25.4.17

DEZ POEMAS PARA O 25 DE ABRIL (8)

FLOR DA LIBERDADE
Sombra dos mortos, maldição dos vivos.
Também nós... Também nós... E o sol recua.
Apenas o teu rosto continua
A sorrir como dantes,
Liberdade!
Liberdade do homem sobre a terra,
Ou debaixo da terra.
Liberdade!
O não inconformado que se diz
A Deus, à tirania, à eternidade.

Sepultos insepultos,
Vivos amortalhados,
Passados e presentes cidadãos:
Temos nas nossas mãos
O terrível poder de recusar!
E é essa flor que nunca desespera
No jardim da perpétua primavera.
Poema de Miguel Torga (in "Orfeu Rebelde", Coimbra: Edição do autor, 1958 – p.52-53; "Poesia Completa", Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000, 2.ª edição, 2002 – p. 560)
Neste aniversário (o quadragésimo terceiro) da eclosão da Revolução dos Cravos, que devolveu a Liberdade a Portugal, apresentamos o poema "Flor da Liberdade", de e por Miguel Torga. O texto veio a lume no ano de 1958, em plena autocracia salazarista, mas a mensagem não perdeu actualidade. Se "recusar", naquele tempo, significava contestar e resistir à opressão, hoje consiste em exercer plenamente a Liberdade. Deixar de exercê-la – por medo, comodismo ou apatia –, é abrir caminho ao despotismo de uns quantos sobre todos.