conheça os poetas do Concelho (XVI) - António Borrego
SÓ QUERIAM VIVER
há crianças a chorar
há crianças a morrer
no mar...
o barco onde seguiam
era um "cavalo louco"
um monstro visível
que devora os náufragos
o "monstro da indiferença"
olharam a morte nos olhos
sucumbiram...sem resistência
navegavam em busca de vida
não chegaram à terra prometida
a morte...
não lhes declamou poemas
matou-as...apenas
não eram filhos de Jacob
nem Jubulon o marinheiro
os salvou
nas avenidas de luxo
continuam fechadas
as portas das embaixadas
dormem os diplomatas descansados
os profetas não falaram de Aylan
os "tolos" falam em contaminação
os religiosos buscam alivio
nas inúmeras "casas de Deus"
os refugiados não têm casa
na avenida escura
uma das prostitutas disse
coitadas das crianças
um travesti apoiou
e, foi para casa chorar
nessa noite...
já não conseguiu trabalhar
anda a morte no mar
espreita os mais frágeis
SÓ QUERIAM VIVER
A.B. 2015
3.9.24
Intervenção da Vereadora da CDU em ata da CMNisa censurada pela Presidente da Câmara Idalina Trindade
Hoje, dia 3 de setembro, no ponto 2 da Ordem de Trabalhos,
relativo à apreciação e votação de atas das reuniões anteriores, a Sra Presidente Idalina Trindade ORDENOU, com a
“concordância” do Vice-Presidente José Dinis
Serra e do Vereador José Leandro Semedo, que a intervenção da Vereadora
Fátima Dias, na ata nº 18, de 20 de agosto, em apreciação, fosse apagada.
A referida intervenção consta da foto apresentada, e aqui
fica, para que conste:
“(…) é importante que fique em ata, que enquanto os
Vereadores Manuel Bichardo e Fátima Dias
se dirigem ao executivo, os três estão distraídos com os seus telemóveis, não
dando atenção às questões que são colocadas, qualquer um dos três, Senhora
Presidente, Senhor Vice-presidente e Senhor Vereador Leandro Semedo, cada um
com o seu telemóvel, distraídos, completamente alheios àquilo que são as
questões que são apresentadas pelo Vereadores da oposição.”
Esta atitude da Presidente da Câmara, claramente
antidemocrática, mereceu da parte da vereadora da CDU Fátima Dias, a declaração de voto CONTRA a ata nº 18,
afirmando também, para que ficasse registado na ata de hoje, dia 3 de
setembro, que repudia de forma veemente
a atitude de prepotência da Presidente da Câmara, pois esta não pode silenciar
a divulgação do que se passa nas reuniões de câmara e não pode censurar o que fica ou não
registado, dito pelos vereadores da oposição.
Na sequência destas afirmações, a Vereadora Fátima Dias
voltou a ditar para ata a intervenção “censurada”.
Aguardemos os próximos desenvolvimentos…
Nisa, 03 de setembro de 2024
A Vereadora eleita pela Coligação Democrática Unitária
Fátima Dias
2.9.24
VEMOS, OUVIMOS E LEMOS - Luta de Classes, texto de José Luís Peixoto
Admiro o povo ao qual pertenço. Não o povo
mitificado, admiro o povo quotidiano. Gosto de ir a feiras. Gosto de comer
frango assado com as mãos. Devo tanto à cultura deste povo como devo a
Dostoievski
Não contem comigo para defender o elitismo
cultural. Pelo contrário, contem comigo para rebentar cada detalhe do seu
preconceito.
A cultura é usada como símbolo de status por
alguns, alfinete de lapela, botão de punho. A raridade é condição indispensável
desse exibicionismo. Só pertencendo a poucos se pode ostentar como
diferenciadora. Essa coleção de símbolos é descrita com pronúncia mais ou menos
afetada e tem o objetivo de definir socialmente quem a enumera.
Para esses indivíduos raros, a cultura é
caracterizada por aqueles que a consomem. Assim, convém não haver misturas.
Conheço melhor o mundo da leitura, por isso, tomo-o como exemplo: se, no início
da madrugada, uma dessas mulheres que acorda cedo e faz limpeza em escritórios
for vista a ler um determinado livro nos transportes públicos, os snobs que
assistam a essa imagem são capazes de enjeitá-lo na hora. Começarão a definir
essa obra como "leitura de empregadas de limpeza" (com muita
probabilidade utilizarão um sinónimo mais depreciativo para descrevê-las).
Este exemplo aplica-se em qualquer outra área
cultural que possa chegar a muita gente: música, cinema, televisão, etc. Aquilo
que mais surpreende é que estes "argumentos", esta forma de falar e
de pensar seja utilizada em meios supostamente culturais por indivíduos supostamente
cultos, e só em escassas ocasiões é denunciada como discriminadora do ponto de
vista sexual ou social.
Isso são livros de gaja, dizem eles. Às vezes,
para cúmulo, há mesmo mulheres que dizem: isso são livros de gaja.
A raiz da minha cultura não pertence ao elitismo.
Tenho orgulho das minhas origens, do meu avô pastor, do meu pai carpinteiro,
como outros têm orgulho dos seus longos nomes compostos.
Depois de um trabalho que encerre convicções
profundas, que tenha em conta os princípios da sua área artística, que seja
consciente da história dessa área e que faça uma proposta coerente e inovadora,
acredito na divulgação o mais ampla possível.
Esconder uma obra em tiragens de 300 exemplares
não lhe acrescenta um grama de valor artístico. Quando essa falta de divulgação
resulta de uma escolha, pressupõe, quase sempre, falta de consideração pelo
público, a crença de que um público mais vasto seria incapaz de entender
tamanha sofisticação.
Acredito que a poesia pode ser publicada em
caixinhas de fósforos, escrita com trincha ou spray nas paredes, impressa em
t-shirts, afixada no facebook. Em qualquer um desses lugares, será diferente,
mas em todos continuará a ser poesia.
É ridícula a ideia de que a divulgação deturpa. A
banalização é sempre tarefa de quem banaliza e não do objeto banalizado. Quem
não for capaz de convocar os seus sentidos e a sua razão para apreciar uma
determinada obra, apenas por acreditar que se encontra muito difundida, tem
problemas graves ao nível do espírito crítico e da isenção mais básica. Esse é um
daqueles casos em que se aconselha a lavagem de olhos. É aí que reside a
deturpação.
Admiro o povo ao qual pertenço. Não o povo
mitificado, admiro o povo quotidiano. Gosto de ir a feiras. Gosto de comer
frango assado com as mãos. Devo tanto à cultura deste povo como devo a
Dostoievski Há alguns meses, a personagem de uma telenovela citou um poema
escrito por mim. Toda a gente da minha rua viu e ouviu. A minha mãe ficou
orgulhosa e eu também.
Chamo-me José ou, se preferirem, Zé. Desprezo o
elitismo. O verbo não é exagerado, adequa-se bem ao que sinto.
Hei de sempre divulgar o meu trabalho na máxima
dimensão das minhas capacidades. Devo esse esforço à convicção que tenho
naquilo que escolhi dizer. Fico feliz se vejo os meus livros disponíveis em
supermercados, estações de correios, bombas de gasolina ou bibliotecas
públicas.
Aquilo que faço não existe sozinho, precisa de
alguém que lhe dê sentido, o seu próprio sentido e interpretação pessoal. Se
uma árvore cair sozinha na floresta, sem ninguém por perto, será que faz
barulho? Por esse motivo, o esforço de divulgação é também uma mostra de
respeito para com essas pessoas, é um sinal da minha crença nelas e no seu
valor. Exatamente como estas palavras, que existem porque estás a lê-las.
Escrevo romances, a minha força de vontade é
enorme. Tenho 38 anos, conto estar por cá durante bastante tempo. Tenho ainda
muito por fazer. Habituem-se. Não tenho medo.
·
José Luís Peixoto,
Texto publicado na VISÃO 1052, de 2 de maio
/ Segunda feira, 6 de Maio de 2013 |
FOTO : 25 de Abril 1974 - Gérald Blouncourt
MEMÓRIA NISENSE: Crise de trabalho em 1913
Assistimos, nos nossos
dias, a um constante ataque a direitos humanos, entre os quais o direito ao
trabalho que, num país democrático, julgaríamos intocáveis e indestrutíveis e
que vão sendo aniquilados, em nome de chavões como “mercados”, “competitividade”,
“regularização das contas públicas” e outros, que fazem abater sobre a cabeça
das camadas mais frágeis da população – trabalhadores e desempregados – o
cutelo do desemprego, da miséria institucionalizada e do retrocesso
civilizacional.
Há mais de um século (1913) a
situação económica e social do país não era muito diferente. País agrícola,
Portugal enfrentava, regularmente, as contingências das condições climáticas e
outras. Em Nisa, a maioria da população, pós República vivia em extremas
condições de miséria. Abundavam os braços, rareavam as ofertas de trabalho, o
flagelo dos expostos não via solução e estávamos longe, muito longe, de
“sonhar” com os emissários do FMI e da alta finança mundial.
O presidente da Comissão
Administrativa da Câmara de Nisa, António Maria de Matos Cardoso, dirigiu-se,
em carta de 21 de Agosto de 1913, ao Ministro do Trabalho e da Previdência
Social, nestes termos:
Excelência
A Comissão Administrativa
do Município de Niza, vem perante Vossa Excelência, representar pedindo para
que consiga do Governo da República a imediata abertura de trabalhos públicos
que, de algum modo conjurar possam a angustiosa crise em que o operariado deste
concelho se debate.
O terrível anno que vai
correndo, tem sido sob o ponto de vista agrícola, verdadeiramente calamitoso.
Quando a poeira do tempo tiver embranquecido as cabeças dos rapazes d´hoje, hão
de eles recordar este fatídico 1913, como um pesadelo que lhes vincou na alma
uma inolvidável amargura.
As searas apresentaram-se
magnificas e assim se conservaram até que, os últimos dias de Maio, um fungo
“pucimia rubigovera”, as devastou.
Havia ainda a cultura do
milho. Uma última esperança bruxeleava!
Talvez, talvez que uma
pequena compensação trouxesse... também falhoi! Todos os sonhos de prosperidade
ruíram; e os agricultores sem dinheiro, perdida também a enorme energia reduzem
ao mínimo o serviço que é costume efectuar. D´hai a crise de trabalho, agravada
confrangedoramente pela carestia de vida.
E a semente do
sindicalismo, que no inverno passado foi lançada nos espíritos rudes dos
trabalhadores ruraes, lá vae germinando, mercê d´esta circunstancia que lhe é
imensamente favorável: a miséria.
A Comissão Administrativa
da minha presidência comprehende muito bem a impossibilidade de o Estado remediar
por completo esta situação. Mas pode atenuál-a. E uma das formas de o
conseguir, consistirá em abrir trabahos públicos.
No prosseguimento da
construcção da estrada do Tejo a Amieira, encontrariam muitos braços emprego
para a sua actividade, além de assim, se efectuar uma obra de incontestável
utilidade publica.
Nas mãos de Vossa
Excelência, depõe a Comissão Administrativa do Município de Niza, esta
representação, na antecipada certeza de que não encontraria quem melhor do que
Vossa Excelência faça triumphar a obra de justiça que n´ela se reclama.
Niza, 21 de Agosto de 1913
O Presidente da
Comissão: António Maria de Matos Cardoso