20.2.17

CULTURA: Recordar um ilustre nisense - Mestre Manuel Lima

Manuel Simões Freire de Figueiredo Lima, filho de Bernardo Velez de Lima e Maria Velez de Lima, nasceu em Nisa a 10 de Junho de 1911 e faleceu em Lisboa em 1991. É das personalidades nascidas na Corte das Areias, porventura uma das menos conhecidas entre os seus conterrâneos. Manuel Lima desde tenra idade evidenciou particular vocação para as artes plásticas e foi nela que se distinguiu durante a sua vida. Sobre ele escreveu Mário Elias (alentejano de Mértola), pintor e seu amigo pessoal, um texto publicado em 1998 no “Jornal de Nisa, em que referia que “Manuel de Lima era um pintor probo, dotado de um estilo vigoroso e pessoal”, naquela que é, possivelmente, a única referência publicada no periodismo nisense no século XX, à figura e obra de Manuel Lima.
Vinte e cinco anos passados sobre o seu falecimento, urge conhecer e
divulgar a obra deste ilustre cidadão na terra que o viu nascer. A biografia de Manuel Lima que a revista “Nisa Viva” reproduz e dá a a conhecer aos leitores, foi publicada pela sua neta Maria Inês Gonçalves, na página oficial que o pintor tem na rede social Facebook, na Internet.
Biografia
«Manuel Lima nasce em Niza, Alentejo, a 10 de Junho de 1911. Evidencia, ainda criança, talento para as Artes Plásticas. Frequenta, em Coimbra, o liceu. Cursa, mais tarde, a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde teve por mestres, Simões de Almeida (sobrinho), Luciano Freire, Veloso Salgado, Henrique Franco e Varela Aldemira. Termina o Curso Superior de Pintura com a classificação de 18 valores.
Obtivera, muito jovem, (1926) o primeiro prémio, num concurso a nível nacional, para um cartaz. Era o precedente de muitos outros: Prémio “Miguel  ngelo Lupi”; “Medalha de Prata” da Sociedade Nacional de Belas Artes, “Prémio Gustavo Cordeiro Ramos” (1983) - atribuído também pela Sociedade Nacional de Belas Artes—com o quadro “Mercador de Ilusões”; “Prémio Correio da Manhã” (1984), com o quadro “Maternidade”.
Marcou presença em exposições colectivas. Entre outras, no Salão Bobone, em Lisboa (1931/32); na Galeria Espaço, no conselho de Évora (1932); numa outra exposição de Arte, em Lisboa (1935); na Missão Estética de Férias, em Tomar (1937); em mais outra exposição no Mosteiro dos Jerónimos, da qual foi o organizador (1979); na Galeria de S. Francisco (1981/84); no Palácio dos Coruchéus (1980/86); na Galeria d’Arte do Casino do Estoril (1990); na Maternidade Alfredo da Costa (1991).
Em 1932 começou a expor—e continuará a fazê-lo regularmente durante o espaço de 20 anos ou mais—com o “Grupo de Artistas Portugueses”.
Participara, a convite de José Tagarro, no “Salão dos Independentes”, organizado por aquelo Pintor. Muito mais recentemente, em 1992, participa na Primeira Exposição de Artistas Alentejanos, realizada na Câmara Municipal de S. Tiago de Cacém.
Está representado no Museu de Arte Contemporânea e muitas das suas obras encontram-se incluídas em colecções particulares, quer no País, quer no Estrangeiro, sobretudo Espanha, França, Alemanha e Brasil.
Individualmente, expôs na Galeria do Diário de Notícias em 1983 e, no mesmo ano, na Galeria Teoartes de Évora; na Casa de Cultura D. Pedro V, (Mafra), em 1990.
Trabalhou com o Pintor António Soares nos painéis do Palácio da Assembleia da República; colaborou na Exposição do Mundo Português em 1940, sendo da sua autoria os arranjos decorativos e pinturas murais das salas “Oceania”, “Documentos” e “Ordens Militares”; apresentou na Exposição Histórica da Ocupação o painel “Os Navegadores”; integrou a equipa dirigida pelo arquitecto Miguel Jacobetty no Estádio Nacional.
Em 1931, convidam-no a prestar ao Teatro a Contribuição dos seus dotes artísticos como cenógrafo e nessa actividade se mantém dedicadamente por largos anos.
Das numerosas maquetes e cenografias que concebeu e realizou, cita-se: “L’Alouette”; de Jean Anouilh; “As mãos de Euridice”, de Pedro Bloch, com Rudolfo Mayer no protagonista; “Seis Personagens à procura dum Autor”, de Pirandello, encenada por Redondo Júnior; “Está lá fora um inspector”, de Priestley, com João Vilaret; “O Mar”, de Miguel Torga, pelo Teatro Experimental do Porto, sob a direcção de António Pedro; “Ana Cristina”, adaptação de Henrique Galvão, da obra de Eugénio O’Neil; “Bailados e Cantares de Portugal”, de Fernando Lima e Águeda Sena.
Colaborou, como director de montagem, em várias revistas e operetas.
A partir de 1941 estende ao Cinema o seu contributo artístico, como maquetista, decorador e cenógrafo, nomeadamente dos filmes: “Camões”, de Leitão de Barros; “O Desterrado”, de Manuel Guimarães; “O Último Crime de João Bolandas”, do romance de Domingues Monteiro, produção de Bourdin de Macedo e realização de Jorge Brun do Canto; “Vidas sem Rumo”, realizado por Manuel Guimarães sobre argumento de Alves Redol e Guimarães.
Em 1952 vai para o Brasil, expressamente contratado como cenógrafo de teatro, cinema e televisão, mas, apesar das óptimas condições que ali desfruta, regressa, impelido pela saudade, em 1956.
Fez parte, como maquetista e ilustrador, das Redacções do Jornal dirigido por Augusto de Castro, “Anoite”, e do semanário orientado por Artur Portela, “Mundo Gráfico". Entre 1965 e 1981 dedica-se especialmente à pintura mural, à tapeçaria e à cerâmica, executando trabalhos para o Palácio da Justiça de Almada, Igreja de Alcoentre, Palácio da Justiça de Alcácer do Sal, Hospital de Portalegre, Câmara Municipal de Miranda do Douro e Capela do Hospital Egas Moniz em Lisboa.
A actividade docente - que já tinha exercido nas escolas secundárias “Afonso Domingos” e “António Arroio” - retoma-a, em 1956, como professor da Escola de Artes Decorativas António Arroio. Nesse mesmo ano presta provas públicas para provimento de um lugar de professor do 5º. Grupo da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, obtendo o título de Professor Agregado.
Em 1974 é nomeado professor efectivo de pintura, função que desempenha até atingir o limite de idade em 10 de Junho de 1981.
Pertence à Academia De Belas Artes. Continua sempre a trabalhar e a dar aulas particulares no seu atelier no Palácio dos Coruchéus em Lisboa.
Após a morte do Pintor, ocorrida em 1991, a família de Mestre Manuel Lima propõe-se efetuar uma série de exposições com obras do Artista. Duas dessas exposições já foram realizadas em 1992. Uma, no Padrão dos Descobrimentos sob o patrocínio da Câmara Municipal.»
Maria Inês Gomes Gonçalves (neta de Manuel Lima)
Trabalho de José Manuel Lopes inserido na edição nº 29 da "Nisa Viva"