9.4.14

OPINIÃO: Da guerra, dos combatentes e do esquecimento


Há 50 anos, ainda adolescente, olhava com curiosidade e alguma estranheza, para os homens que se reuniam, periodicamente, e celebravam (ou reviviam) as memórias da 1ª Grande Guerra de 1914 a 1918.
Uma das datas em que se reuniam e recordo com maior clareza era a de 9 de Abril, na qual havia sempre uma romagem ao ossário (monumento funerário) dos combatentes da Grande Guerra, promovida pelo senhor João Cabim, avô do actual presidente da Junta da União das Juntas de Freguesia de Nisa e S. Simão, João Cabim Malpique Rufino.
Os ex-combatentes do concelho de Nisa naquele primeiro grande confronto bélico, dispunham de uma filial da Liga do Combatentes, na travessa Marechal Gomes da Costa, junto à ourivesaria Pina, uma casa pequena, ainda assim suficiente para poderem reunir-se e desenvolver algumas actividades, iniciativas que os jovens e menos jovens de hoje rotulariam, certamente, como saudosistas e outros epípetos.
O que não seria (nem será) de estranhar se nos lembrarmos que, entrementes, este país que se chama Portugal, onde nascemos e vivemos, participou com milhares de jovens na denominada Guerra do Ultramar, em quatro frentes militares ou operacionais (Índia, Moçambique, Angola e Guiné) de 1961 a 1974, guerra de que nos libertámos há 40 anos com a Revolução do 25 de Abril.
Se, no primeiro caso, a participação portuguesa foi desastrosa e desastrada, lembrando que só na Batalha de La Lys, na região da Flandres (Bélgica) entre 9 e 29 de Abril de 1918, as tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, perderam cerca de 7500 homens entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, ou seja, mais de um terço dos efectivos, no segundo, a Guerra Colonial deixou um cortejo infindável de mortos, feridos, estropiados, física e psicologicamente, cujas sequelas ainda hoje se fazem sentir de forma dramática.
Os combatentes da Grande Guerra têm, a lembrá-los, uma rua com o seu nome em Nisa, além do referido monumento funerário.
As centenas de ex-combatentes do concelho de Nisa que lutaram na Guerra Colonial, pelo “dever de servir a Pátria”, dos quais dezanove tombaram em terras africanas no cumprimento desse mesmo dever, mais do que a homenagem e reconhecimento, público, em forma de monumento e na toponímia da vila, de que são merecedores, gostariam que essa página da nossa história recente não fosse, pura e simplesmente, rasgada e escondida da memória das actuais e futuras gerações.
Os poderes públicos locais – Câmara e Juntas de Freguesia – bem como as escolas, têm essa dívida de gratidão e reconhecimento, por saldar.
E, reconhecer esse facto, quando se completam 100 anos sobre o início da 1ª Grande Guerra e 40 anos sobre o final da “Guerra do Ultramar” é, não só um imperativo de consciência como um dever indeclinável que urge resolver.
Para que os ex-combatentes e famílias possam dizer, orgulhosamente - quando falarem nos seus entes queridos – que, mesmo vítimas de uma guerra injusta (e todas as guerras são injustas, pelo sofrimento que provocam) o seu exemplo não foi esquecido.
Mário Mendes